Obenchmarking de instrumentos financeiros aplicados em um contexto de infraestrutura sustentável é vasto e complexo. O desenvolvimento de soluções financeiras para enfrentar os desafios da agenda climática e da biodiversidade é uma tendência global que, felizmente, tem criado raízes e frutos no Brasil. O capital sustentável tem se revelado um catalisador de ações ESG dentro das companhias.
Primeiramente, ao nos depararmos com a gramática financeira, é preciso definir qual seria a melhor definição de finanças sustentáveis. O termo faz jus a todo e qualquer aspecto sustentável no pleito de financiamento, considerando itens que não são apenas econômico-financeiros. Segundo o glossário da Comissão Europeia, “as finanças sustentáveis correspondem ao novo paradigma de finanças de reorientação dos fluxos financeiros para os investimentos sustentáveis, considerando, nomeadamente, aspectos Ambientais, Sociais e de Governança (ESG)”. Elas mostram, entre outras coisas, que as empresas têm comprometimento com a restauração e preservação dos recursos naturais, assim como a adaptação e mitigação das mudanças climáticas.
É nessa ótica socioambiental que nascem as métricas de avaliação e monitoramento que se materializam em um item não financeiro dentro de um contrato, por exemplo. São métricas de sustentabilidade que vão além da capacidade de pagamento de uma dívida e o fluxo de caixa. É uma estratégia de incentivo às companhias para que, por meio de suas fontes de capital, implementem ações que tenham impactos positivos no meio em que seus negócios estão inseridos.
À medida que o mercado de finanças sustentáveis cresce no Brasil, percebe-se um amadurecimento do mercado com um todo em relação a esse tema. Além dos ganhos reputacionais, as companhias perceberam que esses instrumentos podem contribuir para o atendimento de um novo tipo de consumidor, mais consciente e seletivo ao escolher fornecedores que compartilhem dos mesmos valores que eles. Outro ponto positivo é que tudo isso é parte importante da transição para uma economia de baixo carbono e com menos prejuízos sistêmicos causados pela emergência climática.
Do Social Bonds ao Green Bonds, há uma infinidade de projetos atrelados a todas as métricas de sustentabilidade que, hoje, estão diretamente ligados ao departamento financeiro e ao custo de capital das empresas. Na realidade, deixou de ser uma ação em que a iniciativa privada faria meramente por um propósito e passou a ser uma ação que pode ter um impacto econômico financeiro - seja por um custo menor, seja por uma maior liquidez devido ao número de fundos dedicados às linhas ESG. Ainda que o cenário macroeconômico tenha provocado uma redução no número de emissões sustentáveis no último ano, podemos considerar que esse mercado teve avanços significativos. Uma maior evolução da regulação e a experiência adquirida pelos financiadores e investidores já evidenciam que essas soluções vieram para ficar. Finanças sustentáveis são uma tendência no mercado mundial, que estão sendo expressivamente replicadas no mercado brasileiro. A fim de encorajar, preservar e perpetuar abordagens de investimento ESG, separamos cinco orientações ao panorama de finanças sustentáveis para as empresas em 2023:
1) Pensando em empresas médias que ainda não estão atentas a esse tipo de instrumento e possibilidade, a primeira orientação é básica: tomem conhecimento! Saibam que hoje existem instrumentos de dívida sustentável no mercado e que a liquidez relacionada a esses fundos está aumentando significativamente. É fundamental que as empresas saibam quais são as regras que estão sendo praticadas e, independentemente do porte das companhias, isso tem se tornado uma opção a ser considerada.
2) Para as empresas - de médio ou grande porte - que nunca pensaram em fazer uma dívida atrelada à sustentabilidade ou não acessaram o crédito sustentável, saibam que existe uma liquidez interessante nesse tipo de mercado que pode ser acessada para transformar a cultura organizacional do seu negócio.
3) Como mencionamos ao longo do artigo, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao departamento financeiro das companhias. Então, se antes tratamos como temáticas dissociadas, essa agenda passou a ser também de responsabilidade do CFO e do CEO. O domínio desses temas de sustentabilidade pelos gestores da agenda de capital pode representar oportunidades imediatas ou preparar a empresa para um mercado financeiro cada vez mais atento ao tópico.
4) Embora não seja um fator limitante, estamos caminhando para uma disseminação da cultura de um mercado de finanças de tal forma que as empresas têm a obrigação de se atentar a esse movimento. Isso possibilita uma compreensão mais madura de como se posicionar no futuro, mesmo não vislumbrando uma captação de finanças sustentáveis nesse momento.
5) Como vimos, o tema abarca uma complexidade desafiadora. Se antes tratávamos de aspectos exclusivamente econômico-financeiros para a tomada de decisão de estrutura de capital, o que vemos hoje é a unificação de todos esses fatores. Isso quer dizer que as empresas precisam ter o comprometimento de diversos aspectos que podem, eventualmente, influenciar o custo de capital. Por exemplo: o volume de emissão de gás carbônico (CO2), o consumo de água ou geração de rejeitos no processo produtivo. O mercado, hoje, cobra e observa todos esses aspectos de sustentabilidade. Não se trata mais de uma questão de propósito ou escolha, mas de indicadores com impactos financeiros e regulatórios.
Este artigo faz parte do ESG Guidebook. Acesse aqui o e-book na íntegra.