Crescimento da economia digital e demanda por habilidades digitais
Com o salto quântico em tempo recorde da digitalização da economia durante a pandemia, novas oportunidades de trabalho foram criadas em áreas como e-commerce, marketing digital, desenvolvimento de software, entre outras. Como consequência, aumentaram as demandas pelo domínio de ferramentas digitais e novas tecnologias que estão o tempo todo surgindo e se reciclando.
Na prática, porém, a velocidade de absorção exigida pelo mercado para que as pessoas adquiram expertise nessas ferramentas está numa velocidade muito maior do que o possível. Por outro lado, as próprias ferramentas vão ficando obsoletas rapidamente.
Como se não bastasse, certos frenesis e euforias criam expectativas irreais e ondas tecnológicas que podem não durar ou não ser a revolução anunciada em todos os níveis. Logo, é importante filtrar modismos e entender as necessidades reais, separando o joio do trigo dentro das organizações.
Somente isso levará a um investimento na educação que importa, não apenas em seguir tendências de mercado que tendem a estar exageradas; ou não fazer o mesmo efeito para todas as empresas ou áreas de atuação. Esse exercício constante de compreender o que cada empresa precisa nos leva a evitar desperdícios de tempo, verbas e de expectativas. O simples medo de ficar para trás não pode ditar regras e comportamentos empresariais.
Como estruturar condições para avançar na análise de dados? Como organizo os meus tantos dados coletados? Como secar meus pontos de captura? Vamos pegar o exemplo da inteligência artificial generativa. É bem provável que empresas e profissionais que não adotarem a IA percam competitividade, e isso deve ocorrer extremamente rápido.
Contudo, um mau uso da ferramenta pode colocar tudo a perder. Com tantos profissionais bombardeados constantemente por múltiplos estímulos que causam muita euforia, mas não ajudam a resolver problemas, o risco é fazer mau uso daquilo que conceitualmente é bom.
Talvez Elon Musk esteja realmente certo ao afirmar que a IA Generativa vai superar a capacidade de todas as pessoas inteligentes do mundo já em 2030.[3] Não obstante, qual o uso que estamos dando ao GenAIno nosso dia a dia? Será que estamos usando a ferramenta a nosso favor? Ou estamos subestimando a nós mesmos e à ferramenta?
É como sentar-se em frente a um gênio e perder tempo perguntando a ele se vai chover! Precisamos liberar tempo e espaço em nossas agendas - e em nossos cérebros - para conseguir formular as perguntas corretas, usar a tecnologia a nosso favor e buscar novas soluções.
Valorização do aprendizado contínuo
A demanda sobre a aprendizagem contínua é outro efeito da pandemia com duração de longo prazo. Ela não está apenas nas questões tecnológicas e ferramentais, mas em diversos tipos de conhecimento, já que a realidade é complexa e o futuro nos exigirá saberes que ainda não identificamos. Descobrir estes caminhos será fundamental.
Tanto para empresas de perfil industrial quanto para aquelas que tenham como foco gerar conhecimento e inovação, ou mesmo resolver problemas, precisaremos de foco em desenvolvimento de skills que não faziam parte da relação tradicional das companhias. A capacidade de resolver problemas e desenvolver um pensamento complexo, boa comunicação; organização; adaptabilidade e flexibilidade, aliada ao conhecimento técnico especialista, formam o que hoje conhecemos como power skills.
Profissionais que se entendam e se posicionem como lifelong learners serão os mais valorizados, principalmente se conseguirem atuar de forma construtiva mesmo longe de suas áreas técnicas de domínio.
Esses power skills aparecem desde o operador de máquinas que está lá na fábrica, até o líder de negócios, pois a todo momento nos aparecem problemas com componentes que jamais vimos.
Nesse sentido, a abordagem tradicional de uma trilha de conhecimento pré-determinado e linear definitivamente deixa de fazer sentido. Especialmente em mercados dinâmicos e complexos, com consumidores de expectativas distintas, preocupados com temas como responsabilidade social, sustentabilidade, energia renovável e toda essa temática em torno de ESG.
Mudanças nas estruturas organizacionais: empresas ágeis e estruturas horizontais
É importante contextualizar o desafio das metodologias ágeis, muito presentes nas empresas desde a pandemia. Em essência, essa foi uma forma encontrada por equipes de tecnologia para poder focar no desenvolvimento de soluções novas, sem ter de parar os desenvolvedores por conta de temas não relacionados ao objetivo do desenvolvimento.
Desse modo, monta-se as squads, que vão desenvolver uma funcionalidade ou um produto inteiro, sem trabalhar em mais nada além disso. Contudo, a verdadeira agilidade aplicada a todas as empresas é reconhecer excessos de informação e demandas que atrapalham entregas. Reuniões inúteis, por exemplo, são ineficazes. Esse entendimento ainda precisa mudar.
Outro ponto que chama atenção de 2020 para cá é que aumentou o número de empresas que se dizem horizontalizadas, ou seja, que garantem mais autonomia e poder de decisão aos colaboradores, maior tráfego e acessos internos, sem tantas barreiras hierárquicas.
Contudo, o dilema que as empresas precisam resolver é como combinar as decisões que vão vir dessa autonomia sem acabar com o conceito. Como tratar dessas decisões autônomas sem que, com isso,eu traga de volta o modelo de gestão que eu quero melhorar.
Os times nem sempre têm o entendimento claro que a horizontalidade funciona: ela tem que ser preservada para entrega da solução, do produto, melhoria da qualidade. Mas continua existindo uma estrutura verticalizada de decisão.
A lógica da tomada de decisões complexas e críticas continua dependendo de uma cadeia maior de pessoas, inclusive mais experientes e em posição para isso. A lógica da horizontalidade está mais conectada com a escolha de focos, de deixar as equipes com espaço e liberdade suficiente para produzir. Contudo, é importante operacionalizar corretamente esses combinados entre líder e liderado dentro da cultura da empresa, evitando mal entendidos.
Outro ponto que não pode ser perdido de vista é a conexão entre agilidade, inovação e entregas cada vez mais consistentes para o negócio e para clientes ainda mais exigentes e antenados aos desafios do mundo.