Aedição 2023 do Family Business Index (Índice de Empresas Familiares), produzido pela EY e Universidade de St. Gallen, revela que as maiores empresas familiares estão crescendo mais rapidamente que a economia global. As 500 maiores geraram receita de US$ 8,02 trilhões (um aumento de 10% em relação a 2021) e empregaram 24,52 milhões de pessoas (alta de 1,4% em relação a 2021).
Já segundo o Fundo Monetário Internacional, a economia global cresceu 6% em 2021, com previsão de crescimento de 3,2% em 2022 e 2,7% em 2023. Isso significa que as empresas familiares têm crescido quase o dobro da taxa das economias avançadas e cerca de uma vez e meia a taxa dos mercados emergentes e das economias em desenvolvimento.
Ainda assim, existe um estigma, não sem total fundamento, de que questões pessoais afetam a objetividade da gestão corporativa. De fato, apenas 10% das empresas familiares em todo o mundo sobrevivem à quarta geração1.
A capacidade de adaptação e superação é o que garante a longevidade de qualquer organização, mas no caso das empresas familiares, alguns fatores comportamentais específicos podem tanto impulsionar como obstar a resiliência. Destaco alguns:
- Decisões emocionais: a lógica das empresas tradicionais é a de tomarem decisões com base em critérios racionais. Já nas familiares, o componente emocional é muito aparente, fato que não pode ser entendido como algo frequentemente negativo, pois a intuição de empreendedores ou os valores de uma família podem ser decisivos para o sucesso da empresa.
- Transferência de crises: é possível que haja problemas na empresa provenientes de crises familiares e vice-versa. Neste sentido, a separação da gestão da empresa dos comportamentos familiares tem de existir dentro dos limites de sucesso da família e da empresa.
- Dificuldades na descentralização: é muito comum identificarmos fundadores centralizadores, mas é preciso entender o contexto. No início do empreendimento, muitos fundadores não têm com quem compartilhar suas principais decisões, por não contarem, em alguns momentos, com pessoas qualificadas para tal situação. Passam anos decidindo sozinhos e, a cada ano de sucesso, têm um reforço para a centralização. A descentralização começa quando os fundadores sentem segurança em compartilhar suas decisões e percebem que chegou a hora de iniciarem a sucessão.
- Lealdade e dedicação como critérios de Recursos Humanos: é nítido que, em algumas empresas, o critério de competência fica em segundo lugar quando comparado aos critérios de confiança e apoio passados pelos funcionários ao fundador (segunda família). Este fato faz com que critérios como manutenção, promoção e remuneração de colaboradores possam ser reflexos de relacionamentos e não de critérios profissionais. Este quadro tem diminuído muito em razão da profissionalização das empresas, mas confiança mútua ainda é a característica mais frequente, que tanto pode ser fator de sucesso para o futuro, como motivo de fracasso.
- Dificuldade em separar a família da empresa: é importante refletir sobre qual o motivo de se escolher o gestor sucessor dentro do grupo de herdeiros e não um profissional qualificado. Como os conflitos da família poderiam interferir nos relacionamentos societários?
- Perfil do sucedido = perfil do sucessor: é muito comum que os fundadores escolham, para o cargo de dirigente, o herdeiro mais parecido com o sucedido em termos de gestão, visando a manutenção do sucesso. Pode também ser um grande erro, pois o estilo de gestão do fundador pode ter sido muito adequado até aquele momento, mas no futuro talvez seja necessário um outro estilo de liderança.
Em resumo, tendemos a associar determinadas características ao sucesso ou fracasso, mas não há características puramente negativas ou positivas. O importante é aprender a lidar com elas de forma produtiva e aprimorá-las tempestivamente, em linha com a estratégia.
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