O avanço da tecnologia poderá ser um facilitador no processo de gestão de desempenho, no entanto o lado humano não pode ser substituído dado o seu contributo para o reconhecimento da individualidade de cada um.
A avaliação de desempenho é um tema fundamental que permanece na agenda das equipas de gestão das organizações. Isto deve-se ao seu impacto não só na motivação dos colaboradores, como também nos sistemas de reconhecimento, como renumeração, atribuição de bónus e evolução de carreiras. Ainda assim, apesar da sua crescente importância, as áreas de gestão de pessoas continuam a enfrentar o desafio de estabelecer sistemas que sejam justos, claros e eficientes e percecionados desta forma pelos colaboradores.
Uma das inovações mais recentes neste tema é a introdução da inteligência artificial (IA) nos sistemas de gestão de desempenho, a qual veio mudar o paradigma da equidade e a perceção da mesma nos sistemas de avaliação.
Um dos argumentos a favor do uso da IA integrada aos sistemas de avaliação é a capacidade de proporcionar avaliações baseadas em dados e avaliações objetivas, sugerindo objetivos de desempenho personalizados a cada colaborador de acordo com o seu histórico de desempenho e benchmarking das indústrias. Através dos algoritmos de IA, estes permitem identificar e alertar sobre possíveis vieses humanos conscientes e inconscientes, resultando em avaliações de desempenho mais justas.
A transparência do processo é um dos fatores que mais influencia a perceção de justiça. Segundo um estudo da McKinsey (2018), colaboradores que entendem os critérios e processos pelos quais a IA avalia o seu desempenho tendem a considerar o sistema mais justo. Contudo, a complexidade dos algoritmos de IA pode dificultar o entendimento e compreensão de como as avaliações são calculadas, o que por si, pode levar a possíveis perceções de injustiça.
Desta forma, é essencial que as organizações apresentem a IA como um apoio à avaliação de desempenho e não como um substituto. A IA pode ser um forte aliado para fornecer dados e insights valiosos, mas não deve substituir a observação humana, que reforça o conhecimento individual de cada pessoa. Este equilíbrio pode ajudar a garantir que todos os colaboradores se sintam justamente reconhecidos.
Como podemos assegurar um equilíbrio sustentável entre ambas as componentes?
- Proximidade na relação entre quem avalia e os avaliados: Desenvolver relações próximas e baseadas em confiança são essenciais para capturar os contextos individuais que a IA não alcança, como esforço individual de cada um.
- Processo Transparente: Deve existir uma comunicação clara de como a IA entra no processo de avaliação de desempenho, quais os critérios em causa, e ainda explicar como funcionam os algoritmos que alimentam os dados e/ou as decisões da IA.
- Feedback: O feedback deverá fazer parte do ciclo de avaliação para que os colaboradores possam ter a oportunidade de obter mais contexto sobre a sua avaliação e quais os comportamentos observado.
- Ferramenta de Suporte: Dado que existem aspetos da natureza humana que a IA não consegue avaliar de forma objetiva, mas têm impacto na performance, esta deverá ser utilizada como suporte e não substituo completo da avaliação humana.
- Aposta na melhoria contínua do processo: Implementar um processo de melhoria contínua para assegurar a eficácia e justiça das avaliações de desempenho, o que inclui a revisão regular dos algoritmos.
- Sensibilização sobre os benefícios da IA: Deverá ser realizada uma comunicação clara dos impactos positivos e benefícios do uso da IA, por exemplo como melhora a redução de vieses humanos inconscientes e leva à melhoria da precisão das avaliações.
- Formação: É importante desenvolver competências relevantes para o processo de avaliação, como a capacidade de observação, competências relacionais e de comunicação de forma a aumentar a qualidade das avaliações e fortalecer a relação, aumentando a perceção de justiça e melhorando o relacionamento entre avaliadores e avaliados.
Devemos promover uma integração sustentável da IA nos processos de gestão de desempenho, mantendo sempre um equilíbrio com a observação e avaliação humana. A transparência do processo, a sensibilização da organização perante o uso da IA e a melhoria contínua são fundamentais para promover uma cultura de justiça e garantir que todos os envolvidos se sintam valorizados e avaliados de forma justa.
artigo escrito por Sofia Navarro, Manager EY, People Consulting