Raio x da IA
No Brasil, nota-se que a inteligência artificial se encontra na fase experimental, mas é preciso reconhecer que há vários níveis de maturidade em seu uso pelas empresas, tanto do ponto de vista prático quanto teórico, no que tange ao conhecimento das lideranças das oportunidades e desafios envolvidos. Sobretudo, o EY Future Consumer Index 2023 revela que há espaço para transformar o entendimento que as empresas já têm sobre IA em ações práticas e relevantes.
As soluções tradicionais de Inteligência Artificial e Big Data foram responsáveis por grandes avanços em setores de grande interface com o consumidor final, auxiliando no gerenciamento de grandes volumes de dados e na tomada de decisão em áreas estratégicas como Supply Chain, Vendas e Marketing. Apesar da infinidade de possibilidades, tirar o melhor proveito da tecnologia não é um processo simples.
A implementação bem-sucedida da inteligência artificial, incluindo o modelo generativo, no ambiente empresarial depende de uma jornada de iniciativas que compreendem avaliações de naturezas variadas, definições de estrutura de dados e de governança das informações que treinam os modelos de machine learning. A qualidade do dado inserido é crucial para levar a descobertas coerentes e afastar as chamadas alucinações, que acontecem quando as máquinas erram na interpretação ou, até mesmo, inventam informações para preencher a lacuna de conhecimento.
Tão importante quanto identificar oportunidades de geração de negócios, ganhos de produtividade e otimização de custos, é adotar mecanismos de controle para que a inteligência artificial atue de forma ética nas organizações. Há um debate global em andamento sobre os cuidados de evitar a replicação de vieses e preconceitos e garantir o uso desta tecnologia para a sua finalidade adequada, que é potencializar as capacidades humanas e apoiar negócios na resolução de problemas, melhorando a sociedade como um todo.
Adoção estratégica de IA
Tendo em vista a familiaridade e o interesse do brasileiro pelo tema, o desafio para as empresas é dar os próximos passos e evoluir a fase de experimentação. A adoção estratégica da tecnologia é fundamental nesse processo. Separamos alguns exemplos que mostram como as organizações podem aplicar a inteligência artificial para endereçar os insights coletados no estudo EY Future Consumer Index.
Na busca pela personalização do cliente, a IA e o machine learning podem viabilizar a implementação de preços dinâmicos, permitindo que as empresas respondam em tempo real a mudanças nas condições de mercado, no comportamento do consumidor e nas variações de inventário. Essa estratégia apoia a maximização das vendas e dos lucros, ao mesmo tempo em que presta um serviço mais personalizado aos consumidores.
A realidade aumentada, considerada uma das soluções de IA mais confiáveis para o consumo personalizado pelos brasileiros, pode melhorar a experiência de compra por meio da visualização virtual de produtos no conforto de casa. Esse recurso pode abordar os desafios enfrentados pelos setores de vestuário e mobiliário, ampliando o nível de confiança do consumidor e incentivando compras mais significativas e recorrentes.
Naturalmente, o oferecimento de uma experiência de consumo online personalizada requer uma presença robusta no e-commerce, que é vital para capitalizar o crescimento das vendas nos canais digitais. As plataformas aprimoradas com IA também ajudam nesse sentido e podem fornecer recomendações personalizadas de produtos a fim de melhorar a experiência geral do usuário.
Além disso, como mencionado, o uso de chatbots mais inteligentes e responsivos pode trazer uma nova era na comunicação entre empresas e consumidores. Impulsionada pelos modelos de linguagem, como o GPT, a IA ajuda a responder instantaneamente às consultas realizadas online, a resolver problemas e fornecer recomendações personalizadas. São funcionalidades que contribuem para aumentar a satisfação do cliente e fazer com que os consumidores se sintam mais valorizados.
De olho nos anseios da sociedade, a análise de sentimentos é outra ferramenta valiosa proporcionada pela IA. Através dela, empresas podem monitorar as percepções dos consumidores em relação a vários tópicos, por exemplo a demanda por sustentabilidade para produtos e setores, sabendo que este é um dos principais critérios de compras para os próximos três anos. A partir de indicadores gerados pela tecnologia, as empresas têm condições de adaptar suas estratégias e atender às expectativas dos clientes.
Ainda neste campo de atuação, as tecnologias de IoT (Internet das Coisas) e IA podem ser empregadas para monitorar as condições climáticas e apoiar as lideranças em escolhas mais bem informadas e sustentáveis. Ao proporcionar uma melhor compreensão do impacto ambiental das operações da empresa, essas tecnologias permitem a adoção de medidas apropriadas para mitigar tais efeitos.
E tem mais. Em ambientes hostis que oferecem risco à segurança das pessoas, empresas podem fazer uso da visão computacional, baseada em algoritmos avançados de IA, para monitorar ambientes, detectar alterações e criar alertas sobre processos que estão prestes a falhar. Além de salvar vidas, o uso da tecnologia pode gerar economia de custos.
Na área de saúde, já há empresas utilizando algoritmos que preveem a probabilidade de cirurgias combinando dados históricos dos pacientes com análises preditivas. Com isso, é possível evitar a realização de operações resultantes de doenças que podem ser tratadas preventivamente, com ganhos tanto para as pessoas quanto para o sistema de saúde.
Outra aplicação valiosa é o uso do Blockchain para agregar transparência aos processos. A tecnologia, que permite o compartilhamento de informações de forma segura, pode ser utilizada para rastrear e registrar cada passo da cadeia de suprimentos, o que pode resultar em mais confiança dos consumidores. Afinal, é possível garantir a origem dos produtos e confiar que os padrões de sustentabilidade estão sendo cumpridos.
Esses exemplos da adoção estratégica da tecnologia não apenas respondem aos desafios levantados no estudo, mas também contribuem para o posicionamento adequado das empresas que visam aproveitar as oportunidades emergentes no cenário de negócios em rápida evolução.
Casos de sucesso
A EY desenvolve tecnologia para as maiores empresas do mundo e tem investido pesado em inteligência artificial para resolver desafios de negócios em setores variados, tendo colaborado para uma série de casos de sucesso tanto no âmbito financeiro quanto operacional.
Um exemplo é o trabalho realizado para uma companhia global do setor de eletrônicos com uma vasta rede logística. Havia desafios significativos na redução de perdas de itens prestes a vencer e na administração do desequilíbrio de estoque em seus centros de distribuição. A adoção estratégica de um sistema de otimização de inteligência artificial solucionou essas "dores" de forma precisa. Com a implementação do sistema, a empresa registrou uma redução substancial de perdas e otimizou a gestão de seu extenso inventário.
Em outro caso, uma empresa do setor médico-hospitalar nos EUA lidava com muitos pedidos e um inventário extenso que dificultava a otimização dos processos. A adoção de um modelo de otimização que sugere realocações dinâmicas de itens prestes a vencer rendeu uma economia significativa e resultou na melhoria da eficiência operacional do negócio. Isto permitiu à companhia gerir seu inventário de maneira mais eficaz, minimizando perdas e reduzindo custos.
Mais um caso de uso interessante foi o de uma empresa líder no mercado de mineração que desenvolveu um sistema baseado em inteligência artificial e análise de dados para prever com precisão a demanda futura de seus produtos. Este modelo proporcionou uma perspectiva detalhada e melhorou a capacidade de antecipação a possíveis variações na demanda. Como resultado, a companhia aprimorou seu processo de fabricação e sua estratégia de distribuição, passando a ter uma operação mais eficiente e lucrativa.
Autores:
Cristiane Amaral - Sócia-líder do segmento de Bens de Consumo e Varejo para a América Latina
Natália Sperati - Sócia de Consumer Products e Business Transformation da EY
Andrei Graça - Sócio-líder da EY para AI & Data
Colaboração:
Daniela Kurbhi - Gerente de Estratégia da EY-Parthenon
Gustavo Dopcke - Gerente de Technology Consulting da EY
Lucas Batalha - Sênior de Technology Consulting da EY