4 Minutos de leitura 22 jul 2024
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O apetite ao risco da sua organização está conectado com suas aspirações estratégicas?

Por Rodrigo Olyntho

Risk Consulting Partner da EY Brasil

Entusiasta da gestão de riscos e de tecnologias emergentes, comprometido com a inovação e criação de soluções disruptivas para as funções de risco.

4 Minutos de leitura 22 jul 2024
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No cenário empresarial atual, uma compreensão clara do apetite ao risco é fundamental para navegar com sucesso na complexa malha de ameaças e oportunidades.

Com a contribuição de Isabela Matias, Gerente de Risk Consulting, Bruna Cardoso,  Senior de Risk Consulting da EY Brasil e Alexandre Silva Santos, Senior Risk da EY Brasil.

Porém, o apetite ao risco não oferece uma solução padronizada. É moldado pela cultura empresarial, pela tolerância dos stakeholders aos riscos, pelo setor de atuação e pelo cenário econômico vigente. Uma estratégia de risco bem definida permite que as organizações tomem decisões conscientes e, frequentemente, mais ousadas, abrindo caminho para vantagens competitivas significativas e maior geração de valor.

Entender o conceito de apetite ao risco é reconhecer que ele determina o volume e o tipo de risco que uma empresa está disposta a assumir em prol de seus objetivos estratégicos. Uma gestão de risco bem estruturada pode diferenciar a empresa em um mercado cada vez mais competitivo, ao identificar, avaliar e administrar os riscos associados às decisões estratégicas.

A eficácia do apetite ao risco começa na definição objetiva dos riscos em que se tem mais flexibilidade de exposição, seguida por sua internalização em políticas e normativos, aplicação de controles internos e monitoramento constante das condições do negócio (internas e externas). Uma comunicação eficiente sobre o apetite ao risco é essencial para assegurar que todos na empresa entendam os limites de risco que são e que não são tolerados.

Além disso, o apetite ao risco não é imutável e requer revisões periódicas para alinhar-se às dinâmicas alterações no ambiente de negócios, nas estratégias organizacionais e nos mercados de atuação. As empresas precisam ser ágeis para adaptar seu apetite ao risco diante de novas oportunidades e ameaças, mantendo o foco nos seus objetivos de longo prazo.

Este artigo busca fornecer uma perspectiva abrangente sobre como as empresas podem estruturar e administrar seu apetite ao risco, de modo a otimizar a tomada de decisão e promover o crescimento sustentável.

Compreendendo o apetite ao risco e sua importância na estratégia corporativa

Entender o conceito de apetite ao risco e sua relevância é crucial no mundo corporativo, particularmente em governança e gestão estratégica. O apetite ao risco define a quantidade de risco que uma organização está preparada para aceitar em busca de seus objetivos, atuando como um parâmetro essencial para a tomada de decisão em todos os níveis hierárquicos.

Na rotina dos negócios, constantemente nos deparamos com ameaças e oportunidades. Navegar por esse terreno exige um entendimento claro sobre quais situações estamos dispostos a expor a organização, o que influencia diretamente na tomada de decisões estratégicas e operacionais. O apetite ao risco é o balizador que define o nível de risco que a alta liderança de uma empresa está disposta a assumir para alcançar seus objetivos, orientando as ações desde o CEO até as lideranças operacionais.

A definição do apetite ao risco é crítica para alinhar as atividades da empresa com suas estratégias de longo prazo. Organizações com alto apetite ao risco podem optar por caminhos de crescimento agressivo e inovação, enquanto outras, mais cautelosas, voltam-se para a estabilidade e previsibilidade.

Esse entendimento começa pelo reconhecimento dos objetivos empresariais, servindo de contexto para decidir quais riscos são aceitáveis e quais requerem atenção redobrada. O apetite ao risco orienta a empresa em suas escolhas, dando suporte a políticas coerentes, garantindo que decisões reflitam tanto as ambições quanto a capacidade de gerir e absorver riscos.

A comunicação do apetite ao risco deve ter uma comunicação clara e objetiva, permeando toda a organização. Deve refletir as metas empresariais e direcionar premissas, de acordo com os padrões de risco aceitos, para a tomada de decisão.

A definição do apetite ao risco também envolve a identificação de indicadores-chave que possam sinalizar quando a empresa está se aproximando ou excedendo seus limites de risco. Estes indicadores ou métricas de risco são essenciais para o monitoramento contínuo e a gestão eficaz do risco. Eles ajudam a garantir que a empresa permaneça dentro de seu apetite ao risco estabelecido.

Além disso, o apetite ao risco deve estar integrado ao processo de planejamento estratégico da empresa, ou seja, as decisões sobre novos projetos, investimentos e expansões devem ser avaliadas não apenas em termos de retorno potencial, mas também de acordo com o nível de risco que a empresa está disposta a assumir e gerenciar. Essa integração fortalece a gestão proativa dos riscos, evitando problemas e surpresas indesejadas.

Assim, o apetite ao risco é um componente essencial da estratégia corporativa, fornecendo limites claros dentro dos quais as empresas podem perseguir oportunidades e gerenciar desafios. Com uma definição precisa do apetite ao risco, as organizações garantem que as decisões tomadas estejam em sintonia com seus objetivos e princípios, impulsionando um crescimento contínuo e sustentável, e favorecendo sua vantagem competitiva no mercado.

Além disso, o apetite ao risco contribui para moldar a cultura corporativa. Promove uma estrutura que valoriza inovação e decisão consciente, enquanto minimiza comportamentos arriscados que podem desestabilizar a organização.

Alinhando apetite ao risco e cultura organizacional

A cultura organizacional é um elemento chave na percepção e gestão do apetite ao risco de uma organização. Uma cultura que estimula riscos calculados e valoriza a inovação pode ser extremamente benéfica para o crescimento e a competitividade dos negócios. Em contrapartida, uma cultura resistente ao risco pode limitar a capacidade de adaptação e progresso em um mercado dinâmico. Assim, é crucial que o apetite ao risco esteja embutido na cultura da organização.

Os líderes têm papel essencial neste alinhamento, modelando, com suas ações, o comportamento frente ao risco de acordo com as expectativas da alta liderança. Eles devem cultivar um ambiente que tolera erros no processo de aprendizagem e deixa claro que riscos informados são essenciais para a inovação e o avanço da empresa.

Para reforçar esta cultura, é importante estabelecer sistemas de recompensa que incentivem a assunção de riscos conectados com a estratégia e a contribuição com o sucesso organizacional.

A comunicação efetiva, que promove um diálogo aberto sobre riscos e oportunidades, e o treinamento contínuo, que fornece conhecimento para avaliar e manejar riscos, são fundamentais para forjar uma cultura que apoie adequadamente o apetite ao risco da empresa. A educação sobre gestão de risco deve ser parte constante do desenvolvimento profissional em todos os níveis hierárquicos.

Estratégias e sistemática para definição de um apetite ao risco alinhado às ambições empresariais

Existem múltiplas estratégias, ferramentas e métodos para estabelecer e operacionalizar o apetite ao risco dentro das organizações. Podem variar desde abordagens conceituais sobre o perfil de risco organizacional até aspectos quantitativos, como os realizados por entidades financeiras que seguem regulamentos do Banco Central.

A EY busca transmitir um método prático para definir o apetite ao risco, passando de uma visão conceitual para uma abordagem quantificada. Nossa estratégia alinha o entendimento e as expectativas de exposição ao risco entre os gestores de risco e a alta liderança, conectando a identificação, avaliação e priorização dos riscos.

A estratégia envolve reflexões analíticas sobre cada risco corporativo em termos de:

  1. A quantidade de incertezas aceitas, sabendo que a redução da incerteza exige mais recursos para melhor entendimento.
  2. O nível de impacto que a organização está preparada para suportar se um risco se concretizar.
  3. A interconexão do risco com os objetivos estratégicos e metas de crescimento.
  4. O grau de envolvimento de outras funções de risco, como Auditoria Interna, Controles Internos e Compliance.

Com base nessas reflexões, atribuímos pontuações para cada análise, o que permite enquadrar o risco em um de três níveis de apetite ao risco (podendo ter cinco níveis ou mais, dependendo da metodologia aplicada):

Aberto: aceita uma maior flexibilidade na exposição ao risco, estabelecendo-se gatilhos para revisão da estratégia, se necessário.

Cauteloso: busca compreender cenários para minimizar a exposição, com mapeamento de processos, controle e planos de contingência.

Avesso: não há flexibilidade para exposição, com medidas de precaução e suporte de auditorias independentes.

Entender o apetite para cada risco permite determinar a exposição que a empresa considera aceitável e a que não aceita, formando um perfil de risco corporativo pela consolidação progressiva, partindo do risco corporativo. Isso promove uma discussão mais tangível com a liderança e órgãos de Governança Corporativa, permitindo definir o apetite ao risco de forma mais concreta, facilitando uma Declaração de Apetite ao Risco coerente com as ambições da organização e estabelecendo níveis de tolerância que favoreçam a resiliência e crescimento sustentável do negócio.

Nossa abordagem

A metodologia da EY para Gestão de Riscos tem uma abordagem holística, que considera tanto o ambiente interno quanto externo das organizações, englobando:

  1. Uso de informações da organização: avalia aspectos como limites e capacidades operacionais, expectativas legais, éticas e regulatórias, objetivos estratégicos, forças de mercado e sua cultura organizacional.
  2. Alinhamento com o ciclo de estratégia: leva em conta as premissas associadas à estratégia de negócios e as forças e fragilidades da empresa para alcançar resultados desejados.
  3. Melhoria de desempenho: Analisa níveis de tolerância que podem ser aplicados às métricas de performance, de forma a favorecer mecanismos de acionamento para situações contingenciais, impactando positivamente no desempenho.

Este método faz parte da abordagem de Gestão de Riscos da EY, fomentando uma perspectiva abrangente que visa à sustentabilidade e expansão do negócio. Com essa estrutura sólida, a abordagem reforça a cultura da empresa e aprimora a implementação de estratégias. A metodologia engaja todas as áreas da organização no processo de detecção e gestão de riscos, destacando a importância da transparência e do desempenho.

Além de mitigar ameaças, este método expande a capacidade de inovação e adaptação da empresa, avaliando cada decisão em relação a riscos e oportunidades. Assim, a Gestão de Riscos da EY torna-se um alicerce para as operações, integrando-se aos processos-chave e oferecendo uma vantagem competitiva ao otimizar a relação entre risco e retorno.

Resumo

O apetite ao risco é crucial nas decisões financeiras e estratégicas, refletindo as aspirações, a flexibilidade para se expor a ameaças e a capacidade da organização em lidar com incertezas em busca de ganhos futuros. Entender e gerir corretamente o apetite ao risco é vital para atingir um equilíbrio adequado entre potencial de crescimento e risco de perdas. Ao tomar consciência de seu portfólio de riscos, gestores e empresas podem tomar decisões mais embasadas e coerentes com seus planos financeiros e estratégicos de longo prazo. Diante de um mercado volátil e imprevisível, uma compreensão sólida e uma gestão prudente do apetite ao risco são fundamentais para o sucesso duradouro.

Sobre este artigo

Por Rodrigo Olyntho

Risk Consulting Partner da EY Brasil

Entusiasta da gestão de riscos e de tecnologias emergentes, comprometido com a inovação e criação de soluções disruptivas para as funções de risco.

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