A pandemia veio introduzir novas disrupções no setor da mobilidade, mas também reforçar tendências já existentes. Estará o ecossistema em Portugal preparado para lidar com estes desafios?
Gerir um negócio que tem como objetivo transportar pessoas e carga quando as primeiras não se podem movimentar tem sido o principal desafio desde o início da pandemia.
Em termos de contexto do ecossistema de mobilidade, espera-se o agravamento de outros desafios já verificados em Portugal nos últimos anos:
- a crescente taxa de urbanização (cerca de 66% da população em 2020), com impacto no aumento do congestionamento e poluição nos centros urbanos;
- os utilizadores de serviços de mobilidade são cada vez mais exigentes em termos de personalização, flexibilidade e integração multimodal do serviço prestado;
- os impactos no congestionamento urbano da economia de partilha e modelos de negócio sustentados na gig economy as exigências da agenda da sustentabilidade, com forças disruptoras a surgirem de entidades regulatórias, mas também dos consumidores;
- o reforço da importância da viatura privada e a quebra relativa do transporte público, associadas aos efeitos duradouros da pandemia na confiança social;
- o crescimento da procura pela mobilidade elétrica, sendo necessários mais incentivos, mas também maior capilaridade da rede de carregamento público e privado.
A pandemia trouxe ainda mais disrupção, com mudanças nos comportamentos em resultado da quebra da confiança social, preferência por meios de transporte de ocupação única, e maior abertura para partilhar dados pessoais. A continuação, ou não, destes comportamentos, num período em que se espera o “aliviar” da pandemia, é uma das principais incertezas para 2022.
O ecossistema de mobilidade nos grandes centros urbanos em Portugal poderá ter de lidar com quatro principais desafios em 2022 e nos anos seguintes:
- Gestão do tráfego urbano: os operadores deverão tentar induzir a adoção de comportamentos positivos para a mobilidade (e.g., implementação de taxas de congestionamento e poluição, desfasamento de horários e políticas dissuasoras do uso da viatura privada), explorar o conceito “cidades 15 minutos” e outras abordagens inovadoras ao planeamento e desenho urbano, e reformular a logística urbana através da descentralização dos centros logísticos e a reconversão de espaços urbanos. Solucionar o congestionamento de tráfego em horas de ponta é um desafio “antigo”, pois o problema persiste, mas a pandemia veio trazer mais imprevisibilidade nas reais horas de ponta e nos terminais das deslocações pendulares (devido à mudança de comportamento habitacional, com muitos residentes dos centros urbanos e suburbanos a deslocarem-se para a periferia, fazendo mais viagens transversais às localidades, onde a oferta de transporte público é menor);
- Acessibilidade dos transportes públicos: garantir a rentabilidade da operação no contexto de possível redução global da procura, procurar investir na transição energética das frotas, aumento da qualidade e fiabilidade do serviço, e reforço da capilaridade nas zonas urbanas e densificação nas zonas periféricas dos centros urbanos;
- Otimização das infraestruturas energéticas e redes de transporte: a discussão em torno da falta de incentivos à mobilidade elétrica irá continuar, bem como o investimento no aumento do nível de cobertura dos modos suaves, o papel da gestão de condomínios na promoção da mobilidade elétrica, e a integração progressiva do estacionamento no sistema de mobilidade das cidades;
- Mobilidade alternativa: continuará a ser discutido o papel de uma hipotética entidade gestora da mobilidade a nível nacional e a criação de condições que fortaleçam Portugal como local privilegiado para a experimentação das novas soluções de mobilidade (por exemplo, de mobilidade autónoma).
Faça o download do estudo completo em "Portugal: Desafios para 2022 – 3ª edição - Parte II".