Como as mineradoras de ouro podem construir competitividade a longo prazo

Atividades de exploração em crescimento

O orçamento geral de exploração de ouro atingiu US$ 6,2 bilhões em 2021, um aumento de 42% no comparativo anual (YOY) e o maior crescimento desde 2011.⁴ Isso se deve, principalmente, ao alto caixa disponível para mineradoras com preços recordes de ouro na média de US$ 1.798/oz em 2021,
21% acima do preço de incentivo usual de US$ 1.500/oz para novos projetos de ouro⁵. Embora as reservas minerais tenham crescido apenas 1,9% para 54.000 t em 2021, espera-se que as atividades de exploração aumentem a oferta nos próximos anos.⁶

O Canadá testemunhou o maior aumento nos orçamentos de exploração: 85% no comparativo anual (YOY) para US$ 1,5 bilhão. Ao longo dos últimos anos, as atividades de exploração foram mais focadas nos próprios sites de mineração e projetos em estágio final em regiões próximas. No entanto, em 2021, o maior crescimento nas despesas foi observado na exploração Greenfield, que cresceu 114% no comparativo anual para US$ 341 milhões e deve adicionar novos recursos.⁷

Aumento das atividades de M&A

As mineradoras também estão buscando atividades de M&A apoiadas por preços fortes e níveis de dívida historicamente baixos devido a fluxos de caixa mais altos, com anúncios de negócios, em 2021, avaliados em US$ 23,7 bilhões⁸. O anúncio mais importante por valor foi a fusão entre Agnico Eagle Mines e Kirkland Lake Gold, criando um dos maiores produtores globais de ouro⁹. Outro grande negócio é a proposta de aquisição da Yamana Gold pela Pam American Silver e Agnico para alavancar a criação de valor a longo prazo.” ¹⁰

A falta de novas descobertas e proteção de margem limitou o crescimento da produção e resultou em reservas minerais em declínio nos últimos 10 anos. Na última década, apenas 25 novas descobertas de ouro foram feitas, o que constituiu apenas 7% do ouro descoberto desde 1990¹¹. A escassez de ativos e o esgotamento das reservas resultarão ainda em investimentos das mineradoras para aumentar as capacidades de produção.

Foco em iniciativas ESG

De acordo com o relatório EY Business Risk de 2021, ESG e Descarbonização continuam sendo os 2 principais riscos de negócios para as mineradoras. Várias grandes mineradoras estabeleceram metas ambiciosas para atingir emissões líquidas zero e estão trabalhando em várias áreas. A análise de sustentabilidade das principais mineradoras, no ano passado, revela que o foco principal tem sido a mudança climática e a sustentabilidade, juntamente com o desenvolvimento da comunidade.

Reciclagem ganha tração

Apesar da reabertura das economias, a oferta de ouro reciclado caiu 11% para 1.150 t em 2021 no comparativo anual (YOY), com menores volumes de reciclagem nas principais regiões da China e da Índia.¹² No entanto, espera-se que a demanda se recupere, pois os preços permanecem altos, enquanto a oferta pelas minas cresce gradualmente.

Com o aumento contínuo da demanda, as empresas estão tentando extrair o máximo valor das novas técnicas de reciclagem. Por exemplo, a organização produtora de moedas do Reino Unido, Royal Mint, planeja construir instalações para extrair ouro com uma tecnologia que recupera 99% dos metais preciosos do lixo eletrônico.¹³

Repensar modelos de negócios e usar atividades de financiamento verde

As principais mineradoras colaboraram com o World Gold Council, para conceber princípios ESG para guiar a extração de ouro responsável (os Princípios da Extração de Ouro Responsável) e cobrir as seguintes áreas-chave:

1. Ambiente: gestão ambiental, biodiversidade, uso da terra e fechamento de mina, juntamente com água, energia e mudanças climáticas.
2. Social: segurança e saúde, direitos humanos e conflitos, direitos trabalhistas e trabalho com as comunidades.
3. Governança: conduta ética, entendendo o impacto da mineração de ouro e da cadeia de suprimentos.

Os princípios criados em colaboração com a maioria das grandes e lançados em 2019 são acompanhados por orientações que permitem às empresas de mineração proporcionar garantias em cada uma dessas áreas-chave.

Os Princípios de Mineração de Ouro Responsável visam alcançar uma mineração sustentável

Investimentos crescentes e o consumo de joias sustentam a demanda a longo prazo

O ouro está demonstrando cada vez mais importância por meio de ETFs e ativos físicos em carteiras de investimento, pois os investidores procuram ofertas relativamente mais seguras, em um ambiente de condições macroeconômicas incertas. Embora as participações em ETFs tenham caído 173 t (toneladas) em 2021, as participações gerais permanecem acima dos níveis pré-pandemia. A demanda do consumidor por joias aumentou, especialmente na Índia e na China, à medida que as economias se recuperavam e as restrições de Lockdown diminuíam. A demanda industrial também aumentou, crescendo 9% ano a ano (YOY) para 330 t e espera-se que cresça ainda mais, com a aplicabilidade tecnológica em eletrônicos de veículos, infraestrutura de comunicações e sistemas autônomos.¹⁴

Demanda dos bancos centrais

Entre 2010-2021, China e Rússia aumentaram significativamente as reservas, crescendo 85% para 1.948 t e 192% para 2.302 t. A atual incerteza geopolítica elevou a demanda por reservas de países emergentes, com grandes compras da Tailândia (90,20 t), Japão (80,76 t) e Índia (77,45 t).¹⁵ A demanda por reservas dos bancos centrais pode continuar a crescer à medida que os países tomam medidas para administrar as flutuações cambiais e se proteger contra incertezas macroeconômicas.

Alternativas de financiamento verde para ganhar mais tração

A emissão global de títulos verdes, sociais, de sustentabilidade e vinculados à sustentabilidade cresceu 85% no comparativo anual (YOY) para US$ 1,1t em 2021.¹⁶ As mineradoras também estão aproveitando títulos associados à sustentabilidade, bem como fundos negociados em bolsa, com foco em ESG no mercado, para financiar projetos específicos ou qualquer atividade corporativa destinada a atingir metas ambiciosas de emissões. Por exemplo, a Newmont introduziu o primeiro título vinculado à sustentabilidade da indústria de mineração, com receitas líquidas de US$ 992 milhões com foco na limitação de emissões de carbono e paridade de gênero em cargos de liderança sênior¹⁷. Espera-se que o financiamento verde cresça nos próximos anos à medida que as mineradoras continuam a buscar oportunidades de financiamento para iniciativas de sustentabilidade.

Digitalização e eletrificação para liberar valor de longo prazo para mineradoras

À medida que a demanda por ouro cresce, espera-se que os desenvolvimentos tecnológicos impulsionem a eficiência das operações de mineração. A inovação é necessária para permitir que minérios complexos já conhecidos, de menor teor, sejam minerados tanto economicamente quanto de forma ambientalmente sustentável.

A digitalização tem o potencial de liberar maior valor de longo prazo nas operações de mineração, por meio de maior eficiência, tomada de decisões e segurança das operações. As mineradoras estão colaborando cada vez mais com empresas de equipamentos, tecnologia e serviços de mineração (Mining, Equipment, Technology and Services - METS), para desenvolver soluções integradas e automatizadas, abordando desafios desde a construção até os gastos de capital. Por exemplo, a Newcrest está trabalhando com a Epiroc para fornecer automação na mina subterrânea Cadia East, o que ajudará a reduzir as taxas de exposição a riscos em comparação com operações manuais.¹⁸

A eletrificação pode permitir uma mudança para o consumo de energia verde

As mineradoras estão adotando fontes de energia mais limpas em frotas e incorporando tecnologia renovável para alimentar as operações de mineração. Até 2028, espera-se que o valor de mercado dos veículos elétricos nas operações globais de mineração chegue a US$ 9 bilhões.¹⁹ Além de reduzir as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa), a eletrificação é fundamental para melhorar os níveis de segurança dos funcionários, pois elimina o ruído, a vibração, o excesso de calor e os gases de exaustão, tornando as condições de trabalho mais convenientes nas minas.

Incertezas geopolíticas e atividades de mineração ilegal impactam a produção na África e na América Latina (LatAm)

A África e a América Latina representam, coletivamente, 42% da produção global de minas de ouro, portanto interrupções nas operações podem afetar significativamente a competitividade do ouro. Por exemplo, mudanças nos impostos e protestos da comunidade local no Peru podem impactar o pipeline de novos projetos nos próximos anos.

Além disso, as atividades de mineração ilegal na América Latina e na África, principalmente por meio de garimpeiros artesanais e de pequena escala, continuam a afetar a lucratividade das mineradoras. Em 2016, estimou-se que cerca de 28% do ouro extraído no Peru, 31% na Bolívia, 77% no Equador, 80% na Colômbia e 91% na Venezuela foram produzidos ilegalmente, o que só aumentou com os preços crescentes.²⁰ Além do impacto nas margens, as atividades ilegais também estão impactando os recursos e a saúde e segurança dos funcionários, devido às condições operacionais não padronizadas. Por exemplo, em Gana, 60% dos corpos d'água estão poluídos, em grande parte devido a atividades ilegais de mineradores de pequena escala.²¹