4 Minutos de leitura 9 out 2024
foto de uma escada rolante

Quais os desafios e tendências apontados pelos líderes de negócio brasileiros?

Autores
Victor Guelman

Sócio-líder de Markets e Business Development da EY Brasil

Guelman possui mais de 30 anos de carreira na área de professional services e atua em Mercados desde 2019.

Natália Sperati

Sócia da EY Parthenon para Consumer Products & Retail

Graduada em Relações Públicas pela UNESP, com pós-graduação em Gestão de Marketing pela FGV, em Gestão de Varejo pela FIA e Especialização em Gestão de Projetos pela ECA-USP.

4 Minutos de leitura 9 out 2024

O estudo Desafios e Tendências das Empresas no Brasil em 2024 entrevistou 177 líderes e CEOs de empresas no Brasil para captar as principais preocupações e aspirações, de olho nos próximos três anos.

Por Victor Guelman, Sócio-líder de Mercados da EY Brasil, Natália Sperati, Sócia da EY-Parthenon para Consumer Products, e Carlos Fan, Sócio da EY Brasil para Technology Consulting.

As empresas brasileiras estão emergindo de um período marcado por profundos desequilíbrios macroeconômicos internos, enquanto enfrentam um cenário global ainda instável, exacerbado pela continuidade das tensões geopolíticas. No entanto, apesar dessas incertezas, as companhias têm resistido à paralisia; ao contrário, continuam focadas em expandir e aumentar sua participação de mercado. Esse movimento é sustentado por uma abordagem estratégica, que inclui um controle rigoroso de custos, investimentos constantes em inovação e um esforço contínuo para melhorar a produtividade.

O resumo executivo deste artigo reforça os insights obtidos pela pesquisa Desafios e Tendências das Empresas no Brasil 2024, produzida pela EY, que ouviu 177 pessoas em cargos de influência e CEOs do Brasil e aponta caminhos para as empresas navegarem em um cenário complexo, com foco em prosperidade e inovação. Essa análise do Brasil é um recorte da pesquisa Desafios e tendências de 2024 para as empresas na América Latina,  realizada com mais de 1350 respondentes na América Latina.

 

Os riscos que mais preocupam as empresas no Brasil emanam principalmente de seus contextos locais, políticos e econômicos. Paralelamente, a tecnologia se afirma como um pilar fundamental, não apenas como facilitadora das grandes tendências de mercado, mas também como uma resposta estratégica aos desafios enfrentados pelas empresas.

O contexto de policrise, ao qual os empresários estão cada vez mais acostumados, tem fortalecido a resiliência das empresas, que em sua maioria se mostram prontas para avançar e acelerar o crescimento. A postura predominante é de ação, não de hesitação, mesmo sob a constante sombra da incerteza, reafirmando o espírito empreendedor e a capacidade de adaptação que os tempos atuais exigem.

Apesar do cenário difícil dos últimos anos, os entrevistados estão otimistas e 49% dizem que sua empresa está acelerando; ou seja, crescendo e aproveitando as oportunidades. 18% estão avançando na implementação de estratégias e modelos de negócio. Outra porcentagem importante (23%) está reagindo à contingência e procurando maneiras de se adaptar. 

Gráficos Desafios e Tendências Set24

Avançar na transformação tecnológica, aumentar a produtividade e reduzir custos estão entre os desafios mais destacados pelas empresas brasileiras. Porém, também está ficando cada vez mais claro para as lideranças que não adianta investir no apetite pela inovação e em estratégias focadas dentro de casa sem olhar para fora e tentar compreender o mercado, que está passando por grandes mudanças em diferentes âmbitos. 

Nesse sentido, é fundamental fazer uma leitura do contexto macroeconômico para traçar as estratégias. Dentre os fatores atuais que mais influenciam o mercado e mexem com as expectativas dos negócios estão os grandes conflitos mundiais, os atritos econômicos e as incertezas das eleições norte-americanas que refletem em instabilidade e incertezas. Além disso, as perspectivas no Brasil antecipam um ambiente retraído, com queda de consumo e dificuldade de acesso ao capital por conta da dobradinha de juros altos e falta de perspectiva de diminuição da inflação.  

Outro agravante que deve provocar uma grande onda no mercado nacional – e que parece não estar recebendo os sinais de alerta adequados – é a Reforma Tributária. O tema é citado apenas por 28% dos entrevistados da pesquisa, ou seja, não está no radar da maioria. Porém, é fundamental ajustar a lente e enxergar que essa não é uma pauta apenas da área de tributos de uma empresa, mas uma agenda transversal.

Afinal, o impacto da Reforma no mercado certamente provocará uma reação em cadeia, respingando em contratos, cadeia de suprimentos, logística e em diferentes esferas que exigirão que as rotas sejam recalculadas em negócios de todos os setores. Aqueles que olharem a reforma de maneira estratégica certamente sairão muito à frente de seus concorrentes, transformando a mudança regulatória em vantagem competitiva.

Por fim, o chamado para a implementação de tecnologias disruptivas, como a Inteligência Artificial, se apresenta como uma tendência que vem para mudar o modelo de trabalho e gerar eficiência, mas que também tem seus limitadores, já que falamos de um mercado que ainda está atrasado na transformação digital de forma geral.

Analisando os desafios

A pesquisa produzida pela EY deixa claro que as empresas percebem que o cenário econômico e as mudanças setoriais terão grande impacto nos negócios, olhando para os próximos três anos. Dentre as principais preocupações, elas destacam mudanças nas demandas e comportamento de consumo (32%), os riscos de cada setor (32%), o cenário econômico em que se encontram (31%), novos concorrentes (29%) e reformas fiscais (28%).

Gráficos Desafios e Tendências Set24

Mirando nos desafios internos, a pesquisa mostra que aumentar o market share e realizar investimentos no negócio estão no topo das preocupações. Entretanto, tendo em vista o cenário macroeconômico e as mudanças de mercado, surgem algumas tendências que ajudam a entregar mais valor ao cliente.

Nesse sentido, mais de 80% dos entrevistados concordam que nutrir ecossistemas é importante para seus negócios. Como principais vantagens, eles listam promoção da inovação, alternativas atraentes aos M&As tradicionais para objetivos estratégicos, promoção de criatividade na cadeia de valor, acentuação na entrega de valor ao cliente e avanço no P&D.

E o mercado vem respondendo a essa demanda de forma assertiva. Os ecossistemas são capazes de ampliar o core business de forma intersetorial: a Amazon, por exemplo, tem seu cerne como varejista, mas entrega também entretenimento, tecnologia, pagamento, logística e mais. Um exemplo que ilustra como é preciso se reinventar e agregar novas estratégias para se manter competitivo.

Já do ponto de vista da absorção de novas tecnologias, que 88% dos executivos reconhecem como foco global, há aqui um gap importante. Ao passo que a maioria destaca a importância da inovação tecnológica para o avanço dos negócios, é notável a falta de maturidade digital das empresas brasileiras. No país, os setores mais maduros são o financeiro (46%), o varejo (45%) e o de telecom (43%), com índices baixos e pouca representatividade. E uma consideração importante: eles somam somente 24% do PIB brasileiro. Ou seja, o setor de base do país ainda está pouco maduro e a agenda é levada pelo segundo setor. 

Provocando uma análise mais profunda para entender como as empresas percebem sua posição na jornada de transformação digital, a pesquisa mostra que 49% entendem que estão em processo de aceleração – explorando a inovação ou já colocando-a como parte prioritária da estratégia.

Dando passos mais lentos, 18% percebem estar avançando, implementando estratégias ou modelos de negócio no novo normal, e 23% dizem estar reagindo à contingência, adaptando-se ao novo cenário e reinventando o negócio. E há ainda 9% que afirmam estar sobrevivendo para dar continuidade ao negócio, e 2% esperando passar as incertezas políticas para, então, começar a agir.

Mas, por que estamos tão atrasados? Analisando o mercado brasileiro, é possível encontrar alguns responsáveis por esse cenário: poucos incentivos por parte dos governos, altas taxas tributárias, falta de apetite do empresariado e necessidade de uma mudança de mindset nas empresas estão entre as principais barreiras que a inovação encontra.

Produtividade e redução de custos

Em um cenário de crescimento reduzido, as empresas brasileiras passaram a focar na melhoria da performance operacional e gestão de caixa. Iniciativas voltadas para aumento de receita e corte de custos de curto prazo, bem como liberação de caixa, têm sido a prioridade das organizações. Entre as prioridades internas, as melhorias operacionais, de produtividade e redução de custos aparecem como o tópico mais citado, para 35% dos líderes.

Cada setor é afetado de forma diferente pelas mudanças na economia, mas, de maneira geral, é possível perceber que todos estão preocupados com o caixa e a liquidez. Nesse contexto, é importante que as empresas busquem uma maior eficiência operacional por meio da revisão de processos e da utilização de tecnologias que possam reduzir custos e aumentar a produtividade. Isso, no entanto, demanda disciplina. Tomar cuidado com a estrutura organizacional, melhorar o custo de negociação e melhorar o capital de giro são aspectos muito importantes.

Para executar esse planejamento, é fundamental que as organizações tenham um planejamento financeiro adequado, que leve em consideração as flutuações do mercado e as possíveis mudanças no cenário econômico. Também vale buscar parcerias estratégicas, seja para reduzir custos, diversificar o portfólio de produtos ou serviços, ou para melhorar a competitividade no mercado. Tais parcerias podem tanto ser firmadas com outras empresas do mesmo setor, quanto com empresas de setores complementares. 

Indústria financeira: uma jornada bem-sucedida

Enquanto há setores engatinhando na transformação digital, é preciso reconhecer que o financeiro está dando exemplo. O boom veio na última década, quando fintechs e insurtechs revolucionaram a indústria com tecnologia e digitalização.

Para se ter uma ideia, 36% dos brasileiros adotaram bancos digitais, refletindo a preferência por serviços financeiros digitais como superapps. E essa aceitação do mercado acabou por reconfigurá-lo: incumbentes passaram a buscar tecnologia especializada e fintechs maduras seguem no caminho da inovação, tornando-se grandes competidoras – vide o Nubank, considerado hoje como a maior fintech brasileira. 

Gráficos Desafios e Tendências Set24

Nesse sentido, o Brasil atualmente é referência mundial em Open Finance e tecnologias transformadoras, como o Pix. E este cenário amplo exemplifica bem aos demais setores nacionais que a tecnologia vem a favor do negócio.

Conclusão

Olhando para o recorte Brasil, a pesquisa deixa claro que os maiores desafios que as empresas enxergam para os próximos três anos são a melhora de operações, o aumento da produtividade e da participação no mercado e a redução dos custos. E, tudo isso, driblando um contexto macro de incertezas e um cenário interno de instabilidades, inflação e transformações importantes que vem se desenhando.

Para a liderança, a construção desse propósito passa pelo uso da tecnologia como ferramenta-chave. Entretanto, olhando para a maturidade digital e o mindset atuais de grande parte dos negócios, uma mudança cultural se faz necessária para impulsionar o movimento. A implementação da tecnologia precisa ser encarada como parte da estratégia, focada na mudança de processos para se tornar, definitivamente, um diferencial competitivo. 

Resumo

O recorte Brasil do estudo Desafios e Tendências das Empresas latino americana 2024 entrevistou 177 líderes e CEOs de empresas do país para entender as principais preocupações e aspirações desses lideres, e a suas visões para os próximos três anos.

Sobre este artigo

Autores
Victor Guelman

Sócio-líder de Markets e Business Development da EY Brasil

Guelman possui mais de 30 anos de carreira na área de professional services e atua em Mercados desde 2019.

Natália Sperati

Sócia da EY Parthenon para Consumer Products & Retail

Graduada em Relações Públicas pela UNESP, com pós-graduação em Gestão de Marketing pela FGV, em Gestão de Varejo pela FIA e Especialização em Gestão de Projetos pela ECA-USP.