As alterações climáticas já não passam despercebidas, nem aos mais céticos.
Assistimos a um acentuar das condições climatéricas extremas, que propiciam nesta época de Verão a ocorrência de incêndios, corroborando as publicações de referência, que demonstram a relação deste fenómeno e a tendência de aumento dos níveis de risco de incêndio e de “mega incêndios”, assim como épocas de incêndio mais longas. Nestes últimos dois meses, a área total ardida na União Europeia (EU) foi quatro vezes superior à média da área ardida no período homólogo de referência 2006-2021, de acordo com o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais.
As condições climáticas extremas, especialmente temperaturas altas e períodos de seca e de baixa precipitação, são responsáveis pela redução substancial de rendimento das safras de verão da UE. Desde junho, várias zonas da Europa registaram as temperaturas mais elevadas dos últimos 30 anos em solo arável. E, se este é o cenário em terra…
No mar Mediterrâneo uma onda de calor marinha (OCM) tem alterado as temperaturas superficiais, com registos máximos de 30ºC. O aumento na frequência e intensidade de OCM e de eventos de mortalidade em massa de organismos marinhos são também um dos impactes climáticos nos ecossistemas marinhos. O primeiro estudo a avaliar os efeitos da mortalidade em massa à escala do mediterrâneo ao longo de cinco anos consecutivos, aferiu que algumas das espécies mais afetadas são fundamentais para a manutenção do funcionamento e da biodiversidade dos principais habitats costeiros.
As alterações climáticas e a perda da biodiversidade são das maiores ameaças à Humanidade. A Lei de Bases do Clima veio reconhecer a situação de emergência climática e, embora esta recognição não constitua uma declaração de estado de emergência, não deixa de ser pertinente, a ressalva de que, de futuro, tal possa vir a acontecer por motivos relacionados com o clima. Este diploma veio também definir o direito ao equilíbrio climático: o direito de defesa contra os impactes das alterações climáticas, mas também, o poder de exigir às entidades públicas e privadas o cumprimento dos deveres e das obrigações a que se encontram vinculados em matéria climática. Mais do que nunca, este é o momento dos governos e organizações ocuparem o seu lugar enquanto parte integrante da solução.
Além de mudanças tecnológicas e económicas, é imperativa a mudança da maioria dos aspetos comportamentais em sociedade - só assim será possível superar os limites de adaptação, construir resiliência e reduzir o risco climático garantindo um desenvolvimento inclusivo e justo.
O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas identifica 61 comportamentos que, além de potencialmente materiais relativamente às alterações climáticas, impactam positivamente os objetivos do desenvolvimento sustentável. A pergunta que impera é: Como ativar a mudança comportamental?
Embora a resposta a esta pergunta seja em si só uma área de estudo, uma das técnicas mais eficazes consiste em compreender e evidenciar como os comportamentos refletem e honram os valores organizacionais - e/ou individuais.
As narrativas e storytelling das empresas têm um poder galvanizador. É necessário um novo universo delas. E, se antes havia vulnerabilidade ao greenwashing, hoje existem disponíveis serviços especializados e ferramentas como a taxonomia europeia que permitem transparência e rigor científico.
Estão as organizações disponíveis e recetivas à mudança?