A IFRS 17 terá impacto limitado na estratégia e solidez financeira global, mas em capitais próprios e resultados pode ser significativo
AEY analisou a informação divulgada publicamente por 20 grupos seguradores em apresentações para investidores, com referência a 31 de dezembro de 2022. Na publicação de março de 2023 intitulada “Market updates on impact of IFRS 17 and IFRS 9 - Observations from investor presentations by selected insurance groups” foram destacados os seguintes resultados:
- A maioria das seguradoras espera alterações mínimas ao nível da estratégia, gestão de capital e na capacidade de distribuição de dividendos
- A contractual service margin (CSM) será o Key Performance Indicator (KPI) para avaliação da rentabilidade futura passando a ser incluída em novas métricas de valor
- Reconhecer uma maior CSM na transição tem um impacto negativo em capitais, mas será uma reserva de ganhos a libertar em anos futuros, principalmente em Vida
- Em Não Vida, espera-se uma melhoria dos resultados técnicos por via da inclusão do efeito do desconto dos cash flows de sinistros
- Em termos de divulgação, a maioria não planeia divulgar um balanço e P&L muito detalhados
No respeitante a metodologias adotadas, a análise da informação publicada revelou como principais opções tomadas: (i) a alavancagem na ‘framework de Solvência II’ na utilização dos pressupostos e cálculo das responsabilidades; (ii) a adoção do ‘Premium allocation Approach (PAA)’ pelas seguradores Não Vida; (iii) a utilização da ‘Bottom-up approach’ na derivação da curva de desconto; (iv) a aplicação da ‘OCI approach’ que permite às seguradoras reconhecer as alterações de curva de desconto em reserva de forma a reduzir a volatilidade em P&L; (v) a aplicação das ‘Retrospective approaches’ (modificada e completa), sendo o fair value aplicado a uma parte menos significativa da carteira
Fazendo agora um zoom-in nas métricas de avaliação da performance financeira divulgadas pelos grupos seguradores, foram destacados os seguintes KPI’s:
- Rácio combinado: a maioria irá usar o rácio combinado com base nos prémios brutos adquiridos, existindo algumas seguradoras que continuarão a usar os prémios adquiridos, líquidos de resseguro;
- New Business: avaliado através da nova rúbrica CSM do negócio novo a cada ano;
- CSM: algumas seguradoras planeiam apresentar separadamente a rúbrica CSM na face do balanço.
- Return on equity (ROE): várias seguradoras planeiam excluir do capital próprio o valor de OCI, na medida em que o OCI está antes previsto para fornecer uma melhor adequação entre a reavaliação dos investimentos e das responsabilidades;
- Taxa de cedência: este indicador está a ser ajustado pelas seguradoras incluindo o valor da CSM no seu denominador;
- Resultado operacional: é esperado um resultado similar ou inferior à IFRS 4. As seguradoras esperam uma redução entre 5% a 25%, impulsionada essencialmente pelo negócio Vida;
- Nível de capitais próprios: espera-se uma redução em capitais próprios na transição que pode variar entre 5% a 50% principalmente nas seguradoras mistas e de Vida;
- Ajustamento de risco: esta métrica pode apresentar diferentes níveis de calibração, dependendo do apetite ao risco de cada seguradora. As metodologias Cost of Capital e Value at Risk são as mais aplicadas, estando os níveis de confiança pulicados entre os 62,5% e os 90%;
- Padrão de libertação da CSM: este indicador permitirá aos analistas antecipar o lucro futuro esperado de cada seguradora. A libertação esperada da CSM em função do seu valor antes da libertação varia entre 4% a 12% a cada ano, dependendo do tipo de negócio
As seguradoras em Portugal estão a finalizar a implementação da IFRS 17 e a preparar as futuras divulgações públicas previstas para abril de 2024. Os impactos finais da adoção da norma não são ainda conhecidos, mas antecipam-se estar alinhados com os impactos observados a nível internacional.