Vista aérea de um navio de carga carregado
Vista aérea de um navio de carga carregado com pás de rotor para turbinas eólicas, tirada ao pôr do sol

Será que os ventos globais da mudança estão levando a energia eólica offshore para uma nova direção?

RECAI 62: Tempos turbulentos no setor eólico offshore podem mudar a forma como os projetos energéticos de grande escala serão construídos e financiados no futuro.

Este artigo é um resumo da 62ª edição do Índice de Atratividade de Países em Energias Renováveis (RECAI).

Faça o download do relatório completo (em inglês).


Em resumo

  • Após anos de sucesso, a energia eólica offshore encontra-se numa encruzilhada no seu desenvolvimento, à medida que os custos crescentes e os problemas da cadeia de valor obrigam seus desenvolvedores a reavaliar os projetos.
  • Os resultados surpreendentes dos recentes leilões de contratos em todo o mundo sugerem que outros fatores distintos de preço devem ser considerados na avaliação das propostas.
  • Os governos devem assegurar um fluxo regular de novos projetos e ajustar os subsídios e orçamentos às mudanças do mercado, para que os desenvolvedores obtenham um retorno razoável do investimento.

Oprimeiro balanço global da ação e do apoio climático será concluído na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP 28), nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro.

O processo quinquenal permitirá que os mercados e os stakeholders observem, coletivamente, sob que aspectos estão avançando, ou não, em direção aos objetivos traçados no Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas. No entanto, não se trata apenas de um check-up de rotina; o balanço deve ser tratado como um “momento para correção de rumo”, afirma o Secretário Executivo da ONU para as Alterações Climáticas, Simon Stiell – uma oportunidade para aumentar as nossas ambições nesse sentido.1

Ambições como a vislumbrada pela campanha 3xRenewables, liderada pela Global Renewables Alliance (GRA) e da qual a EY é signatária. Essa campanha insta os líderes globais a triplicarem a capacidade mundial de energia renovável para 11.000 GW até 2030.

As tecnologias que poderão alcançar esse crescimento também serão discutidas na COP28 e, nesta edição do RECAI, faremos um exame detalhado na energia eólica offshore - que pode ter atingido o seu próprio “momento de correção de curso”.

Muitas vezes citada como a coisa mais próxima que temos atualmente de forma sustentável de geração de energia de base, a energia eólica offshore será essencial para a descarbonização global, mas tem passado por 12 meses difíceis.

Leia no RECAI 62:

  1. Análise: As realidades econômicas podem trazer mudanças na direção dos ventos
  2. Principais desdobramentos: Destaques das energias renováveis de todo o mundo
  3. Índice normalizado: apresentação de mercados com desempenho acima das expectativas para seu porte econômico
  4. Um quadro global misto continua para os PPAs corporativos
1

Chapter 1

Analysis: Economic realities may bring change in wind direction

A different approach is needed if offshore is to play its role in decarbonizing the world.

O setor eólico offshore está em um ponto crucial de seu desenvolvimento global, e a mudança está no ar. Considerado um grande sucesso nos últimos 30 anos, o setor está enfrentando agora seu maior desafio.

Os problemas da cadeia de suprimentos resultaram em um aumento de 39% nos custos de projetos globais desde 2019.2 Esquemas em estágio final de desenvolvimento estão sendo adiados, ou até mesmo cancelados, por desenvolvedores que dizem que o aumento dos custos de equipamentos e construção significa que eles não podem mais obter retorno sobre o investimento. Na próxima década, a inflação de custos poderia acrescentar cerca de US$ 280 bilhões em despesas de capital para o setor eólico offshore (excluindo a China).3

O esforço constante para tornar as turbinas mais baratas e maiores significa que a cadeia de suprimentos não tem tempo para recuperar os custos de P&D antes que haja mais demanda. Isso aumenta o custo de pesquisa e desenvolvimento, mão de obra e embarcações, além de introduzir risco e volatilidade no setor. Isso foi agravado por desequilíbrios na cadeia de suprimentos devido à pandemia da COVID-19 e à guerra na Ucrânia, e criou incertezas quanto à economia dos projetos.

Essa incerteza se refletiu nos recentes leilões de energia sustentável. A quinta rodada de alocação do Reino Unido em setembro — usando um modelo de contrato por diferença (CfD) para acordar o preço de venda da eletricidade — não conseguiu atrair um único proponente para a energia eólica offshore. O "preço de exercício" estabelecido pelo governo do Reino Unido não foi suficiente para atrair os desenvolvedores a fazer ofertas.4

Alguns leilões de áreas de arrendamento nos EUA também perderam o fôlego. Os leilões na costa leste atraíram preços recordes em fevereiro de 2022, mas os leilões mais recentes no Golfo do México atraíram níveis muito baixos de interesse dos desenvolvedores.5

No entanto, o setor não está quebrado. Os primeiros leilões dinâmicos de energia eólica offshore da Alemanha, em julho — para os direitos de construção, usando o formato "compre agora, pague depois" — atraíram lances no total de € 12,6 bilhões (US$ 13,46 bilhões) para projetos no Mar do Norte e no Mar Báltico. Outros mercados também concluíram com sucesso licitações de energia eólica offshore a preços razoáveis, incluindo a Irlanda, a Holanda e a Lituânia.

Estes resultados contrastantes dos leilões refletem a atual turbulência vivenciada pelo setor, e está ficando cada vez mais claro que outros fatores, além de preço, tenham de ser considerados na próxima fase da energia eólica offshore.


O desafio – pelo menos até 2035 – será garantir uma quantidade suficiente de materiais e metais essenciais para a fabricação de turbinas. Existe aqui um alto risco de interrupção do fornecimento.


“Precisamos reconhecer que a energia eólica offshore atingiu seu estágio de amadurecimento”, declara Andrew Perkins, sócio de Corporate Finance da Ernst & Young LLP. “Os licitantes precisam ser avaliados em termos de risco de entrega, plano de negócios, contratos da cadeia de valoro e balanços patrimoniais.”

O setor atingiu este ponto de inflexão no momento em que a emergência climática exige um aumento urgente do investimento para garantir que as metas globais de emissões líquidas zero sejam cumpridas. Para atingir as previsões para 2030, será necessário instalar anualmente uma capacidade média de 35 GW em todo o mundo; Até agora, foram adicionados menos de 9 GW de nova energia eólica offshore em 2023. 

Não resta dúvida de que a energia eólica offshore exerce um papel importante na descarbonização do mundo e no fornecimento de eletricidade mais barata e mais ecológica. Também contribuirá para a evolução do segmento de aquecimento, produção de hidrogênio verde e mobilidade elétrica (e-Mobility). Mas tudo isto dependerá de o setor garantir materiais e metais essenciais para a fabricação de turbinas, que correm alto risco de interrupção de fornecimento.


Os governos precisam adaptar-se para apoiar esta nova fase mais volátil e garantir um fluxo regular de novos projetos para o mercado. Precisam ainda reagir rapidamente às mudanças do mercado, ajustando subsídios e orçamentos para que os desenvolvedores possam apresentar propostas.


É provável que os gargalos no fornecimento de turbinas e componentes apareçam já em 2025, em decorrência do impacto da Lei de Redução da Inflação (IRA) dos EUA, do aumento das ambições na Europa nesse sentido, da rápida e contínua expansão na China e dos grandes mercados em desenvolvimento que aceleram a sua implantação de fontes renováveis de energia. Existe também a preocupação de que, se a cadeia de valor só for construída para satisfazer o pico da demanda por instalações em 2030, não haverá demanda suficiente para sustentá-la depois de 2030.7

Os governos precisam assegurar um fluxo regular de novos projetos e ajustar rapidamente os subsídios e os orçamentos às mudanças do mercado, de modo a mitigar os riscos sobre os quais os desenvolvedores têm pouco ou nenhum controle e para garantir que os desenvolvedores possam esperar, de forma realista, um retorno razoável dos seus investimentos. Devem ainda encontrar formas de simplificar e acelerar o processo de autorização, para reduzir a exposição ao risco entre a concessão de uma compra e a decisão final de investimento.

Como afirma Kinga Charpentier, co-líder da equipe da EY Nordics Renewables: “Estamos diante de uma nova realidade agora. As previsões precisam ser ajustadas para que os investidores possam obter um retorno razoável. Trata-se de um ajuste que vai acontecer, porque as pessoas ainda precisarão mobilizar capital; contudo, pode levar alguns anos para o mercado se reajustar.”

As perspectivas de longo prazo para o setor são “muito positivas”. A energia renovável tem uma jornada de crescimento incrível pela frente para cumprir as metas de descarbonização, e a energia eólica offshore desempenhará um papel muito importante nesse sentido.

Poderá haver algumas baixas durante este período, à medida que o setor continua a amadurecer, mas as ineficiências serão eliminadas e nova concorrência entrará no espaço eólico offshore.

Jonathan Cole, CEO da Corio Generation, desenvolvedora especializada em energia eólica offshore, acredita que as perspectivas de longo prazo para o setor são “muito positivas”. “A energia renovável tem uma jornada de crescimento incrível pela frente para cumprir as metas de descarbonização”, acrescenta, “e a energia eólica offshore exercerá um papel muito importante nesse sentido”.

A energia eólica offshore está em processo de amadurecimento e se os profissionais do setor puderem modular o ritmo do progresso tecnológico para tirar proveito das economias de escala, pensar em valor em vez de custo e, o que é crucial, vincular a política energética à industrial, o setor — e o planeta — serão beneficiados a longo prazo.


Será que os ventos globais da mudança estão levando a energia eólica offshore para uma nova direção?



2

Chapter 2

Key developments: renewables highlights from around the world

Australia to build one of the world’s largest batteries, and Poland gets its first offshore project.

Apesar das dificuldades atuais da energia eólica offshore, ainda existem verdadeiros campeões no setor neste momento – como revela a classificação RECAI 62. Eles incluem a Irlanda (subiu uma posição, para 12o.), que concedeu mais de 3 GW em seu leilão realizado em junho de 2023, e a Suécia (subiu três posições, para 17o.), que aprovou este ano dois parques eólicos offshore na costa oeste.

Em outras posições do ranking, a Dinamarca (9o.) e a Noruega (26o.) galgaram duas e cinco posições, respectivamente, em forte desempenho verificado nos mercados nórdicos, enquanto os três primeiros lugares permanecem inalterados, com os EUA, a Alemanha e a China na liderança.


Baixe o RECAI top 40 ranking (pdf) para detalhes sobre pontuações específicas de tecnologia, e veja a metodologia para detalhes sobre como o ranking e as pontuações são determinados.


3

Chapter 3

Normalized index

Showcasing markets performing above expectations for their economic size.

O RECAI utiliza vários critérios para comparar a atratividade dos mercados de energias renováveis, tais como a magnitude do pipeline de desenvolvimento, que refletem a dimensão absoluta da oportunidade de investimento em energias renováveis. Assim, o índice beneficia naturalmente as grandes economias. Ao normalizar com o produto interno bruto (PIB), podemos ver quais mercados apresentam um desempenho acima das expectativas com relação à sua dimensão econômica. Desta forma, o índice normalizado ajuda a revelar planos ambiciosos nas economias de menor porte, criando algumas alternativas atraentes para potenciais investidores.

EY Recibo normalizado

Descubra mais

Para explorar o ranking dos 40 primeiros colocados normalizados e outros insights da RECAI

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Chapter 4

A mixed global picture continues for corporate PPAs

A calmer landscape may yet be ruffled by rising costs of generation and geopolitical unrest.

2023 tem sido um ano desafiador para os acordos de compra de energia (CAE), à medida que cada vez mais empresas visam novos negócios, enquanto a cadeia de valor, a rede e os atrasos nas licenças continuam a dificultar o progresso em muitos mercados.

Dito isto, na Europa, 7,1 GW de PPAs foram assinados até ao final de setembro (mais do que o total de 6,6 GW em 2022) e o recorde de 2021, totalizando 7,6 GW, deverá ser ultrapassado.8

Após os preços extremos e a volatilidade de 2022, os mercados atacadistas se acalmaram nos primeiros nove meses de 2023. Contudo, a turbulência verificada no Médio Oriente já começou a ter impacto nos mercados em nível mundial, por meio de maior volatilidade e aumento nos preços.

Felizmente, as elevadas taxas de inflação que afetavam muitos mercados de CAE têm diminuído nos últimos meses, ajudando os preços dos CAE a se estabilizar, ou mesmo a diminuir, em alguns mercados. Outros fatores que contribuem para essa movimentação na Europa compreendem a revisão da Diretiva Energias Renováveis (REDIII), que visa atingir 42,5% de energias renováveis para todo o consumo de energia da UE até 2030, e a aceleração do processo de concessão de licenças.

As maiores tensões no mercado de PPA empresariais, no entanto, advêm do aumento dos custos de produção e da redução dos mercados atacadistas a longo prazo, resultando numa faixa de preços mais restritiva, em que os acordos de PPA funcionam tanto para o retorno dos desenvolvedores como para a economia das empresas.

Índice EY recai global ppa

O Índice de PPA corporativo da EY utiliza parâmetros-chave de quatro pilares para analisar e classificar o potencial de crescimento do mercado de PPA corporativo de um país. Para detalhes sobre dados e metodologia, baixe o EY Corporate PPA Index (pdf).


O RECAI é publicado semestralmente. Veja abaixo as edições recentes:

Sumário

A energia eólica offshore é essencial para descarbonizar a eletricidade no mundo, mas o aumento das taxas de juro e os desequilíbrios na cadeia de valor tiveram impacto nos dados econômicos de projetos em todo o mundo nos últimos 12 meses. Com a COP28 prestes a começar nos Emirados Árabes Unidos, os governos, desenvolvedores e investidores devem procurar formas de modular o ritmo dos avanços tecnológicos para tirar proveito das economias de escala e vincular a política energética à industrial, para benefício a longo prazo do setor — e, em última análise, do planeta.

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