Estudo produzido pela EY traz os principais desafios que o Agro deve
superar para manter o crescimento dos últimos anos, principalmente no
Brasil, Argentina e Chile.
Brasil, novembro de 2022 – Nos últimos dez anos, Brasil, Argentina e Chile, integrantes do Cone Sul, registraram um aumento de 56% na produção agrícola, frente a 29% da média global, reforçando o processo de desenvolvimento e alavancagem da economia e dos investimentos. Pensando na importância desse setor econômico para os três países sul-americanos, a EY acaba de lançar o estudo “Top 10 riscos e oportunidades para o Agronegócio”, que contou com a avaliação de executivos de empresas dos três países, sendo 59% destes com cargos C-level.
Na Argentina, segundo o “El Agro en Argentina y su papel en la economía nacional”, o setor do Agronegócio representa aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e 22% do total dos empregos; no Brasil, com mais de R$ 2 trilhões gerados, o Agro corresponde a 28% do PIB, respondendo por 20,3% dos postos de trabalho, como indica o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da USP (Universidade de São Paulo), e no Chile, de acordo com o Ministério de Agricultura do país, o setor responde por 9,7% do PIB e mais de 24% do total de exportações, atrás apenas das vendas de cobre ao mercado externo.
As mudanças climáticas aparecem como principal risco e podem impactar diretamente a produtividade do setor. Além das variações das temperaturas em si, a maior ocorrência de ‘eventos extremos’ como fortes geadas, variações de temperatura fora de época e chuvas de alto volume também devem ser considerada já que o aumento da imprevisibilidade climática impacta não apenas a produtividade do campo, como também investimentos e movimentos financeiros que empresas, bancos e demais entidades fazem, como a concessão de crédito rural.
De acordo com a pesquisa realizada pelo EY Decarbonization Framework, 47% dos investidores reconsiderariam o investimento com base nos riscos climáticos. “Esse indicativo reforça a importância de as empresas precisarem estar informadas e preparadas nos seus modelos de análise tanto sobre como o clima quanto sobre como a inevitável mudança climática impactará diretamente os riscos financeiros e operacionais de forma cada vez mais relevante. O agronegócio é uma ‘indústria a céu aberto’ e, por causa disso, ter gestão ativa dos riscos climáticos é atividade crítica do core business do setor”, afirma Alexandre Rangel, sócio-líder de consultoria para o setor de agronegócios da EY para América Latina Sul.
Em segundo lugar, vêm os gargalos na infraestrutura, que tem o sistema rodoviário como principal modal de transporte. “A despeito dos grandes investimentos recentes, a produção do Agro no Brasil continua a aumentar de tal forma que a limitação dos modais de transporte e, principalmente, a falta de armazenagem na cadeia permanecem como grande entrave para a maior competitividade do agronegócio no Brasil. Hoje algumas regiões do país já conseguem colocar soja no mercado chinês com um custo de transporte simular a produtores do meio-oeste americano, mas isso ainda não acontece em todas as regiões do Brasil. Precisamos atingir de forma homogênea o mesmo nível de eficiência e investimento privado no transporte tal como fizemos na produção do Agro”, conta Rangel.
Segundo a Confederação Nacional do Transporte, 62% das rodovias do país são inadequadas, apenas 30 mil quilômetros de ferrovias e um terço dos rios que têm capacidade para transporte hidroviário em grande escala são utilizados. Para o executivo, “depois de décadas de pouco investimento dos governos em transporte hidroviário e ferroviário e a despeito dos esforços recentes, ainda existe falta de alternativas de logística de grande volume mais eficientes em determinados corredores de transporte para as novas regiões produtoras. Isso prejudica a competitividade dos produtos, eleva o custo de produção e resulta em perdas durante o processo de transporte, tanto dos insumos quanto da produção agrícola do país. É fundamental acelerar os investimentos privados em ferrovias, novos portos e principalmente em armazenamento”. Estima-se que as perdas logísticas da soja e do milho, por exemplo, equivalem a 2,44% da produção, o que corresponde a R$ 4,5 bilhões.