Há uma revolução em curso no universo da tecnologia que impacta profundamente empresas de todos os tipos e tamanhos, independentemente do setor de atuação. Trata-se da implementação do 5G, que chegou ao Brasil no mês de julho ainda restrito a poucas cidades. Mais do que permitir downloads ultrarrápidos e menor latência, a quinta geração de internet móvel abre possibilidades de novos modelos de negócios e de operações a partir de novos serviços e aplicações conectadas.
Diferentemente das gerações anteriores [1G, 2G, 3G e 4G], esta nova geração apresenta múltiplas interfaces aéreas, o que possibilita a prestação de diversos novos serviços que irão prover conexão não apenas de pessoas, mas também de diversos dispositivos, potencializando a internet das coisas (IoT). Interface aérea é a tecnologia de conexão entre o dispositivo do usuário e os equipamentos de acesso da rede de telecomunicações. Enquanto nas gerações móveis anteriores existia apenas uma interface aérea, no 5G os usuários e dispositivos conectados podem ser atendidos por tecnologias diferentes, de acordo com os dispositivos e as aplicações associadas.
Para além do diferencial da conexão e das melhorias evolutivas em relação ao 4G, o 5G beneficia-se da operação conjunta com novas tecnologias importantes no processo de transformação digital. A sinergia com a análise de dados, a inteligência artificial, o blockchain e a computação em nuvem foi abordada no estudo Reimagining Industry Futures, conduzido pela EY. Divulgada em março de 2022, a pesquisa ouviu mais de 1.000 empresas, de 8 indústrias diferentes, espalhadas por 13 regiões, entre elas o Brasil.
O estudo avaliou comportamentos, atitudes e intenções das organizações em relação à adoção de tecnologias emergentes, com foco na combinação entre 5G e IoT. Segundo a pesquisa, 78% das empresas consultadas já investem ou planejam investir no 5G no horizonte de até dois anos. A internet das coisas também aparece no radar das organizações como a próxima onda de investimentos, embora em menor intensidade. Neste caso, 58% das companhias já investem ou consideram fazer aportes na tecnologia e integrá-la ao rol de soluções utilizadas até 2024.
O interesse empresarial na complementariedade das tecnologias chama a atenção. De acordo com o estudo, a capacidade de aproveitar as sinergias entre 5G e IoT - e combiná-las com outras soluções - é prioridade nas organizações, com 40% das respostas. A expectativa é que o uso conjunto de tecnologias gere eficiência operacional e aprimore modelos de negócios por meio de insights valiosos. No caso do Brasil, as tecnologias de análise de dados e de inteligência artificial foram apontadas como as preferidas na intersecção com 5G e IoT, na opinião de 82% dos respondentes.
Apesar disso, especialistas recomendam um olhar mais amplo sobre a questão, com foco na sinergia entre as tecnologias. Isso porque soluções sofisticadas normalmente utilizam várias aplicações combinadas em vez de uma em detrimento da outra. A inteligência artificial, por exemplo, é essencial para melhorar o desempenho e a eficiência operacional do sistema do 5G por meio de aplicações que utilizem estes recursos. O 5G, por sua vez, melhora a conectividade e a aquisição de dados, contribuindo para disponibilizar maior volume de dados e, consequentemente, melhora os potenciais resultados da aplicação da inteligência artificial. É um ciclo evolutivo contínuo.
Um caso prático dessa contribuição mútua pode ser visto na indústria do agronegócio. Uma aplicação que possa se valer de dados adquiridos com sistemas de acesso eficiente, e os dispositivos conectados às redes 5G estarão na vanguarda, permitirão resultados mais eficientes. O mesmo raciocínio vale para o uso de outras tecnologias (como o Blockchain, o SDN - Software Defined Network, NFV – Network Function Virtualization) que são novas tecnologias que podem operar com sinergia junto às redes 5G.
Entre os ganhos trazidos pela combinação de tecnologias avançadas, destaque para a tomada de decisão em tempo real. Considerada uma vantagem estratégica em setores de competição acirradas, ela é essencial em segmentos que dependem de informações ágeis e precisas para funcionar, nos quais erros podem custar vidas. Alguns exemplos são aplicações em: hospitais e ferrovias conectadas, além da operação de carros autônomos, que têm no 5G uma evolução necessária para prover a confiabilidade e o atendimento às especificações técnicas recomendadas, que não seriam atendidas por dispositivos conectados às redes de gerações mais antigas.
Neste caso de uso específico, a conexão de dados deve ser eficiente e confiável, devem ser usados os dispositivos chamados uMTC (ultra-reliable Machine Type Communication), que consistem em uma categoria de dispositivos 5G que garantem confiabilidade com especificações muito mais rigorosas, como baixa latência. Com isto, um veículo sem intervenção humana poderia trafegar com mais segurança do que da forma atual com controle pelas pessoas. Da mesma forma, um semáforo inteligente deve ser capaz de identificar a presença de carros para liberar, interditar e temporizar sua operação, garantindo uma otimização na utilização das vias pelo controle do fluxo de veículos e pedestres.
Para que as possibilidades em torno do 5G se concretizem e atinjam seu potencial máximo, é preciso que o ecossistema de redes, terminais, aplicações e negócios associados se desenvolvam. Um exemplo do desenvolvimento de ecossistemas no mercado móvel foi o que aconteceu durante o lançamento das redes 3G. Os serviços de dados móveis não tinham grande apelo comercial, mas o lançamento pela Apple do iPhone, com um conjunto de aplicações mudou radicalmente a indústria. Foi desenvolvido um ecossistema de redes (3G), terminais (incluindo o iPhone), e aplicações que foi um grande sucesso que mudou o comportamento da sociedade e teve grande influência na maior parte dos setores da economia.
O ecossistema de 5G, inclusive o brasileiro, é formado por: fabricantes de terminais, fornecedores de tecnologia, operadores de telecomunicações, desenvolvedores de aplicações, agentes regulatórios, administrações públicas e clientes, entre os mais importantes elementos. De olho nas oportunidades deste novo mercado, as empresas mais inovadoras já se movimentam. A corrida pelo desenvolvimento de funcionalidades baseadas na tecnologia começou e deve se intensificar nos próximos anos em direção à Indústria 4.0 e com a adoção de novos modelos de negócio e de operações.
Com níveis recordes de investimentos digitais no horizonte, impulsionados pela necessidade de velocidade, os executivos estão sob pressão para selecionar a combinação adequada de veículos de investimento e demonstrar retornos mensuráveis sobre o investimento digital. Segundo a pesquisa Digital Investment Index 2022, realizada pela EY-Parthenon, 72% dos executivos devem transformar radicalmente suas operações durante os próximos dois anos para competir efetivamente em seu setor (eram 62% em 2020).
As indústrias com maior necessidade de inovação e incorporação de tecnologia devem sair na frente as indústrias de telecom e de internet podem ser consideradas como exemplos. Além destas, diversas outras verticais, como educação, setor financeiro, varejo, agro, mineração, transportes deverão tentar se apropriar dos benefícios trazidos por estas novas tecnologias, buscando maior eficiência e vantagens competitivas frente aos concorrentes.
Diante de um futuro promissor, as oportunidades surgem para pequenos, médios e grandes players, inclusive em mercados dominados por grandes corporações. O 5G representa uma disrupção tecnológica, estes eventos trazem mudanças na forma de fazer negócios, o que significa a abertura de espaço para novos players, e oportunidades de crescimento para aqueles que souberem aproveitar esta nova onda tecnológica.