A Economia do Mar em Portugal enfrenta importantes desafios que condicionam o reconhecido potencial de afirmação internacional do nosso país e que devem ser abordados de forma proativa e eficaz
AEconomia do Mar tem vindo a assumir uma crescente relevância ao longo das últimas décadas, não só enquanto fonte de recursos necessários para satisfazer a crescente procura global (e.g. alimentos), mas, também, enquanto plataforma de excelência para o surgimento de atividades emergentes como a produção de energias renováveis offshore ou a biotecnologia marítima.
Portugal tem vindo a acompanhar esta dinâmica, com a Economia do Mar a ganhar maior protagonismo no país. De acordo com dados do INE, a Economia do Mar já representa mais de 4% do PIB nacional. As atividades que lhe estão associadas, no seu conjunto, tiveram uma performance recente acima da média nacional, destacando-se as fileiras do turismo (costeiro), da pesca, da indústria do pescado ou da logística.
A relevância económica estrutural da Economia do Mar em Portugal também se reflete em comparações internacionais, com o país a apresentar a 7ª maior quota do Valor Acrescentado Bruto (VAB) na economia nacional de entre os Estados-Membros da UE. Acrescenta-se o facto de ser, também, um dos países que viu a sua quota no total europeu aumentar com mais significado em anos recentes.
A boa performance em muito se deve a uma aposta proativa dos players empresariais na intensificação do foco na internacionalização e no aumento da criação de valor enquanto fatores chave de competitividade, cada vez mais requisitos obrigatórios para a garantia da sustentabilidade de longo prazo.
Não obstante esta realidade, subsistem importantes desafios à internacionalização da Economia do Mar no nosso país, os quais devem ser abordados de forma incisiva e eficaz, sobretudo se Portugal ambicionar atingir um estatuto de player de referência mundial no futuro.
A dificuldade na captação de financiamento e de atração de capital estrangeiro, a reduzida escala e dimensão das empresas nacionais e a falta de recursos humanos especializados são algumas das principais limitações à internacionalização. A estes juntam-se também fatores como a necessidade de reforçar a criação de valor, modernização e incorporação tecnológica em alguns setores, a forte concorrência internacional e pressão para redução de preços e de margens, bem como o aumento dos custos de exploração. Fatores como o reforço das dinâmicas cooperativas e de eficiência coletiva, inclusivamente ao nível da comunicação da “marca país” e do reforço da diferenciação dos produtos nacionais na mente dos consumidores internacionais, também são aspetos relevantes a considerar.
A estes desafios juntam-se outros de natureza mais transversal a todos os países, mas que têm um impacto igualmente significativo na Economia do Mar nacional, como as dificuldades inerentes ao desenvolvimento de atividades económicas num ambiente não-terrestre, as alterações climáticas e o seu impacto nos ecossistemas marinhos e costeiros e respetivos recursos e a necessidade de garantir a sustentabilidade desses mesmos ecossistemas, compatibilizando-a com as atividades económicas.
Não obstante os desafios, Portugal tem importantes valências a potenciar nos seus esforços de internacionalização, como o know-how acumulado, a capacidade de I&D e inovação, a sua Zona Económica Exclusiva (ZEE), a sua posição geoestratégica e a sua crescente presença internacional, combinada com um “estatuto” histórico internacionalmente reconhecido de nação marítima.
Estas valências são um importante ponto de partida para a afirmação internacional, não só em atividades tradicionais (como o turismo ou a indústria conserveira), mas também em atividades emergentes como a produção de energia renovável ou a biotecnologia, oportunidades excelentes para Portugal capitalizar a sua capacidade de I&D e de inovação e de se afirmar em áreas de elevado valor acrescentado, ganhando competitividade internacional e reforçando a sua atratividade para consumidores e investidores estrangeiros.
O projeto Ocean.pt, promovido pela AIP - Associação Industrial Portuguesa, com o apoio do COMPETE 2020 e a EY-Parthenon como knowledge partner, constitui um importante instrumento de apoio a esta tão necessária (re)afirmação da internacionalização da Economia do Mar do país. O PRR e o PT2030 constituirão igualmente uma importante alavanca para o efeito.