Os objetivos de crescimento econômico, cada vez mais ligados a soluções baseadas na natureza, e a busca por segurança energética devem impulsionar as políticas climáticas dos países, estimulando o investimento na economia verde e ampliando a velocidade das regulamentações de sustentabilidade. Essa constatação faz parte do estudo “2024 Geostrategic Outlook”, elaborado pela EY. Os governos devem aumentar, ao longo deste ano, os incentivos financeiros para adoção da tecnologia verde pelas indústrias, enquanto promovem iniciativas voltadas para a descarbonização.
As empresas, especialmente aquelas que investem de forma significativa em pesquisa e desenvolvimento, podem ter a oportunidade de acessar mais fundos públicos de incentivo ao investimento em tecnologia verde. Há, ainda, a possibilidade de obter capital a custos mais baixos para investimentos verdes, já que muitos investidores consideram menor o risco desses ativos a longo prazo. Por fim, programas de requalificação patrocinados pelo governo para estudantes e profissionais podem ajudar as empresas a preencher a atual lacuna no mercado de trabalho em termos de competências verdes.
A China, por exemplo, planeja instalar neste ano 200 GW de energia renovável e começar a distribuir US$ 72 bilhões em incentivos fiscais para aumentar a demanda por veículos elétricos. Os Estados Unidos continuarão implementando o Inflation Reduction Act, de 2022, fornecendo subsídios verdes tecnológicos e créditos fiscais. A União Europeia mobilizará US$ 380 bilhões até 2030 por meio do Green Deal Industrial Plan. E os governos de outras grandes economias, como Brasil, Austrália e Emirados Árabes Unidos, continuarão investindo em energias renováveis.
Há, no entanto, iniciativas que podem retardar as regulamentações de sustentabilidade para satisfazer objetivos econômicos de curto prazo e atrair parte dos eleitores. A UE vai reduzir os requisitos de divulgação do Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), que entra em vigor neste mês, além de flexibilizar a proibição prevista para 2035 do uso de motores de combustão em carros e vans. A Indonésia e o Japão, por sua vez, estão adiando os tributos relacionados à emissão de carbono até 2025. Por outro lado, a expectativa é que a Securities and Exchange Commission (SEC) dos EUA, equivalente à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), lance suas regras de divulgação climática.
Ainda segundo o estudo da EY, os grandes mercados emergentes vão introduzir ou expandir suas políticas de preço de carbono para financiar suas próprias transições verdes e garantir a competitividade das suas exportações nos mercados ocidentais. Por fim, ainda como parte do cenário em 2024, as tensões geopolíticas podem continuar crescendo entre, de um lado, os países que buscam maior financiamento climático e, de outro, aqueles considerados um obstáculo a essa agenda. Questões como essa vão permear a próxima COP, de número 29, que será realizada no Azerbaijão, em Baku.
Natureza como aliada do negócio
As empresas e os governos têm uma série de desafios para desenvolver soluções voltadas para a criação de valor com a natureza. “O objetivo deve ser buscar desenvolvimento sustentável e impacto social positivo em direção à transição para uma economia de baixo carbono. Para isso, lançamos recentemente o EY Nature Hub, um projeto pioneiro que auxilia as empresas a criar essas soluções com foco em setores de difícil descarbonização, sistemas alimentares, biocombustíveis, infraestrutura, recursos naturais e sistemas de energia”, diz Ricardo Assumpção, CSO (Chief Sustainability Officer) da EY e líder de ESG e Sustentabilidade. “Além de projetos focados em mitigação, a iniciativa atua para desenvolver soluções de adaptação climática, um custo crescente e que vai impactar empresas nos próximos anos, bem como solucionar as principais dores de mercado, como riscos de cadeia de suprimentos, regulação, criação de valor com biomas e biodiversidade, combate ao desmatamento e instrumentos financeiros que possibilitem o desenvolvimento econômico com a floresta em pé”.
Nesse contexto, conforme o “2024 Geostrategic Outlook”, as empresas devem continuar a integrar sustentabilidade à estratégia de negócios e ao due diligence. Estar à frente dos movimentos globais regulatórios, satisfazendo a crescente demanda por sustentabilidade dos clientes, cidadãos e investidores, continuará trazendo bons frutos – 52% dos executivos entrevistados pelo estudo Sustainable Value, da EY, disseram que o valor financeiro das iniciativas de mudanças climáticas excedeu suas expectativas. Por fim, em relação à segurança energética, os executivos precisam considerar as questões geopolíticas nas suas estratégias verdes, a fim de mitigar os riscos de interrupção da cadeia de suprimentos e de elevação abrupta de custos.