Agestão das empresas tem sido, até hoje, influenciada pelos princípios de gestão criados na Segunda Revolução Industrial. Princípios baseados na produção em massa, que se alavancavam graças ao conceito de divisão de tarefas e ao uso da energia elétrica, implantados em 1870. Desde essa altura as regras de funcionamento das empresas (com normais ajustes) não sofreram grandes questionamentos nem alterações. Por dois séculos a gestão tem sido baseada na hierarquia de decisões e funções, com elevado foco na cadeia de valor e atenção máxima ao produto, numa clara visão construída “de dentro para fora”. Apesar das diferentes mudanças que o mundo tem vivido, nomeadamente no início do século XXI, as empresas têm resistido a alterar o seu modo de atuar e de pensar.
Nomeada em 2016 pelo World Economic Forum, a Quarta Revolução Industrial chegou para mudar tudo. Baseada no uso de sistemas físico-cibernéticos, dando início à era da indústria conectada e das fábricas inteligentes, esta nova realidade tem-se expandindo e alargado na sociedade e no mundo com a crescente influência da tecnologia e da conectividade. Este fenômeno tem alterado o comportamento dos consumidores e a dinâmica dos mercados. Empresas ditas tradicionais têm perdido terreno para novos entrantes, que têm vindo a alterar o modus operandi da gestão e as dinâmicas dos negócios. O movimento startups e o clube dos unicórnios não param de crescer. Em maio de 2022, já são mais de mil unicórnios em todo o mundo, de acordo com o CB Insights. A sua imensa maioria com uma visão claramente de “fora para dentro”, atacando dores que até então nem sequer eram percebidas por empresas estabelecidas. É quase como se assumíssemos que “não importa o que a sua empresa faz, em algum lugar do planeta tem alguém preparando uma bala de prata para ela”, nas palavras de Luis Rasquilha (CEO da Inova Business School).
A evolução tecnológica, a mudança no comportamento do consumidor, a turbulência política e a incerteza econômica dos últimos anos reafirmaram aos gestores a importância da adaptabilidade – a capacidade de se mover rapidamente em direção a novas oportunidades e se ajustar a mercados voláteis e evitar complacências, sem prejudicar o negócio atual. A capacidade de uma empresa de executar simultaneamente a estratégia de hoje enquanto desenvolve a de amanhã surge do contexto atual da mudança, e para ter sucesso a longo prazo precisa dominar a adaptabilidade e o alinhamento – atributos definidos e conhecidos como ambidestria.
O termo “ambidestria”, que significa originalmente a capacidade de ser igualmente habilidoso com ambas as partes do corpo (ambidestro tem origem no latim ambi, que significa ambos, e dext, que significa certo), aterrissou na gestão há menos de duas décadas. Mais especificamente em 2004, em dois papers, sendo um deles do MIT Sloan Management Review (Building Ambidexterity Into an Organization, 2004), que apresentaram o termo e, consequentemente, o dilema de cuidar do negócio e da estrutura atuais e, ao mesmo tempo, olhar para negócios emergentes e estruturas futuras.
Como manter o negócio rentável e saudável hoje e, ao mesmo tempo, prepará-lo para o futuro? Os desafios de curto prazo existem e precisam de muita energia, mas o futuro exigirá novas estratégias e ações que precisam ser pensadas e planejadas hoje, sob pena de sermos pegos de surpresa por um novo paradigma que não nos permita, a tempo, preparar a organização e fazer o movimento.
Duas formas de ambidestria
A visão tradicional da ambidestria organizacional gira em torno de uma separação estrutural de iniciativas e atividades (ambidestria estrutural). A noção de ambidestria contextual, que se manifesta em um nível individual, representa um processo complementar.