5 Minutos de leitura 10 fev 2022
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Open Finance: A jornada continua

Autores
Rafael Schur

Sócio da EY e Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros para o Brasil

Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros, Rafael acumula mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento de soluções para projetos que alinham estratégia, governança e tecnologia.

Chen Wei Chi

Sócio líder de Transformação de Negócios e Inovação para Serviços Financeiros e Open Finance

Entusiasta de assuntos relacionados com foco no cliente e tecnologia.

5 Minutos de leitura 10 fev 2022

Muito além de mudanças regulatórias, o Open Finance é um momento de transformação, abrindo portas para uma gama de oportunidades ao setor financeiro.

Por Henrique Goldschmidt, Gerente de Transformação de Negócios e Open Finance da EY Brasil
 

OOpen Finance é o sistema que permitirá que clientes de produtos e serviços financeiros compartilhem as suas informações entre diferentes instituições autorizadas pelo Banco Central e movimentem fundos de suas contas bancárias a partir de distintas plataformas. Esta abertura para o compartilhamento teve início nos principais produtos e serviços bancários como contas, cartões e outras operações de crédito, sendo chamada de Open Banking.

Inicialmente a implementação do Open Finance no Brasil foi planejada em quatro grandes fases. Entretanto, este cronograma sofreu algumas alterações do Banco Central, e atualmente o período de implementação se dividiu em grandes marcos entre 2021 e 2022¹.  Além disso, alguns destes marcos apresentam também subdivisões em ciclos de lançamento escalonados, tornando o calendário de implantação bastante vivo:

Contudo, apesar de as atenções estarem focadas nas adoções regulatórias promovidas pelo Open Banking, há benefícios emergentes, tais como comparadores de produtos e serviços, soluções de gerenciamento financeiro, onboarding simplificado e ágil,  produtos e propostas personalizados e adequados às necessidades do consumidor. Um ambiente de transformação e inovação se estabelece atendendo tendências e expectativas de consumidores ainda mais exigentes.

Podemos antecipar um amadurecimento constante e gradual deste cenário com base em experiências internacionais da Inglaterra e da Austrália, sendo possível identificar três momentos distintos para a expansão do Open Banking:

  • Momento 1: Vemos os esforços centrados na adequação regulatória, na melhoria de soluções de segurança e na implementação de sistemas tecnológicos.
  • Momento 2: Visualizamos o amadurecimento e o entendimento do tema, passando assim a centrar esforços na criação de novas soluções e serviços, por exemplo com um onboarding digital mais simples e ágil ou uma análise de crédito mais rápida e confiável.
  • Momento 3: Com a estrutura de dados abertos abrangendo outros setores do mercado financeiro, será gerada uma enorme gama de oportunidades, com o desenvolvimento de soluções integradas que aperfeiçoarão a oferta de serviços como um todo, tais como agregadores de dados, que possibilitarão aos clientes reunir os seus dados financeiros em um ambiente de controle de finanças pessoais, ou ainda experiências personalizadas, adequadas a necessidades, interesses e objetivos do consumidor abordando setores como câmbio, investimentos, seguros, cross industry etc.
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Capítulo 1

Cenário internacional

O que esperar do Open Finance com base na experiência de quem está à frente

Com início datado em janeiro de 2018, e em caráter assistido nas principais instituições financeiras do país, o Open Banking na Inglaterra só teve a sua operação aberta ao público em maio/junho do mesmo ano, consolidando-se apenas recentemente, com um escopo menor do que está sendo implementado no Brasil. Hoje, em seu segundo momento de maturidade, os esforços estão sendo centrados na criação de soluções, serviços e modelos de monetização.

Com base nos dados reais do diretório oficial do projeto³, podemos entender melhor a sua evolução observando saltos significativos quando comparados ao início do período. O número de provedores terceirizados aumentou mais 440% na comparação de junho de 2018 com setembro de 2021, passando de 44 provedores para 238. O número de chamadas de APIs, indicador operacional do nível de uso do serviço, também refletiu esta expansão, com um salto de 1,9 milhão de chamadas para mais de 778 milhões no mesmo período de comparação, conforme ilustra o gráfico abaixo.

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Atualmente, o Reino Unido encontra-se em seus estágios finais da implementação do CMA Order Roadmap – May 2020. O programa se vê próximo do terceiro momento, e os esforços serão depositados no desenvolvimento de soluções integradas a outros setores que aperfeiçoarão a oferta de serviços como um todo.

A Austrália, por sua vez, se encontra no fim do momento 1: iniciou o processo em meados de 2020 em caráter de operação assistida com quatro grandes bancos do país e, posteriormente, abriu ao público em meados de 2021. Com escopo menor do que o brasileiro, as instituições no país se encontram consolidando as adequações regulatórias e aprimorando as soluções de tecnologia e de segurança.

No que diz respeito aos dados, não há divulgação oficial feita pelas autoridades locais. Contudo, ao observar relatórios divulgados pela empresa Frollo,  responsável por mais de 95% das chamadas de APIs no país, encontramos marcos importantes de evolução na implementação australiana. No fim de agosto de 2020, após dois meses do lançamento da primeira fase do Open Banking na Austrália, a empresa relatou ter alcançado o patamar de 1 milhão de chamadas de APIs. Já em junho de 2021, quase um ano após e quando a operação foi liberada para o público, contando com o ingresso de todos os outros bancos, pode-se observar o marco de 10 milhões, ampliado para 12 milhões em meados de agosto de 2021 e 16 milhões em meados de outubro de 2021.

Em ambos os países, observamos uma baixa adesão inicial dos consumidores, mas, conforme o amadurecimento do projeto e o avanço para o momento 2, fica claro um crescimento do Open Banking associado a esses fatores. Com base no conhecimento das experiências de Inglaterra e Austrália, torna-se possível estimar os impactos do Open Finance no Brasil, deixando clara a expectativa de um primeiro momento desafiador.  

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Capítulo 2

Pesquisa demonstra um cenário mais otimista de adoção do Open Finance no Brasil

Apesar de a experiência internacional demonstrar uma jornada mais cautelosa e longa da adoção do Open Banking, as pesquisas realizadas pela EY com consumidores bancários ao redor do mundo apontam, em geral, um cenário mais positivo de adoção no Brasil quando comparado aos outros países.

 A nossa proposição é que o comportamento de adesão dos consumidores é refletido por: 1) engajamento digital, 2) confiança no sistema financeiro e 3) percepção positiva sobre parcerias entre empresas. Estes três fatores foram verificados na pesquisa EY 2021 NextWave Global Consumer Banking, publicada em outubro de 2021, e corroboram a nossa expectativa deste cenário positivo no Brasil.

Engajamento digital

O fator engajamento digital em relação a uma nova tecnologia ou tendência apresenta-se como pilar essencial para a garantia de seu sucesso. Neste sentido, o Open Banking no Brasil parece largar na frente, pois encontramos no país um cenário de ampla aceitação e interesse dos canais digitais pelos consumidores brasileiros:

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Hábito de consumo via canais digitais: 77% do público afirma ter como principal meio de utilização dos serviços financeiros os meios digitais, seja por App (53%) ou Web (24%). Tal fator é imprescindível para a dinâmica de compartilhamento de dados, o que reforça um cenário preparado para a adesão do Open Banking pelos consumidores brasileiros.

Confiança no sistema financeiro

A pesquisa revela a relação de confiança dos consumidores nas instituições do setor financeiro. Neste cenário o Brasil se destaca, apresentando resultados superiores a Inglaterra e Austrália, com 86% dos consumidores possuindo uma confiança alta ou muito alta nessas instituições, ante 72% da Inglaterra e 73% da Austrália.

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Neste sentido, o alto grau de confiança dos consumidores brasileiros, quando comparado aos outros países, nos permite avaliar que existe maior segurança no compartilhamento de dados dos consumidores brasileiros com as suas intuições bancárias, inferindo que exista um cenário de mais simples aceitação do público e, consequentemente, maior adesão.

O grau de confiança dos brasileiros nas instituições financeiras independe da idade, mostrando-se elevado em todas as faixas. Assim, podemos inferir que exista um conforto geral do público no compartilhamento de dados com as suas intuições financeiras, indicativo para uma rápida e massiva adesão ao Open Banking.

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Os consumidores confiam em suas instituições financeiras: Independentemente da faixa etária, os consumidores brasileiros possuem uma alta confiança em sua principal prestadora de serviços financeiros, 86% dos entrevistados disseram confiar completamente ou majoritariamente nessas instituições.

Percepção das parcerias

A pesquisa da EY mostra que 83% dos consumidores brasileiros enxergam de maneira positiva a realização de parcerias das instituições financeiras, seja com outras empresas do setor ou de outros setores, enquanto apenas 2% desaprovam tais parcerias. A comparação destes resultados com a média verificada na Austrália e na Inglaterra comprova o cenário positivo entre os brasileiros. Nestes países, em média, apenas 56% aprovam as parcerias, enquanto sobe para 7% o número dos que desaprovam.

O livre compartilhamento de dados entre as instituições autorizadas seguindo a LGPD estimula o estabelecimento de parcerias e permite o desenvolvimento de um ambiente inovador. Os resultados reforçam a importância de as empresas construírem um ecossistema em torno de si a partir de parcerias com outras, acelerando o fornecimento de produtos e serviços altamente personalizados que integrem os clientes a uma experiência completa, contemplando serviços de ponta a ponta na jornada do cliente.

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Capítulo 3

Cenários futuros

O que esperar da jornada do Open Finance no Brasil

Buscando nutrir as discussões sobre o futuro do Open Finance no Brasil, procuramos avaliar possíveis cenários do nível de adesão do projeto no país. Tal avaliação se mostra ainda mais relevante com a marca alcançada de 1 milhão de consentimentos de clientes de bancos do Open Banking brasileiro após os seus primeiros quatro meses de funcionamento.

Ressaltamos que estas são avaliações iniciais e que possuem como objetivo fomentar as discussões do que pode significar um Open Finance bem estabelecido para o Brasil. Além disso, por considerar o cenário internacional, teremos certas limitações nas comparações, visto que o projeto de Open Finance no Brasil possui um escopo diferente quando comparado a Austrália e Reino Unido, trazendo consigo a iniciação de pagamentos utilizando diferentes meios, encaminhamento de propostas de crédito, seguros e previdência, investimentos e câmbio consideradas nas fases 3 e 4.

Com base na pesquisa EY 2021 NextWave Global Consumer Banking, torna-se possível avaliar fatores como a relação de confiança do consumidor no sistema financeiro e o interesse dos consumidores para o Open Finance. Com base nestes fatores é notória a existência de um cenário mais positivo de adoção no Brasil quando comparado aos outros países, o que reforça que o Open Finance pode refletir grandes oportunidades no país.

Contudo, ainda que com um cenário mais positivo para o Brasil, tanto na Austrália como no Reino Unido observamos uma baixa adesão inicial dos consumidores, demonstrando ser uma jornada cautelosa e longa. Quando comparamos o início das operações abertas ao público entre os países, observa-se um cenário bem mais otimista no Reino Unido do que nos dados divulgados pela empresa Frollo na Austrália. Enquanto na Austrália foram necessários 12 meses acumulados para alcançar a marca de 10 milhões de chamadas de APIs, no Reino Unido este resultado foi alcançado em apenas quatro meses.

Para o Brasil ainda é cedo para cravar qualquer informação, pois tivemos o início das operações abertas ao público apenas em meados de novembro de 2021. De toda forma, os primeiros resultados são extremamente satisfatórios, ultrapassando a marca de 70 milhões de chamadas de APIs em apenas um mês de operação aberta. Entretanto é necessário ter cautela, pois ainda é cedo para tirar qualquer conclusão. Alguns fatores, como testes pelas empresas ou adesão em massa de consumidores curiosos, podem distorcer este resultado.

Em relação aos momentos, acreditamos que o Brasil segue no momento 1 com os esforços centrados na adequação regulatória e na melhoria das soluções tecnológicas até meados de 2022. Constatamos recentemente o início do momento 2 de uma forma tímida, com o amadurecimento de novas soluções e serviços, seguindo até próximo do fim de 2022, quando finalizam-se as etapas de implementação e, finalmente, o Open Finance no Brasil terá a sua maturidade para iniciar o momento 3, com o desenvolvimento de soluções integradas a outros setores que aperfeiçoarão a oferta de serviços como um todo para os consumidores.

Por fim, podemos destacar que tais resultados reforçam que o Open Finance é uma longa jornada, mas tendo pela frente um caminho promissor de adesão no Brasil. Para a efetivação de tais cenários e do benefício das oportunidades apresentadas, os provedores de serviços financeiros deverão pensar em novos modelos de negócios e criar diferenciação para atender as preferências dos diversos tipos de consumidor.

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Capítulo 4

Open Finance

Como se preparar para esta longa jornada?

No contexto do Open Finance, os dados dentro de uma instituição e o comportamento histórico do cliente não serão mais diferenciais competitivos, o que torna a experiência e a centralidade no cliente fatores cada vez mais importantes, atendendo e antecipando as necessidades com novos produtos e serviços. Para isso, as instituições financeiras deverão pensar em novos modelos de negócios e de monetização, com formação de ecossistemas/parcerias (dentro e fora da indústria).

A ideação de novos modelos de negócios deve andar paralelamente ao cumprimento dos requisitos regulatórios, que passam por temas de compliance, de adequação tecnológica e, principalmente, de implantação de um modelo de governança robusto que permita que as instituições financeiras consigam gerir todas as frentes e ter os objetivos alcançados.

Neste contexto e com base em suas experiências no Brasil e no mundo, a EY elaborou um framework de transformação em Open Finance em que todas as etapas envolvidas deveriam ser analisadas e preparadas para uma implementação de sucesso e com retorno esperado.

Clique aqui e saiba mais Sobre Open Finance.

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    1. Datas passíveis de alteração pelo BACEN.
    2. Esta data representa o início da obtenção da certificação funcional das APIs, sendo que cada conjunto de produtos e serviços possui prazo de implementação definido de acordo com a Instrução Normativa BCB Nº 205, de 10 de dezembro de 2021.
    3. https://www.openbanking.org.uk/ 
    4. https://frollo.com.au/blog/one-year-in-open-banking-has-12-live-data-holders/

Resumo

Os primeiros passos da jornada proposta pelo Open Finance no Brasil já foram dados, mas ao observar experiências em outras geografias seu fim está distante e o futuro ainda reserva muitas oportunidades.

Sobre este artigo

Autores
Rafael Schur

Sócio da EY e Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros para o Brasil

Líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros, Rafael acumula mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento de soluções para projetos que alinham estratégia, governança e tecnologia.

Chen Wei Chi

Sócio líder de Transformação de Negócios e Inovação para Serviços Financeiros e Open Finance

Entusiasta de assuntos relacionados com foco no cliente e tecnologia.