Eu não sou um robô
Pense em um robô – não daqueles que têm corpo e movimento, mas sim um computador com inteligência artificial – que executa todos os pagamentos de tributos de uma empresa. Boa ideia, não é mesmo? Agora, imagine que a pessoa que exercia essa função até pouco tempo atrás estudou para se tornar uma programadora de robôs. Este cenário ideal, em que tarefas repetitivas são executadas por máquinas e seres humanos são preparados para novas funções no ambiente digital, é uma realidade ainda muito incipiente no Brasil, restrita a poucas empresas.
Por isso foi criado, em abril de 2018, por organizações de diferentes setores da economia, o Movimento Brasil Digital, cujo propósito é acelerar o alinhamento do país à revolução digital – ao mesmo tempo em que cuida da inclusão da mão-de-obra no universo de trabalho do futuro.
O Movimento Brasil Digital nasceu da união do Pacto Empresarial Brasileiro pela Digitalização Humanizada do Trabalho, promovido por EY, EDP, Korn Ferry e FIAP, e do Manifesto Nação Digital, liderado pela IT Mídia e Fundação Dom Cabral (FDC). Ambas iniciativas haviam sido lançadas em 2017 e tinham como objeto a transformação digitalda economia brasileira, ainda que com enfoques diferentes. A primeira tinha como objetivo primordial a evolução da transformação digital na qual o indivíduo fosse colocado no centro da tomada de decisão, enfatizando suas características exclusivamente humanas; a segunda visava à maior competitividade do Brasil na corrida da digitalização.
Agora, a agenda comum reúne 28 empresas na busca por um país inovador e inclusivo. Para atingir tal objetivo, o movimento se organizou em torno de quatro pilares: infraestrutura, educação, empreendedorismo e governo. Como pilar transversal, a inclusão – tema sob liderança da EY – complementa as linhas de atuação da iniciativa.
Uma vez definido seu propósito, o Movimento Brasil Digital buscou um diagnóstico sobre a situação do Brasil. E o resultado não foi nada bom. No ranking global de competitividade digital da escola de negócios IMD, em 2018, o país ficou na 57a colocação entre 63 países pesquisados. O diagnóstico foi complementado por uma pesquisa exclusiva a respeito de políticas públicas de oito países em relação aos pilares do movimento, incluindo ainda um levantamento a respeito de quatro documentos já produzidos com conclusões sobre o panorama da digitalização no Brasil. Paralelamente, foram realizados dois workshops que reuniram as principais lideranças das empresas que aderiram ao movimento, nos quais foram discutidas estratégias para a digitalização humanizada no país.
Essas atividades, em conjunto, geraram um documento com propostas para cada um dos pilares do Movimento Brasil Digital, que podem ser conferidas na íntegra no site www.movimentobrasildigital.org.br.
No pilar infraestrutura, as prioridades são a ampliação ao acesso à internet em todo o país e o desenvolvimento de fontes energéticas que sustentarãoa economia; na área de educação, o foco é a introdução e preparação do ambiente educacional para acompanhamento das transformações tecnológicas; em empreendedorismo, o objetivo maior é incentivar a industrialização tecnológica no país; no governo, a busca é pelo desenvolvimento de políticas públicaspara a cooperação entre os setores público e privado; por fim, em inclusão,são apresentadas boas práticas para uma transformação digital humanizada.
Também foi estabelecido um modelo de governança para levar essas propostas adiante, sendo que cada pilar passou a ter um comitê específico. A EY Brasil lidera, ao lado da Great Place to Work (GPTW), o comitê de inclusão.
A EY tem participação em projetos de digitalização humanizada em seus clientes. Nos diversos projetos de transformação digital em que atua, a empresa sempre adota como princípio a inclusão das pessoas, orientada não à redução de postos de trabalho, e sim à realocação do ser humano em tarefas mais qualificadas.
Isso foi feito em 2017, por exemplo, na implantação de Robotic Process Automation (RPA) na EDP Brasil, empresa do setor elétrico. Com a adoção de robôs para funções repetitivas, os profissionais que as executavam anteriormente ganharam 50% de seu tempo de trabalho para se dedicar a atividades geradorasde capital intelectual.
Também em consultoria à EDP, a EY está realizando um projeto de pesquisae desenvolvimento sobre a junção da tecnologia RPA com inteligência artificial. Com isso, os robôs passaram a ter a habilidade de tomar decisões sobre problemas de negócios, podendo até ser mais eficientes do que os seres humanos. A perspectiva do crescimento desse tipo de processo reforça ainda mais a necessidade de se preparar as pessoas para as demandas profissionais do futuro.
Para entender melhor o potencial impacto dessa transformação no mercado de trabalho, a EY está apoiando a construção de um laboratório para simular osganhos de escala dessas tecnologias de automação e entender melhor como as pessoas lidarão com elas na prática. Por outro lado, o Movimento Brasil Digital propôs o desafio de induzir a formação de um milhão de programadores nos próximos dois anos – atualmente existem, no Brasil, mais de 300 mil vagas de trabalho ligadas à tecnologia não preenchidas por causa da falta de profissionais qualificados.
Outro plano do movimento no seu pilar de inclusão é desenvolver um guia de melhores práticas de transformação digital e um ranking de empresas com foco na digitalização humanizada. A expectative é que essas ações tenham o poder de induzir todo o mercado a ajustar sua mentalidade e incluir as pessoas no processo de transformação digital.