Opotencial da inteligência artificial generativa para catalisar a inovação nas empresas é indiscutível. O que ainda não está claro é a adaptação da agenda da transformação digital para esta nova era, assim como a jornada rumo às melhores oportunidades de negócios.
Após um ano e meio do surgimento do ChatGPT, que abriu os olhos dos mercados para a nova tecnologia, nota-se um misto de entusiasmo com as possibilidades, cautela com os investimentos, desconhecimento em relação às aplicações mais relevantes e receio em torno dos riscos.
Essas conclusões, produzidas pela EY-Parthenon, integram a mais nova edição do estudo Reimagining Industry Futures, a partir de entrevistas online realizadas em fevereiro deste ano. Foram consultadas mais de 1.400 empresas, em 20 países, incluindo o Brasil, para explorar comportamentos, atitudes e intenções sobre a adoção de tecnologias emergentes.
O objetivo é atuar como uma espécie de termômetro dos sentimentos das lideranças nesta frente e compreender o que motiva a tomada de decisões estratégicas que levam as organizações ao futuro.
A nova fase da IA generativa
O apetite por manter ou acelerar a agenda da transformação digital em 2024 é compartilhado por 95% dos CEOs ouvidos no estudo. Após o impacto inicial expressivo da inteligência artificial generativa, as empresas entraram em uma fase de exploração mais madura e pragmática em relação ao uso dessa tecnologia.
Segundo o levantamento, 38% delas veem seu impacto como incremental nos negócios, sendo um aditivo às estratégias já existentes de IA e machine learning, enquanto a minoria (17%) enxerga potencial revolucionário.
Como parte de uma visão mais crítica sobre o tema, 70% acham que as organizações precisam ampliar o entendimento dos riscos associados à tecnologia, embora apenas 17% vejam este aspecto como uma barreira para a sua adoção dentro das organizações. O fato é que a preocupação com o uso responsável da IA entrou de vez no radar das lideranças.
Para 65% dos CEOs consultados, é necessário trabalhar mais para endereçar eventuais riscos éticos e criminais relacionados ao tema. Um exemplo são os desafios regulatórios, que têm crescido na esteira da rápida ascensão da IA generativa.
Mesmo que o Brasil não tenha uma regulamentação específica sobre o tema, há iniciativas como o PL 2338/2023 (Marco Legal para Inteligência Artificial), que visa proteger os direitos fundamentais e garantir a implementação de sistemas seguros e confiáveis, em benefício da pessoa humana, do regime democrático e do desenvolvimento, e alinhando-se também à LGPD.
Apesar da implantação da IA generativa estar em seus estágios iniciais, as empresas não deveriam adiar o desenvolvimento de políticas e práticas relacionadas ao uso dessas tecnologias. Diante dos riscos inerentes à tecnologia baseada em aprendizado de máquina, a implementação precisa ser cautelosa para evitar que vantagens estratégicas se convertam em vulnerabilidades, tais como violações de dados; exposição de informações confidenciais e identificação de indivíduos; o que contraria as disposições da LGPD, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
O tratamento da IA generativa com responsabilidade passa por uma boa governança de dados, que deve ser aprimorada com prioridade na visão de 45% das empresas consultadas.
Para tanto, é essencial investir na melhor qualidade possível das informações digitais, considerando a sanitização das informações, um ponto crítico para identificar quais dados podem ser manipulados, como realizar este processo e o que levar em consideração na hora de ensinar à máquina os próximos passos.
Avanço é inevitável, mas falta compreensão
A falta de entendimento sobre a tecnologia pode ser um entrave, de acordo com a pesquisa. De um lado, 83% dizem que a liderança da organização está interessada nas oportunidades de criação de valor; por outro lado, 58% indicam que o avanço da IA generativa está forçando a revisão da estratégia de transformação digital, para saber se ela se adequa ao propósito de criação de valor. Uma das provas de que é preciso evoluir no conhecimento do tema é o fato de que 64% dos respondentes reportaram sentir medo da substituição da força de trabalho pelas máquinas.
A compreensão da aplicação da IA generativa também precisa avançar, na opinião da maioria. Para 78%, há necessidade de maior entendimento sobre os casos de uso e conceitos, o que explica a forma como os projetos vêm sendo desenvolvidos.
Para evitar desperdício de recursos, empresas têm priorizado experimentos específicos, em ambientes controlados, para avaliar o retorno do investimento antes de intensificar a aposta. O cuidado com a adoção da tecnologia é explicado pelo alto custo da infraestrutura e e demais fatores (tais como segurança e privacidade, regulamentação e ética, resistência cultural e ROI incerto).
Em geral, os casos de uso visam principalmente o aumento de produtividade em relação a tarefas manuais e a economia gerada a partir dessa mudança de perspectiva. Entre as aplicações mais comuns, destaque para áreas como atendimento ao cliente, com o uso de assistentes virtuais em setores variados; para o uso de chatbots que analisam grandes volumes de textos e vasculham a internet em busca de temas de interesse das empresas; para a otimização de ações nas áreas de marketing e publicidade, como a automatização de artigos, de e-mails e campanhas nas redes sociais; para o apoio às empresas do setor financeiro nas análises de resultados e produção de relatórios volumosos; e, também, para a detecção de fraudes.