Technologia

Desafio da Produtividade em Portugal


Respondendo a desafios de várias entidades parceiras, a EY-Parthenon desenvolveu uma análise dos grandes desafios que se colocam a Portugal em matéria de produtividade, explorando perspetivas macro, meso e micro como vias de explicação complementares das barreiras que limitam o crescimento no país.  

Existem duas vias essenciais para a mudança substantiva do modelo de crescimento do nosso país, capazes de induzir um verdadeiro scale-up da produtividade: investir radicalmente na inovação de produto/serviço e apostar massivamente em marketing/marcas para melhorar com significado o valor do que produzimos e inovamos.

Após um processo muito bem-sucedido de catching-up face à média europeia entre 1986 e 1999, Portugal encontra-se desde o início do século XXI naquilo que se pode designar por “armadilha do desenvolvimento intermédio europeu”.

Com efeito, entre 1986 e 1993, Portugal conseguiu um crescimento médio anual do PIB per capita em paridades de poder de compra de 6%, contra um crescimento médio europeu de apenas 2,4%. Entre 1994 e 1999, este crescimento médio anual reduziu-se para 5,6%, mesmo assim ainda superior à média europeia, que foi de 4,4%. Entre 2000 e 2006, o crescimento anual nacional não foi além dos 2,1%, começando a distanciar-se do crescimento médio europeu, que se cifrou em 2,2%. Entre 2007 e 2013, a realidade agravou-se, com uma retração anual nacional de -0,3% contra um crescimento europeu de 0,6%. Nos anos subsequentes até à pandemia da Convid-19, a realidade melhorou um pouco, com um crescimento nacional anual do PIB per capita de 3,6% contra um crescimento médio europeu de 2,9%. Entre 2019 e 2022, o crescimento do PIB per capita em Portugal e na UE revelou-se próximo e anémico, não ultrapassando os 0,8%.  

PIB real per capita em PPC (US$, 2017) | 1960-2020

Penn world graph Fonte: Análise EY-Parthenon baseada em Penn World Tables

Esta performance portuguesa é dececionante, sobretudo se a compararmos com países como a Irlanda, que, entre 2000 e 2019, registaram crescimentos médios anuais do PIB per capita em paridades de poder de compra de quase 6%, países que em 1986 apresentavam um nível de desenvolvimento inferior ao nosso. Isto significa que Portugal não conseguiu, de forma adequada, transformar os seus fatores de sucesso tradicionais na transição para uma economia desenvolvida, caindo na designada armadilha do desenvolvimento intermédio europeu, impeditiva da melhoria das condições de vida da sua população.

São múltiplas as razões que justificam esta realidade, mas a mais importante parece ser a incapacidade que o país revela em fazer crescer de forma relevante a produtividade dos seus fatores produtivos, nomeadamente a produtividade total dos fatores e a produtividade do trabalho. Isto acontece porque ainda não interiorizamos que, no estágio de desenvolvimento em que nos encontramos, já não é possível (continuar a) crescer de forma significativa com o modelo de desenvolvimento que usamos de forma bem-sucedida no passado. Precisamos, pois, de adotar rapidamente uma nova fórmula de crescimento que permita um scale-up da produtividade nas empresas e no país.

Na ciência económica, a produtividade é uma medida ou indicador de eficiência económica que avalia a relação entre os recursos utilizados nos processos produtivos (inputs) e os produtos finais (outputs). Em termos práticos, há várias formas de medir a produtividade, sendo a mais usual a produtividade (aparente) do trabalho, embora a produtividade total dos fatores seja também comum. Em ambos os casos, a produtividade é medida em valor, sendo que a produtividade do trabalho tem a vantagem de ser muito fácil de calcular (pelo rácio entre o VAB e o emprego) e, por isso, é a medida mais recorrente, embora não capte integralmente o efeito do fator trabalho, pois é influenciada pelo nível de capital que “equipa” os trabalhadores e por muitos outros determinantes mais indiretos da produtividade do trabalho.  

Ter presente que a produtividade é (usualmente) medida em valor é absolutamente fundamental, pois obriga a nunca esquecer que a produtividade é influenciada por dois fatores essenciais: a capacidade das organizações para valorizar os seus outputs no mercado (produtividade-valor) e a eficiência física com que elas utilizam os seus inputs para os produzir e disponibilizar no mercado (produtividade-volume). Estes dois vetores da produtividade são influenciados por inúmeros fatores de natureza macro (e.g. estabilidade política, fiscalidade, nível de investimento, nível de capital humano, abertura ao exterior, ambiente de negócios, regulação de mercados), meso (mudanças intra e inter-setoriais) e microeconómica (e.g. qualidade da gestão, capacidade de inovação, capacidade empreendedora, competência em marketing).

Priorização das apostas para promover a produtividade em Portugal

Analysis EY parthenon Fonte: Análise EY-Parthenon

Como Portugal não pode apostar em tudo ao mesmo tempo, até pela sua pequena dimensão e pela escassez de recursos de que dispõe, vejo duas vias essenciais para a mudança substantiva do nosso modelo de crescimento, capazes de induzir um verdadeiro scale-up da produtividade: investir radicalmente na inovação de produto/serviço (no sentido shumpeteriano do termo, isto é, com escala para a europa e para o mundo e com criação destruidora) e investir massivamente em marketing/marcas, para melhorar de forma significativa o valor de tudo o que produzimos e inovamos.

    Leia o artigo sobre o tema na revista Exame

    Leia o estudo na íntegra


    Resumo

    A EY-Parthenon elaborou uma análise dos grandes desafios que se colocam a Portugal em matéria de produtividade. Esta análise começa por explicitar os principais conceitos e determinantes da produtividade vista pela perspetiva económica. Segue-se a exploração do tema e da sua evolução no mundo desenvolvido (nomeadamente EUA e Europa) pela perspetiva macro, meso e micro. Subsequentemente, é avaliada com detalhe a realidade nacional, evidenciando-se a armadilha do desenvolvimento intermédio europeu em que Portugal está mergulhado fruto da sua incapacidade para fazer aumentar de forma relevante a produtividade. A análise termina com a exploração das políticas de promoção da produtividade implementadas no país e do balanço da sua execução.  

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