5 minutos de leitura 25 fev 2022
Hiker with yellow raincoat in the viewpoint with volcanic crater in the azores islands

Desafios da descarbonização para as empresas

As estratégias de descarbonização e transição energética implementadas são cada vez mais uma vantagem competitiva na forma como as empresas operam e se posicionam no mercado.

Durante a próxima década, o desafio das alterações climáticas incita a uma ação urgente e concertada, a um caminho partilhado, onde os diversos atores poderão ter um papel preponderante, na transição para uma sociedade descarbonizada, através da construção e desenvolvimento de soluções, que na sua génese promovam a resiliência, inovação e sustentabilidade.

Assim, torna-se fundamental a contextualização histórica e o enquadramento global, no que a matéria de clima diz respeito, onde se resume os principais marcos a nível internacional e nacional, e se demonstra a necessidade e a urgência de uma ação climática.

Enquadramento internacional e nacional
2016                                            O Acordo de Paris estabelece o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global abaixo dos 1,5ºC e a descarbonização até 2050. Esta meta assenta no conceito da neutralidade carbónica, o que implica uma redução profunda das emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE).
2017-19 Portugal assumiu, em 2016, o compromisso de neutralidade carbónica até 2050. Neste sentido, foi desenvolvido o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050), publicado através da Resolução de Conselho de Ministros n.º 107/2019, e que constitui a Estratégia de Longo Prazo apresentada às Nações Unidas.
2019 A Comissão Europeia (CE) adotou o Pacto Ecológico Europeu, que constitui uma visão estratégica de longo prazo de redução das emissões em 80% a 95% até 2050, para atingir o objetivo de neutralidade carbónica e contribuir para os objetivos de Paris.
2020 Em articulação com o RNC2050, foi desenvolvido o Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030), publicado através da Resolução de Conselho de Ministros n.º 53/2020, enquanto principal instrumento de política energética e climática nacional para a década 2020-2030.  Com a apresentação do “Fit for 55”, os atuais PNEC serão sujeitos a revisão para estarem alinhados com a nova ambição climática europeia de acordo com o pacote.
2021

Para garantir o cumprimento do objetivo, que incorpora na legislação europeia o objetivo da neutralidade carbónica até 2050 e visa assegurar que as políticas europeias contribuem para este objetivo.

Adicionalmente, foi apresentado um pacote de medidas intitulado “Fit for 55”, que deverá atualizar as políticas climáticas e energéticas da UE para que correspondam ao compromisso de reduzir as emissões em, pelo menos, 55% até 2030, face a 1990.

Mais recentemente, foi aprovada a lei do clima nacional (Lei n.º 98/2021 – Lei de Bases do Clima), que verte na legislação nacional o objetivo da neutralidade carbónica e define as bases da política de clima, assim como os objetivos e princípios, com implicações a nível das políticas de mitigação e adaptação às alterações climáticas.

Enquanto instrumentos de mitigação da escassez de recursos naturais e de combate às alterações climáticas, as estratégias de descarbonização e transição energética implementadas ao nível empresarial são cada vez mais uma vantagem competitiva na forma como as empresas operam e se posicionam no mercado. 

São diversos os desafios que induzem as empresas a integrar nas suas estratégias de negócio e de operação a preocupação com a neutralidade carbónica, destacando-se:

  • Os desafios regulatórios, desde novas obrigações de reporte, evolução do Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE) e novos mecanismos de carbon pricing;
  • Os desafios económicos e financeiros, incluindo a eficiência e sustentabilidade dos negócios, as novas cadeias de produção, a resposta à alteração dos padrões de consumo, o posicionamento no mercado e as novas oportunidades de financiamento/incentivos;
  • Os desafios tecnológicos e de conhecimento, desde a I&D e inovação tecnológica “smart” até às plataformas colaborativas e de comunicação, à atração de talento e de novas competências, às novas iniciativas empresariais e coletivas carbon neutral, à educação e consciencialização da população e ao aumento do engagement dos colaboradores;
  • Os desafios reputacionais, nomeadamente a crescente pressão dos stakeholders e investidores (e.g. Task force for Climate-related Financial Disclosure) e a cultura empresarial de maior responsabilidade social e corporativa.

As principais ações de descarbonização alavancadas nas empresas podem ser enquadradas em sete estratégias de descarbonização, e tendencialmente, tem-se verificado que existem algumas mais populares dentro das organizações, designadamente as relacionadas com a eficiência energética e para a captura de carbono, podendo resultar da facilidade de implementação/operacionalização e custo.

Principais ações para a descarbonização nas empresas

  • Eficiência energética

    • Isolamento térmico de edifícios
    • Tecnologia digital (IA) para melhorar a eficiência energética
    • Sistemas de Gestão de Energia
    • Instalação de contadores de monitorização, desenvolvimento de “comboios híbridos” e implementação de interface de condução eco-friendly
    • Sistema de Gestão de Energia de Edifícios (BEMS)
    • Substituição de equipamentos
     
  • Utilização de gases renováveis

    • Sistema de produção, armazenamento e utilização integrada de hidrogénio verde
    • Produção de hidrogénio verde com recurso a energias renováveis
     
  • Energias renováveis

    • Utilização de eletricidade verde
    • Instalação de geradores eólicos
    • Investimento em energias renováveis (aumento da produção de energia de baixo teor de carbono)
     
  • Eficiência dos materiais

    • Redução das emissões associadas à deposição de plásticos em aterro, através de simbioses industriais
    • Eliminação progressiva da utilização de plástico para embalagens de bens de consumo
     
  • Utilização de biomassa

    • Instalação de caldeiras de biomassa
    • Modernização de caldeiras
     
  • Captura de carbono

    • Utilização do CO2 como solvente no tingimento de tecidos
    • Utilização CO2 como matéria-prima para transformação em rochas carbonatadas
    • Tecnologia carbicrete, que reduz a utilização de cimento na produção do betão
    • Dispositivo descentralizado de captura de carbono para reduzir as emissões na indústria de produção de calor
    • Tecnologia de captura de CO2 para incorporação na produção de plásticos
    • Bioplástico com pegada de carbono negativa (aircarbon)
     
  • Outras inovações

    • Carbon free aluminium
    • Clientes que alugam os veículos em vez de os adquirirem
    • Processos biológicos para produzir, depositar e fixar pigmentos em têxteis
    • Sacos biodegradáveis, não tóxicos e carbono negativos

Existe atualmente um conjunto alargado de instrumentos financeiros públicos nacionais e europeus que podem ser mobilizados para a promoção da descarbonização ao nível empresarial. Dos apoios ao investimento já disponíveis a nível nacional, destacam-se os avisos abertos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a componente da descarbonização do setor industrial (ver caixa).

Acrescem, ainda, outras formas de financiamento também disponíveis no mercado para empresas que queiram investir na descarbonização, nomeadamente o crowdfunding (financiamento colaborativo), as green bonds (obrigações verdes) e outros instrumentos financeiros direcionados para o financiamento de capital e dívida.

Apoios disponíveis no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)

Aviso N.º 01/C11-i01/2021 

Apoio à elaboração de roteiros de descarbonização da indústria e capacitação das empresas

Dotação:

10 Milhões de euros

Beneficiários:

Associações empresariais e centros tecnológicos dos diferentes setores industriais

Elegibilidades:

Capacitação das empresas e elaboração de instrumentos de informação (roteiros setoriais para a neutralidade carbónica); capacitação dos recursos humanos e dinamização de redes de empresas visando a sua implementação

Data de encerramento:

31 março 2022

Artigo escrito em coautoria por Diogo Rolim Martins, Senior Manager, EY-Parthenon

Faça o download do estudo completo em "Portugal: Desafios ESG para 2022".

 

Resumo

O desenvolvimento de estratégias para uma descarbonização efetiva revela-se, assim, um processo complexo para o qual é necessário determinar a priori as principais motivações e consequentes desafios com que cada empresa se defrontará e para estes identificar quais os principais enablers que poderão viabilizar a aceleração de todo o processo.