Democratização de serviços financeiros

Democratização de Serviços Financeiros e o Banking as a Service

Consumidores tem aumentado consistentemente sua procura por contas digitais. Desde 2019, registrou-se um aumento de 417% no total de contas digitais abertas no Brasil considerando a projeção para 2022, e a tendência de crescimento se mantém, conforme aponta estudo “Análise de Mercado: Bancos Digitais (2022)” da Id Wall ilustrado no gráfico abaixo.

Por Rodrigo Bomfim, Gerente de Business Consulting para Serviços Financeiros da EY Brasil

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OBACEN, por sua vez, contribui para essa dinâmica de mercado. Iniciativas recentes fomentadas por regulações, que visam dar mais espaço a novos entrantes, aceleram essa realidade. Como exemplo: a criação das figuras de Instituição de Pagamentos e Sociedade de Crédito Direto e a criação e implementação do PIX e do Open Finance. Se, por um lado, demandas regulatórias surgem como alavancas para o desenvolvimento do mercado, por outro, colocam-se como desafios para cumprir com os requisitos e a consequente adaptação tecnológica pelas instituições financeiras. Essa dificuldade, quando observada à luz de oportunidades por players de mercado, pode ser a base para o surgimento de novas propostas de valor.

O Banking as a Service (BaaS) entra nesse contexto, como uma nova modalidade de negócio financeiro, que permite que qualquer empresa, de diferentes segmentos de mercado, possa oferecer produtos e serviços, de forma simples e rápida, que antes eram exclusivas às Instituições Bancárias (como conta digital, cartão, transferências, pagamentos, entre outros). Por meio do BaaS, as empresas podem ofertar serviços customizados, sem a necessidade de investimento em grandes plataformas tecnológicas ou preocupações com exigências regulatórias, podendo, assim, abrir seu próprio “banco” e focar em oferecer o melhor serviço aos clientes finais.

One young beautiful young teenage girl using ATM machine and smart phone in the city
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Quem é o cliente?

Modelo B2B2C em cadeia permite o desenho de produtos e jornadas que superem expectativas do cliente final.

O BaaS é um modelo que acontece em cadeia, sendo em sua maioria composto por 3 integrantes:

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Nesse cenário, temos um modelo B2B2C (i.e. business to business to consumer), no qual o contratante busca oferecer novos produtos a seus clientes se utilizando, principalmente, da plataforma tecnológica e licença regulatória do provedor de BaaS.

Nessa cadeia, cada integrante pode focar em sua especialidade. O provedor garantirá a plataforma tecnológica e requisitos regulatórios, bem como o lançamento de novas soluções de mercado. Os contratantes podem, então, focar quase que exclusivamente nos clientes finais, desenhando produtos e jornadas que superem expectativas.

Businessman withdrawing cash from a bank's ATM.
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Como as empresas oferecem o BaaS?

A plataforma faz a integração com os sistemas do Banco Central e outras entidades e os serviços são disponibilizados via APIs.

As empresas de BaaS, em geral, são Instituições Financeiras (IF) ou Instituições de Pagamentos (IP) reguladas pelo BACEN. Quando não são, é necessário que estabeleçam parcerias com IFs e/ou IPs para oferecerem certos serviços, como TED/DOC e emissão de boletos.

A oferta desses serviços é disponibilizada por meio de uma plataforma, com o objetivo de atender toda tecnologia necessária para a integração com os sistemas do Banco Central (ex. SPB, CIP, SPI) e outras entidades (ex. Bandeiras), sistemas de processamento (ex. conta corrente/pagamento), gerando meios de depositar e remover valores nas contas. Com essas integrações realizadas, os serviços são disponibilizados via APIs, gerando maior facilidade de serem consumidas pelas empresas contratantes. Algumas empresas de BaaS podem até oferecer aplicativos ou sites White Label, de forma a facilitar ainda mais a contratação dos serviços.

Além disso, esses provedores também se encarregam de cumprir os requerimentos que são exigidos pelos órgãos reguladores, que visam dar segurança à operação.

No diagrama abaixo, podemos ver os diversos produtos e serviços que podem ser ofertados pelas plataformas de BaaS:

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Short haired computer programmer working on a new software in the office.
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Como o modelo se sustenta?

O modelo BaaS busca o ganha-ganha, em que todos os participantes da cadeia possam se beneficiar.

O modelo BaaS busca o ganha-ganha, em que todos os participantes da cadeia possam se beneficiar.

Os provedores, em geral, cobram seus serviços com base na utilização. Taxas são cobradas para cada produto, chamadas de APIs ou sistemas disponibilizados, gerando o retorno esperado para esse participante do modelo.

O grande atrativo aos clientes finais está em receberem produtos e serviços com tarifas menores ou até mesmo zeradas, quando comparadas à concorrência, além de outros benefícios atrativos que podem ser disponibilizados, como cashback, gestão financeira, descontos em produtos, entre outros.

Os contratantes estão em uma posição mais complexa, pois devem balancear os custos do provedor e as receitas advindas dos clientes finais, para alcançar uma operação positiva e sustentável. As receitas podem ter diversas fontes, sendo as principais o intercâmbio de compras realizadas por cartões, tarifas cobradas dos clientes finais e comissão por utilização de produtos pelos clientes (pago pelo provedor). Embora seja possível o balanceamento entre custos e receitas, também existem casos em que o objetivo é alavancar outra vertente de negócios, gerando uma operação negativa. Nestes casos, os serviços de BaaS são um atrativo ou viabilizadores; a receita da empresa viria da vertente alavancada de forma a compensar o prejuízo, gerando uma margem positiva global.

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Quais as vantagens de contratar um serviço BaaS?

Por meio de produtos e serviços diferenciados e diversificados e uma comunicação efetiva, é possível atrair novos clientes e fidelizar o engajamento dos atuais.

  • Com o provedor de BaaS fazendo todo o trabalho tecnológico e regulatório, a empresa contratante pode focar no relacionamento com seus clientes, entregando uma melhor experiência. Por meio de produtos e serviços diferenciados e diversificados e uma comunicação efetiva, é possível atrair novos clientes, além de fidelizar o engajamento dos atuais. Alguns exemplos observados são as Fintechs que buscam, por meio de apps, criar serviços financeiros para um nicho específico.
  • Empresas de segmentos não financeiros podem, por meio de uma plataforma BaaS, oferecer serviços bancários, a fim de aumentar o relacionamento com os clientes, além de poderem capturar toda uma nova gama de informações de seus perfis e hábitos de utilização e gastos. Com essas informações, é possível personalizar ofertas aos clientes, disponibilizando opções de produtos e serviços exclusivos. Um exemplo desse fenômeno são as grandes redes varejistas, que podem oferecer contas digitais e cartões para seus clientes.
    • Potencialização do produto core da empresa: a oferta de produtos financeiros, como contas digitais para clientes/parceiros de negócios, simplificam e barateiam as operações, alavancando a comercialização do produto principal. Empresas que atuam com distribuição de produtos podem criar contas e linhas de crédito especiais para seus clientes, com o objetivo de facilitar a comercialização de seus produtos.
    • Flexibilidade na estruturação de pacotes de produtos e serviços: os produtos e serviços oferecidos via BaaS, comumente, são modularizados, podendo ser contratados individualmente, suprindo as necessidades do cliente sem excessos ou faltas. Podemos verificar esse benefício nas empresas que criam produtos em que a única forma de cash-out (remoção de valor da conta) seja via compra com cartão e cash-in (inclusão de valor na conta), por depósito dos empregadores.
    • Redução de custos: com a possibilidade de ter sua própria plataforma de serviços bancários, as empresas são menos dependentes dos bancos tradicionais para realizarem as operações do dia a dia, como pagamento de funcionários e fornecedores, emissão de boletos, entre outros, reduzindo o custo operacional com taxas.
    • Novas fontes de receitas: mesmo que a empresa contratante seja cobrada pela utilização de serviços BaaS, muitos provedores podem conceder remuneração como um rebate. A compra utilizando cartões geram o valor do intercâmbio, que pode ser repassado parcial ou integralmente. Assim, com determinada escala de utilização, essa operação pode ser fonte de renda e não de despesas, havendo a possibilidade de ser um benefício para empresas com grande base de clientes que, devido a sua forte marca, conseguem alavancar o negócio de banking com sua base fidelizada.
    • Teste de soluções e validação de hipóteses com menor risco: com custo e esforço bem menores do que montar toda uma plataforma tecnológica e operacional de banking, é possível utilizar o BaaS para oferecer e testar serviços financeiros e avaliar a viabilidade do negócio sobre o mercado a ser explorado. Empresas com capital suficiente para desenvolverem plataforma, mas sem know-how ou apetite para percorrer a jornada regulatória do mercado de banking, podem usar o BaaS para iniciarem as operações e, no futuro, conforme seu crescimento e aderência, migrarem para plataformas próprias.
    • Velocidade de implantação: ao contrário de construir do zero, montar a operação de banking via BaaS pode levar muito menos tempo. Isso porque a plataforma já está pronta de antemão, com todas as regras de negócios implementadas, além das integrações necessárias como BACEN, CIP e bandeiras. O contratante, basicamente, precisa se plugar às APIs disponibilizadas e, rapidamente, identificar as oportunidades que se apresentarem pela captura de dados. Com as vantagens mapeadas, é possível inclusive alavancar soluções para diversos setores que se apresentem aderentes aos objetivos pretendidos pelo contratante, sendo que a escolha do provedor também deve ser pensada de acordo com a estratégia de negócio definida para sua operação.

Atualmente, o mercado competitivo já apresenta players provedores com distintas propostas de valor no segmento de BaaS:

Original HUB

Site: s://www.originalhub.com.br/

O Original Hub é um braço de tecnologia do Banco Original e se tornou uma Unidade de Negócios no começo de 2021, para se inserir no mercado de BaaS. Em todos os contratos que estabelece, traz como parte o Banco Original, o que garante ao contratante um acesso direto à IF regulada. Sua especialização, hoje, está em produtos de cash-in e cash-out de forma desburocratizada. A API de pagamentos é seu principal produto, em função das centenas de convênios estabelecidos com concessionárias em todo Brasil (água, energia, gás, telefone) e a capacidade de liquidação dessas contas para os clientes de qualquer outro banco, fintechs, IP ou SCD. Além disso, a API também permite a liquidação de títulos de cobrança CIP, com consulta e confirmação on-line de pagamento.

O produto mais recente é o PIX Cobrança, uma solução oferecida a empresas desenvolvedoras de ERP, que possibilita a recepção de pagamentos via PIX de seus estabelecimentos comerciais credenciados. Duas características do produto que conferem flexibilidade e previsibilidade de custo para o negócio: tarifa fixa para o estabelecimento comercial, independente do valor da venda, e a possibilidade de receber, no mesmo dia, todos os pagamentos dos seus clientes, via Pix, diretamente na conta do banco com o qual já opera e de sua escolha. 

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BTG

Site: s://developer.btgpactual.com/

O BTG Pactual desenvolveu uma plataforma de alta transacionalidade, facilitando que grandes empresas e fintechs consigam expandir suas ofertas de serviços financeiros aos seus clientes finais, por meio da sua infraestrutura e, em muitos casos, da sua própria licença.

Com uma oferta moderna, customizável e integralmente via APIs, o Banco viabiliza que seus parceiros se conectem aos diferentes arranjos de pagamentos que existem no Brasil, como: PIX (Banco Central), Cartão de Crédito (Bandeiras/CIP), Boletos (CIP), entre outros, acelerando a criação de novos produtos com baixo investimento inicial e em menor tempo.

O portfólio de produtos do Banco é dinâmico e está em constante adequação às demandas do mercado. Atualmente, disponibilizam estrutura completa para criação de Wallets/Contas Digitais, Infraestrutura de Iniciador de Pagamento/Open Banking, transações via PIX, cartão, emissão e pagamento de boletos, recargas de celular e transporte, entre outros serviços transacionais.

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BV

Site: s://www.bvopen.com.br/

O BV é um banco que oferta BaaS desde 2018 e a solução é dividida em duas áreas: uma para Pagamentos e outra para Core Banking. A solução de pagamentos, denominada Cash, é a solução de cash in e cash out, como pix, pagamentos e boleto. Já a solução de Core Banking, denominada Full BaaS, é uma solução completa conectada a uma IP, que conta com conta digital PF e PJ no formato White Label, onboarding, regulatório, cartões e Credit as a Service (CaaS).

A ideia do BV é desenhar uma solução cada vez mais completa, que atenda o contratante de acordo com suas necessidades. Nesse sentido, caso o contratante seja regulado, ele poderá ser atendido pelo time de Cash, porém, caso deseje ter a estrutura, mas não a licença do BACEN, poderá ser atendido pelo Full BaaS, em que as exigências regulatórias são oferecidas a esse cliente.

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Dock

Site: s://dock.tech/

A Dock foi criada em 2018, como uma unidade de negócio da antiga Conductor, para atuar como o braço de banking da empresa, fornecendo Banking as a Service orientado ao propósito de decodificar o universo das finanças e capacitar empresas de diversos segmentos e tamanhos a oferecerem serviços financeiros para seus clientes.

Em 2021, a Dock adquiriu a BPP e, dessa forma, passou a integrar diretamente o Sistema Financeiro Nacional. Atualmente, oferece soluções que permitem a implementação de um banco digital do zero, oferecendo produtos e serviços direcionados ao cliente final e requisitos regulatórios e de suporte. Além dos serviços de BaaS, a empresa oferta soluções de cartões, crédito, adquirência e ferramentas de risk & compliance em uma plataforma única e completa.

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Mambu

Site: s://www.mambu.com/

A Mambu se posiciona no mercado de serviços financeiros por meio da oferta de sua plataforma SaaS, 100% cloud native e altamente parametrizável (low code based), com foco total nos três pilares do core bancário (Depósitos, Contas e Empréstimos) que consegue atender desde fintechs e pequenas financeiras até grandes cooperativas e bancos digitais internacionais.

A oferta da Mambu traz uma abordagem baseada em um time to market bastante agressivo e em componentização - o Composable Banking - que permite que o cliente conecte a plataforma rapidamente através de Open APIs à outros sistemas e plataformas, possibilitando assim seus clientes formarem um landscape com as melhores tecnologias disponíveis no mercado.

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Matera

Site: www.matera.com.br

O Banking as a Service da Matera é uma solução completa de serviços financeiros baseada na plataforma de tecnologia da empresa. Através da plataforma, empresas e fintechs podem montar e oferecer produtos personalizados que atendam às necessidades de seus clientes finais.

Com uma abordagem inovadora e diferente, a Matera se posiciona como uma Incubadora para que fintechs e outros tipos de empresas possam iniciar sua jornada de oferta de serviços financeiros. A partir do momento em que fizer sentido e a empresa decidir por sua operação própria, ela levará junto toda a plataforma tecnológica já provada, mantendo a experiência de uso e investimentos realizados até aqui, além de contar com todo suporte da Matera para sua operação.

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Como o BaaS conversa com o Open Finance?

Essa soma tem o potencial de redesenhar todo o ecossistema de serviços financeiros, para um modelo em que a experiência e o relacionamento serão pontos-chave para o sucesso.

Uma outra onda de inovação em andamento no mercado brasileiro é o Open Finance e isso se relaciona diretamente com o BaaS.

Os dois modelos podem trabalhar juntos, para oferecer ainda mais opções de serviços: o BaaS contribuindo para que mais empresas participem da disputa no setor financeiro e o Open Finance permitindo que os clientes finais transitem mais facilmente entre as instituições, tornando, assim, o mercado cada vez mais competitivo. A junção dessas duas frentes resultará em ofertas cada vez mais vantajosas e personalizadas para os clientes finais.  

A soma desses dois modelos tem o potencial de redesenhar todo o ecossistema de serviços financeiros, saindo de um modelo concentrado, em que o cliente final tem pouca ou nenhuma opção, para um modelo em que a experiência e o relacionamento serão pontos-chave para o sucesso das empresas no mercado financeiro.

Conclusão

A partir das demandas dos clientes por experiências aprimoradas, as empresas podem alavancar/lapidar a proposta de valor oferecida por meio da adoção de soluções BaaS, que permitem a inclusão de produtos e serviços financeiros em seu portfólio e reinventam a forma de relacionamento com o mercado consumidor. Porém, vale destacar que é imprescindível ter um objetivo sólido para essa oferta, a fim de garantir espaço em um mercado cada vez mais competitivo.

Nesse contexto, a EY pode ajudar seu negócio, seja ele provedor ou contratante de BaaS. 

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Resumo

O Banking as a Service (BaaS) é uma nova modalidade de negócio financeiro, que permite que qualquer empresa, de diferentes segmentos de mercado, possa oferecer produtos e serviços, de forma simples e rápida, que antes eram exclusivas às Instituições Bancárias. O artigo destaca o contexto, as vantagens e possibilidades para provedores, contratantes e o mercado consumidor.

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