É importante as empresas olharem para a transformação digital com uma oportunidade e pensarem em como a embeber na sua estratégia, repensando os seus modelos operacionais, aplicacionais e de recursos humanos.
Estamos diariamente a experienciar uma acelerada transformação de natureza digital com a emergência de vários novos paradigmas que são já uma realidade nas nossas actividades quotidianas. Os exemplos são muitos, quer a nível individual, quer a nível empresarial, pelo que me irei cingir a apenas alguns deles que servirão de contextualização ao leitor.
A nível individual, todos nós temos a noção que temos vindo a “digitalizar” os nossos hábitos de forma constante. Imagino que quase a totalidade dos leitores tenham uma conta de e-mail pessoal offshore como o Gmail, ou uma conta no NetFlix para ver uma série em família na sexta-feira à noite, ou no iCloud para guardar as fotografias que o armazenamento do telemóvel já não permite. Se observarmos as novas gerações, o digital é nativo e a educação digital é natural. Os adolescentes actuais são uma geração digital e interagem com o mundo utilizando simultaneamente vários dispositivos e aplicações.
Ao nível do mundo empresarial, comecemos pela computação em nuvem, que é talvez um dos novos paradigmas mais disruptivos, já que permite a entrega de serviços computacionais – incluindo servidores, armazenamento de dados, bases de dados, software e aplicações – sobre a internet (a dita “nuvem”). Neste modelo pagamos apenas pelos serviços que utilizamos, o que permite reduzir custos operacionais, gerir a infraestrutura de forma eficiente e escalar à medida do crescimento ou de algum outro imperativo do negócio.
Este paradigma em Moçambique tem vários desafios, nomeadamente a nível do acesso às infraestruturas na nuvem de forma permanente por dificuldades de latência e de largura de banda, mas também a nível regulatório já que se terá de definir o quadro legal de base à semelhança do que aconteceu noutros países.
Outro importante paradigma emergente prende-se com o desenvolvimento e implementação de soluções digitais que contribuem para o aumento de eficiência operacional e do desempenho das organizações. Estas soluções podem passar por permitir a monitoria remota de operações, introduzir aplicações mobile e de recolha de dados em tempo real para tomada de decisão e pela automatização de processos utilizando soluções de robótica, entre outras. Muitas destas soluções embebem cada vez mais algoritmos de Inteligência Artificial e são já elementos disruptivos de transformação em diversos setores. Quando o leitor ligar para um call center nos próximos tempos, é muito provavel que quem interaja consigo seja um aplicação bot e não um humano … e garanto-lhe que não vai conseguir diferenciar a experiencia.
Moçambique tem aqui o grande desafio de capacitação e formação dos quadros nestes novos paradimas, quer a nivel das empresas, quer actuando a nivel dos curriculos universitários e de formação profissional. A composição da força de trabalho, a coordenação entre departamentos, a capacidade de mudar de maneira oportuna, a falta de trabalhadores com as capacidades certas e o desafio de formar trabalhadores para o uso de novas tecnologias são barreiras amplamente reconhecidas à adopção de processos digitais.
Para superar os desafios impostos por estes novos paradigmas, as empresas precisam de ter lideranças flexíveis, dinâmicas e inovadoras. Os líderes precisam não só de ter uma visão de futuro, bem como de partilhar essa mesma visão com as suas equipas, transmitindo o optimismo sobre o futuro e sobre o caminho a ser seguido.
De salientar que entidades Multilaterais, como por exemplo o Banco Mundial através do “Digital Governance and Economy Project“, lançaram iniciativas estruturantes que visam melhoram as capacidades de cyberseguranca, de infraestrutura e conectividade digital em Moçambique, e que servirão certamente para catalisar esta agenda digital no País.
É importante as empresas, quer as grandes empresas como as PME, olharem para a transformação digital com uma oportunidade e pensarem em como a embeber na sua estratégia, repensando os seus modelos operacionais, aplicacionais e de recursos humanos
A adopção destas tecnologias pode ser equacionada em vagas progressivas, acompanhando a evolução da regulação e a mitigação do risco associado. Mas é bom que estejamos todos conscientes que é um fenómeno irrevogável e que quanto mais cedo o endereçarmos melhor.
A nível da EY, temos estado muito atentos e contribuído activamente nos últimos anos para a dinamização da agenda digital em Moçambique. Um do projectos de que tenho particular orgulho foi a criação de um de um centro de excelência tecnológico para servir, desde Moçambique, clientes em várias geografias. Este centro, capacita jovens Moçambicanos nestes novos paradigmas e integra-os em equipas que desenvolvem soluções digitais de automação inteligente, inteligência artificial, cibersegurança e analítica de dados. É um orgulho poder ver estes jovens a exportar talento e a conseguirem trabalhar de igual para igual com colegas de outras nacionalidades, para clientes sofisticados e que abraçam no seu DNA todos estes conceitos de transformação digital.
O esforço terá que ser conjunto do Governo de Moçambique, de multilaterais, do tecido privado e de investidores institucionais para tornar viáveis os projectos de infra-estruturas existentes e aumentar a velocidade de implementação de programas de transformação digital.
Por vezes basta cada um de nós mover o ponteiro dentro das suas capacidades e lembrar-se da máxima apresentada pelo Presidente Obama … “Yes we can”. Se a atitude dos vários agentes envolvidos for esta, e se conseguirem endereçar os desafios aqui enumerados, que passam pela capacitação dos quadros nestes novos paradigmas, pela implementação de uma regulação bem estruturada e pela existência de infraestrutura TIC de suporte, a transformação digital pode tornar-se um aliado poderoso para atingir um desenvolvimento sustentável do País e, quem sabe, tornar Moçambique um Hub Digital da Região.