Parte 1
Líderes e retardatários: um benchmarking dentro de setores e mercados
Determinados mercados e setores registram avanços com os relatórios climáticos, enquanto outros ainda estão atrasados.
Numa tendência que reflete o Barômetro do ano passado, certos mercados e setores continuam a avançar com as suas divulgações relacionadas com o clima, enquanto outros trabalham para recuperar o atraso.
Do ponto de vista do mercado, o Japão, a Coreia do Sul, as Américas e a maior parte da Europa apresentam um forte desempenho e lideram o caminho em termos de qualidade das suas divulgações. Isso não causa surpresa, já que estes países e regiões podem recorrer a vários anos de divulgações obrigatórias do TCFD, que prepararam as empresas para os requisitos mais detalhados do ISSB.
Por outro lado, o Oriente Médio e o Sudeste Asiático melhoraram o seu desempenho em comparação com o ano passado e posicionaram-se para novos avanços, mas ainda estão em ritmo lento. Os governos têm a oportunidade de reforçar as suas exigências de divulgação climática para acelerar o progresso nesse sentido. Ao adotarem requisitos obrigatórios de divulgação climática, têm condições de potencialmente alterar as pontuações atualmente baixas em uma medida significativa.
Quanto aos setores, o relatório deste ano destaca mais uma vez que as empresas com maior exposição ao risco de transição tendem a apresentar pontuações mais elevadas nas suas divulgações, tanto em termos de qualidade como de cobertura. O setor de energia lidera o grupo em qualidade e cobertura, embora o seu desempenho de qualidade seja, em grande medida, igualado por instituições financeiras, como bolsas, outros prestadores de serviços financeiros, agências de classificação de risco e agências de crédito, cuja pontuação aumentou notavelmente ano após ano, de 46% para 54%. Na verdade, a qualidade melhorou em todos os aspectos, com as maiores mudanças observadas no setor imobiliário, mineração, agricultura e materiais e edificações, bem como nas instituições financeiras. A mudança nas pontuações provém dos stakeholders, tais como reguladores e investidores, incluindo instituições financeiras, que estão pressionando as empresas dos setores intensivos em termos de carbono para divulgarem os seus planos e avanços no tocante à descarbonização. Do ponto de vista das instituições financeiras, o financiamento impulsiona a maior parte dos seus negócios, e os investidores estão exercendo pressão para que as empresas reduzam suas linhas de crédito que acabam contribuindo para a carbonização.
A mudança nas pontuações provém dos stakeholders, tais como reguladores e investidores, incluindo instituições financeiras, que estão pressionando as empresas dos setores intensivos em termos de carbono para divulgarem os seus planos e avanços no tocante à descarbonização.
Juntamente com a melhoria na qualidade, houve também um aumento acentuado, ano após ano, na pontuação da cobertura da divulgação. A cobertura aumentou de 84% em 2022 para 90% em 2023. No entanto, subsistem algumas preocupações prementes, especialmente em torno da granularidade e da qualidade das divulgações, e se o ambiente regulamentar relativo às divulgações ainda está promovendo ações genuínas, que vão além da divulgação em si.
A pontuação média para a qualidade das divulgações de governança aumentou de 46% para 52% desde 2022 – em parte devido à pressão regulamentar – mas esse número ainda é muito baixo. O planejamento da transição também permanece irregular, com apenas pouco mais de metade (53%) das empresas fornecendo algum tipo de plano coerente. A pesquisa descobriu que as empresas ainda estão mais focadas nos riscos do que nas oportunidades quando se trata de divulgações climáticas. Embora 77% dos avaliados tenham realizado análises de risco, apenas 68% o fizeram com relação a oportunidades, uma ligeira melhoria em relação a 2022.
Parte 2
Estruturação do cenário de relatórios em um futuro próximo
Que elementos-chave terão impacto nas divulgações relacionadas com o clima nos próximos anos?
Além do desempenho de divulgação das empresas em relação às recomendações do TCFD, a pesquisa deste ano também incluiu três elementos principais que moldarão o cenário de relatórios para os próximos anos.
Preparação para o ISSB
Pela primeira vez, a pesquisa deste ano analisou a preparação das empresas para cumprir os requisitos da IFRS S2 Divulgações relacionadas com o clima. Essas descobertas se destacaram:
- No tocante à governança, as empresas estão adotando mais exigências de divulgação do ISSB e divulgando quais as habilidades e competências necessárias em nível de conselho/diretoria para supervisionar as estratégias relacionadas com o clima.
- Olhando para a estratégia, as empresas estão avançando no sentido de uma divulgação adicional em torno de cenários que incluam análises detalhadas e as suas contribuições. Além disso, as empresas começaram a incluir metas de redução de emissões da cadeia de valor nas suas metas globais de redução.
- Do ponto de vista de métricas e metas, as empresas estão avançando no sentido de divulgar suas emissões de Nível 3 para as categorias mais relevantes.
As empresas líderes normalmente analisam como o clima pode causar impactos em sua estratégia de negócios, em vez de usar estruturas de relatórios apenas para divulgação. As questões climáticas estão se tornando fundamentais para a estratégia de empresas de vanguarda, e as empresas que compreenderam os vínculos entre o risco climático e a sua estratégia de crescimento estão bem posicionadas para responder às novas exigências da IFRS S2. Exemplos de empresas pioneiras que utilizam divulgações climáticas para impulsionar a estratégia podem ser encontrados no relatório completo (pdf).
Planejamento de transição
Embora ainda seja preciso um maior envolvimento com as divulgações de sustentabilidade, as empresas enfrentam agora um grande desafio: conceber e implementar um plano de transição eficaz que considere cenários do mundo real e comprometa recursos reais para os esforços necessários.
No entanto, o Barômetro mostra que apenas 53% das empresas pesquisadas estão divulgando algum tipo de plano de transição. Este número deveria ser significativamente mais elevado, uma vez que uma estratégia de transição bem estruturada ajuda as empresas a permanecerem alinhadas ou à frente dos objetivos políticos relevantes para a organização.
Apenas
53%das empresas pesquisadas estão divulgando algum tipo de plano de transição
Reflexo do risco climático nas demonstrações financeiras
As empresas enfrentam procura mais elevada por um maior escopo e grau de detalhamento nas suas divulgações relacionadas com o clima. Portanto, a questão mais premente para essas empresas nos próximos anos estará concentrada, inevitavelmente, na forma como os seus riscos e respostas estratégicas se refletem nas suas demonstrações financeiras. O 2023 Barometer (pdf) mostra que pouco mais de um quarto das empresas (26%) estão incluindo os impactos quantitativos dos riscos relacionados com o clima nas suas demonstrações financeiras – o que reflete uma tendência geral de a estratégia climática e a gestão do risco permanecerem, em grande medida, segregadas da apresentação de relatórios corporativos. Isso deve tornar-se um ponto de tensão, uma vez que refletir o risco climático nos relatórios não deve consitituir mera tarefa de preenchimento de formulários, mas sim um esforço abrangente e prospectivo para compreender o impacto financeiro previsto. Assim, isso deve ser avaliado no contexto da cadeia de valor da empresa e da dinâmica mais ampla do mercado.
Parte 3
O caminho a seguir: aceleração do ritmo
Embora o nível de divulgação de relatórios esteja caminhando na direção certa, falta ainda ritmo e intensidade.
O quadro geral traçado pelo Barômetro Global de Riscos Climáticos da EY deverá soar o alarme. Os grandes aumentos anuais em determinadas estatísticas são, com razão, motivo de comemoração, mas para muitos setores e regiões geográficas a melhoria parte de uma base baixa e os avanços são demasiado lentos.
O relatório identifica três ações que as empresas devem realizar cm urgência:
- Mudar a mentalidade de ônus para ações: As empresas “pioneiras” utilizam a divulgação para promover comportamentos, em vez de tratar essa divulgação como um ônus em termos de conformidade. Dados detalhados, coerentes e mensuráveis nas divulgações são normalmente acompanhados pelo rigor e energia em torno da estratégia e da ação.
- Domine os dados para que atendam à sua agenda de descarbonização: Utilize dados para promover ações e reduzir emissões. Implemente estruturas de governança para aproveitar e gerir os dados de forma que estejam sempre integrados na gestão de riscos estratégicos e operacionais.
- Eleve o nível em que a discussão é promovida para gerar impacto: Para que a estratégia global de negócios seja verdadeiramente municiada, aborde os dados climáticos e os impactos relacionados no nível do conselho de administração. Isso, por sua vez, permite que os líderes adotem uma abordagem holística que engloba operações, pessoas, cadeia de valor e tecnologia.
Resumo
Atualmente em seu quinto ano, o Barômetro Global de Riscos Climáticos da EY é uma referência estabelecida que avalia os avanços alcançados tanto na cobertura como na qualidade das divulgações relacionadas com o clima em nível global. Examina mais de 1.500 empresas em todo o mundo para avaliar o desempenho da divulgação em relação às 11 recomendações do TCFD. A análise mede as empresas quanto ao número de divulgações recomendadas que fazem (cobertura) e à extensão e detalhe de cada divulgação (qualidade).