Os executivos mais arrojados do setor de seguros têm explorado diversos novos modelos de negócio e ofertas de produtos na busca pelo crescimento, após uma década de estagnação.
Os ecossistemas são uma área proeminente de investimentos e experimentação, pois permitem às seguradoras oferecerem aos seus clientes uma variedade maior de serviços a partir de experiências digitais ricas e personalizadas. Modelos de assinatura, que dariam aos consumidores produtos e recursos flexíveis e customizáveis, constituem outro ponto focal de inovação.
Mas os sistemas tecnológicos de legado representam uma grande barreira para o desenvolvimento desses novos modelos de negócio e a modernização do portfólio de produtos. Em alguns casos, digitalizar processos requer implementações de tecnologia que são custosas e trabalhosas, acessíveis a poucas seguradoras e levam muito tempo para serem concluídas. Os ecossistemas são vistos como uma possível solução, porém somente se as seguradoras puderem facilmente trocar dados com as insurtechs e outros parceiros.
O “open insurance” pode ser a solução para enfrentar esses desafios e iniciar uma nova era de inovação no setor. Tal qual o “open banking”, o open insurance impulsionaria a portabilidade e acessibilidade dos dados de consumidores entre as diferentes instituições e players do mercado, com base em permissões dos consumidores e utilização de interfaces de programação de aplicações (APIs).
O princípio fundamental aqui é que os consumidores são os proprietários dos seus dados. No open insurance, os consumidores poderiam revisar continuamente suas opções de preços e apólices entre múltiplas seguradoras, tendo incluisive a opção de uma única visão unificada de todas as suas coberturas e contas.
Note que o open insurance ainda está em fase inicial de discussão, até mesmo em mercados nos quais o open banking já atingiu maturidade. No Reino Unido, por exemplo, uma associação de corretores tem pressionado para incluir seguros, planos de aposentadoria e investimentos sob um conceito mais amplo de “open finance”, e o Financial Conduct Authority, órgão que regula o setor de serviços financeiros no Reino Unido, tem realizado consultas públicas. Na Austrália, o sistema Consumer Data Right (CDR) poderá ser estendido a produtos de seguro. Nesses dois países, os reguladores saíram na frente; em outros mercados, como os EUA e o Japão, há iniciativas lideradas pelo mercado em andamento.
No Brasil, seguradoras e reguladores têm trabalhado juntos, de maneira proativa, para estabelecer sistemas e políticas de open insurance que beneficiarão todos os stakeholders. Algumas orientações regulatórias iniciais foram emitidas em julho de 2021. Vários players do mercado, incluindo a EY, estão desenvolvendo as estruturas de governança e os padrões de interoperabilidade necessários, como base nas estruturas de open banking existentes. Os requisitos de produtos, dados pessoais e compartilhamentos de dados devem ser concluídos em meados de 2022, com expectativa de serem implementados em 2023.
Embora diversos detalhes jurídicos, técnicos e logísticos ainda precisem ser definidos, acreditamos que o open insurance se tornar uma realidade é uma questão de quando, e não se. O empoderamento cada vez maior dos consumidores, a concorrência mais intensa e a alta comoditização de produtos tradicionais podem soar como ameaças a alguns profissionais do setor. No entanto, o open insurance eliminará várias barreiras à inovação e instigará o desenvolvimento da próxima geração de propostas de valor e modelos de negócio, sobre os quais os executivos e analistas do setor têm falado há anos.
Para além de colaborar com reguladores, as seguradoras podem se preparar para o open insurance ao adotarem a tecnologia, os talentos e as formas de trabalho que serão necessários para o sucesso. Elas podem colaborar com as insurtechs para a integração de novas fontes de dados, melhoria de elementos da experiência do consumidor, expansão de apólices por uso e inclusão de recursos ajustáveis. Metodologias ágeis de desenvolvimento, incluindo o pensamento “test and learn” e lançamentos de produtos minimamente viáveis, devem passar a ser a norma. Plataformas de desenvolvimento modular e APIs avançadas permitirão a inovação em escala ao facilitarem a conexão entre parceiros e o desenvolvimento de ecossistemas. Esses recursos serão essenciais na era do open insurance; por isso, as seguradoras precisam começar a desenvolvê-los agora.
Ponto essencial: aumentar o valor para o consumidor
Acreditamos que o open insurance dará às seguradoras a oportunidade de fortalecerem a relevância de sua marca ao melhorarem o valor fundamental que oferecem aos consumidores. Conforme as seguradoras e os reguladores continuam desenvolvendo uma visão operacional viável, eles abrirão espaço para uma indústria de seguros mais dinâmica, propositada e focada no consumidor, que acreditamos ser possível.
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