As organizações pretendem investir na transformação tecnológica do departamento fiscal, ainda que haja atualmente um movimento de corte de custos ou contenção de despesas em todas as áreas do negócio. Seis em cada dez dizem que as estratégias dos seus departamentos fiscais estão voltadas para o investimento em inteligência de dados, e 84% das organizações planejam investir US$ 2 milhões ou mais em tecnologia aplicada ao fiscal, com uma média de US$ 3,6 milhões previstos para os próximos três anos. As informações integram o estudo da EY chamado Global Tax Technology and Transformation Survey Report, que entrevistou globalmente 1.653 executivos fiscais e de finanças, provenientes de 12 indústrias.
Os departamentos fiscais historicamente aproveitam pouco a tecnologia no dia a dia. Ainda segundo a pesquisa, apenas de 12% a 34% das funções fiscais utilizam de forma intensiva tecnologias avançadas como automação, plataformas baseadas em cloud ou nuvem, ferramentas de integração e de visualização de dados, EPM (Enterprise Performance Management) e gestão de fluxo de trabalho. Esse cenário pode ser explicado pela falta de entendimento da tecnologia e de suas possibilidades; custo potencial de treinamento e implantação dessas tecnologias; e falta de tempo para adotar novos sistemas.
“A área fiscal ainda é muito operacional nas empresas. Isso ocorre por causa de uma visão distorcida de muitos negócios que olham para a área de Tax como backoffice, com baixo valor agregado. É justamente o contrário: ela é geradora de receita, de resultados consistentes, ainda mais em um cenário de transformação digital”, diz Giovanni Schiavone, sócio-líder da EY para Tax Transformation no Brasil. “Essa mudança de mindset em relação ao departamento fiscal permite uma atuação integrada com o time de compra ou comercial. Os profissionais de Tax participam do planejamento estratégico com uma visão voltada para encontrar as melhores formas de integrar as obrigações tributárias no dia a dia dessa área, por meio da economia no pagamento dos tributos ou da geração de créditos tributários nas transações realizadas”.
Como exemplo, o executivo cita a compra pelo time comercial de um produto, que pode ter o menor preço, mas não representa o menor custo, pois não foi considerado o contexto tributário. “É possível que a organização esteja comprando de uma empresa do Simples Nacional, que não gera crédito tributário. O profissional de Tax vai avaliar a possibilidade de comprar de uma empresa com lucro presumido, que traz esse crédito, fazendo o cálculo para verificar o custo final do produto, que pode ser mais vantajoso”, explica. O mesmo raciocínio se aplica a uma reestruturação societária, que costuma gerar uma série de ganhos fiscais para a organização que passa por esse processo. “Não dá para deixar de fora o departamento fiscal, que reúne os profissionais mais preparados para identificar essas possibilidades de ganho”, finaliza.
Diferenças entre o departamento fiscal tradicional e o automatizado
No departamento fiscal tradicional, as atividades são extremamente manuais, com uma base de dados não automatizada e/ou inconsistente, já que não há uma governança de dados, o que prejudica a qualidade e atualização das informações. Há, ainda, problemas com integração de sistemas, com gestão de litígios tributários e com falta de controle das documentações próprias e de terceiros.
Já no departamento fiscal automatizado, que se submeteu ou está em processo de transformação digital, há redução do tempo dedicado a atividades manuais, já que boa parte foi automatizada. Essa dinâmica reduz as horas extras dos profissionais de Tax, que podem se dedicar a tarefas mais complexas de conformidade tributária, como planejamento tributário e gestão de risco, além de proporcionar ganho de qualidade no controle e na visão geral das tarefas.
Ainda nessa realidade de automatização, são usadas ferramentas de business intelligence para cruzamento e gerenciamento de dados, com sistemas integrados e masterdata consistente, melhorando a governança e elevando a assertividade. O resultado para as organizações da automatização, que possibilita aos profissionais usar o tempo de forma mais produtiva, está na minimização a exposições fiscais, com a consequente redução da conversão de fiscalizações em autos de infração.
A tecnologia está permitindo que os negócios tratem os dados como ativos estratégicos. Nesse contexto, a área fiscal, que trabalha diariamente com alto volume de dados, pode adotar uma posição de protagonismo por meio do fornecimento de insights valiosos para toda a organização. Para isso, 95% das companhias, ainda segundo o estudo da EY, esperam que seus profissionais fiscais aperfeiçoem sua capacidade técnica com dados, processos e habilidades tecnológicas nos próximos três anos.