4 Minutos de leitura 1 jun 2021
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Uma nova opção para os investidores

Por EY Brasil

Ernst & Young Global Ltda.

4 Minutos de leitura 1 jun 2021

Os impactos na sustentabilidade ambiental, social e de governança empresarial passaram a ser decisivos na escolha dos ativos financeiros pelos bancos, corretoras e gestoras de investimento.

Por Nataly Briquet, gerente sênior de Estratégia e Transações da EY.

 

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a última década, os mercados mundiais mais maduros viram um boom quanto à importância do ESG, principalmente no que se refere à sustentabilidade. Os critérios para investir deixaram de ser apenas a rentabilidade e os riscos dos ativos, e se estenderam para seus impactos na sustentabilidade ambiental, social e de governança empresarial. Este movimento germina no Brasil desde 2015, mas se intensificou no ano passado e agora se multiplica com força em bancos, corretoras e gestoras de investimento. Só no primeiro trimestre de 2021 foram 26 emissões de títulos sustentáveis empresariais no país, frente a 38 emissões no ano inteiro de 2020, mostrando que há um grande espaço potencial para fundos de investimento com esse olhar.

Em 2020, o fenômeno ESG cresceu ao mesmo tempo em que o investidor teve de diversificar sua carteira para encontrar maior rentabilidade. A migração para o mercado de renda variável ocorreu em massa nos países cujos juros caíram a taxas historicamente baixas. No Brasil, onde os investidores estão menos habituados aos ativos de risco, os fundos de investimento foram uma opção muito procurada e se multiplicaram com a ampliação das empresas de investimento. Em fevereiro deste ano, o país já possuía 22,7 mil fundos, um crescimento de 15% em relação ao ano anterior.

Um fundo ESG é composto por ativos de companhias que adotam políticas sustentáveis do ponto de vista ambiental, social e/ou de governança. Com o ganho de relevância que o tema obteve globalmente, essas carteiras passaram a ser mais atrativas aos investidores por adotarem estes critérios. Essa preferência se encontra madura, principalmente no mercado europeu, com destaque para o Reino Unido. Além do ganho em reputação, as empresas ESG apresentam seus resultados com maior transparência. De acordo com o Bank of America Merrill Lynch Global Research de 2019, as companhias bem classificadas em métricas ESG “superaram o mercado em até 3% ao ano nos últimos cinco anos”.

O boom dos ativos ESG se fundiu com o dos fundos de investimento. Dessa forma, os fundos classificados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) como tipo “Sustentabilidade/Governança” também cresceram. De acordo com a instituição, trata-se de “fundos que investem em empresas que apresentam bons níveis de governança corporativa, ou que se destacam em responsabilidade social e sustentabilidade empresarial no longo prazo, conforme critérios estabelecidos por entidades amplamente reconhecidas pelo mercado ou supervisionados por conselho não vinculado à gestão do fundo”. A entidade afirma ainda que “estes fundos devem explicitar em suas políticas de investimento os critérios utilizados para definição das ações elegíveis”. Em fevereiro de 2021, o patrimônio líquido dos fundos “Sustentabilidade/Governança” foi de 1,07 bilhão de reais, quase o dobro que há um ano. A captação líquida, por sua vez, foi de 307,9 milhões de reais em janeiro e fevereiro de 2021, crescimento de 787% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A cabeça do investidor também está mudando e, se antes o impacto social era apenas um valor “a mais” entregue pelas empresas, hoje ele é visto como algo que deve estar intrínseco no próprio negócio. Os jovens investidores da atualidade, conhecidos como Millennials ou “Geração Y”, começam a visar menos uma rentabilidade alta a qualquer custo, e mais o quanto seus recursos contribuem com o desenvolvimento de empresas ou negócios socialmente ou ambientalmente sustentáveis. Lucrar é importante, mas esses ganhos devem estar atrelados a benefícios que reflitam em bens à comunidade como um todo. O EY CEO Imperative Study mostrou que os líderes à frente das empresas, por sua vez, compreendem cada vez mais a importância do tema. De acordo com o estudo, “80% dos CEOs acreditam que o governo, as empresas e o público vão recompensar as empresas por tomarem medidas significativas nos próximos 5 ou 10 anos.”

Este movimento global foi intensificado com a pandemia do novo coronavírus, que jogou luz à importância da sustentabilidade. Com a emergência sanitária, bancos e governos começaram a pensar mais intensamente em como recuperar a economia de forma sustentável. No Brasil, a questão da falta de infraestrutura, e principalmente de saneamento básico, ganhou holofotes. Ter cerca de 50% da população brasileira sem acesso à água e esgoto tratados mostrou a necessidade de obter investimento para a infraestrutura de saneamento básico no país. Esse é um exemplo que mostra o potencial brasileiro existente para o crescimento dos investimentos e captação via ESG. Ao mesmo tempo em que a Covid-19 trouxe à tona a desigualdade social, as nações com maior equilíbrio na disponibilidade de recursos se mostraram mais resilientes economicamente.

Um tipo de ativo que ganha cada vez mais força no mercado global são os chamados Sustainable Linked Bonds (SLB). Trata-se de títulos de dívida emitidos por empresas cuja rentabilidade é medida pelo impacto social e/ou ambiental. Essas emissões são atreladas a indicadores-chave de performance, os chamados KPIs dos títulos com foco em ESG, que são definidos para todo o período da emissão. Para o caso desses indicadores serem alcançados conforme previsto, a empresa emissora pode se beneficiar de uma redução da rentabilidade direcionada ao investidor, do contrário, caso a emissora não consiga cumprir com as metas, o custo da dívida pode também ser elevado.

De um lado, as companhias recebem grandes retornos reputacionais, pois denotam preocupação com questões importantes para a sociedade. Isso naturalmente atrai um interesse maior dos investidores. De outro, os investidores ficam satisfeitos em alocar recursos em empresas de impacto positivo. Além disso, ambos ganham com uma maior transparência do processo de monitoramento e apresentação de indicadores de redução.

Aliás, todo esse crescimento do mercado de ESG passa por uma regulamentação que está sendo tratada no país. A abertura do guarda-chuva sobre o que são esses compromissos na sigla, seja na mentalidade do investidor ou na oferta das empresas, está em processo de definição. Nos Estados Unidos, há normas claras sobre como um fundo deve ser composto para receber esta nomenclatura, com uma série de critérios por meio dos quais é possível verificar se o dinheiro está realmente sendo destinado para companhias ESG. No Brasil, o processo ainda é relativamente simplista, pois ainda não há um framework - palavra muito usada nesse mercado e que significa um conjunto de parâmetros que possui o mesmo propósito e pode ser utilizado por diferentes organizações - exato do que pode ser definido como ESG ou não. Dessa forma, alguns fundos acabam se aproveitando desse vácuo regulatório para se autodefinir ESG. Para aperfeiçoar essa definição, a CVM, Comissão de Valores Mobiliários, está buscando recomendações do mercado para entender como fomentar esse mercado de fundos de investimento ESG.

Outro conceito começa a adentrar o ESG. Além do E da sigla, que trata de Environment, ou seja, do meio ambiente, da sigla S, que traz parâmetros sociais, principalmente desigualdade, e do G, que é sobre governança, as empresas do mercado financeiro estão começando a incorporar metas específicas para aumentar a equidade de gênero em seu quadro de funcionários. A iniciativa Brazil Green Finance Programme, em parceria com a WILL (Women in Leadership Latin America) e o Consulado Britânico, está trazendo para o Brasil o compromisso Women in Finance Charter, dedicado a promover liderança feminina nas instituições financeiras, que já existe no Reino Unido desde 2015. A iniciativa busca auxiliar as Instituições Financeiras a alavancar seus talentos femininos às mais altas posições de liderança por meio de ações concretas alinhadas à estratégia do negócio e à realidade de cada Instituição. A versão brasileira do compromisso Women in Finance Brasil deve ser lançada em maio e como primeiras signatárias, conta com um grande banco comercial, um banco digital, uma empresa de meios de pagamento e outros dois bancos de fomento. A agenda de diversidade, equidade e inclusão já que começa a aparecer dentro dos indicadores de ESG e pode ser uma forma de atrair mais iniciativas assertivas com foco em gênero nas instituições brasileiras.

 

Conteúdo originalmente publicado na edição n°7 da Veja Insights, em parceria com a EY

Resumo

Os impactos das ESGs passaram a ser decisivos na escolha dos ativos financeiros pelos bancos, corretoras e gestoras de investimento. Saiba o pôrque.

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Por EY Brasil

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