A computação em nuvem (“Cloud Computing”) configura-se como uma alavanca disruptiva no modelo de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) empresarial.
Adigitalização da economia veio para ficar e tem vindo a crescer de forma exponencial impulsionada pelo período pandémico. Uma das suas vertentes é a chamada computação em nuvem (“Cloud Computing”) que se configura como uma alavanca disruptiva no modelo de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) empresarial.
Pretendo com este artigo fazer uma reflexão sobre as suas vantagens e desvantagens e quais as oportunidades e desafios no contexto Africano e, em particular, no contexto Moçambicano.
Mas comecemos por tentar de definir o conceito. De forma simples, a computação em nuvem é a entrega de serviços computacionais – incluindo servidores, armazenamento de dados, bases de dados, software e aplicações – sobre a internet (a dita “nuvem”). Tipicamente pagamos apenas pelos serviços que utilizamos, o que permite reduzir custos operacionais, gerir a infraestrutura de forma eficiente e escalar à medida do crescimento ou de algum outro imperativo do negócio.
Reparem que todos nós, a título individual, temos há muito usado serviços na dita nuvem. De facto, imagino que quase a totalidade dos leitores tenham uma conta de e-mail pessoal offshore como o Gmail, ou uma conta no NetFlix para ver uma série em família na sexta-feira à noite, ou no iCloud para guardar as fotografias que o armazenamento do telemóvel já não permite.
A nível empresarial o tema toma outros contornos e, armazenar dados fora do perímetro de uma companhia, ainda é visto como algo não natural ou algo não facilmente acessível, em especial para os decisores no continente Africano.
As vantagens inerentes à adopção de serviços na nuvem são evidentes: é possível escalar a capacidade à medida das necessidades e das flutuações no negócio, isto permite uma eficiência de custos uma vez que apenas se pagam os serviços subscritos, o staff de IT tem maior produtividade ao poder focar-se em tarefas de maior valor acrescentado e nas aplicações core ao negócio e, por fim, ter-se-á um aumento da disponibilidade e performance da infraestrutura que será gerida por especialistas qualificados e seguindo sempre as melhores práticas internacionais.
Existem, no entanto, uma série de desafios à adopção de serviços de cloud empresarias. O primeiro dos quais está associado à falta de regulação dos mesmos em várias geografias, nas quais se inclui Africa e, em particular, Moçambique. Este vazio regulatório, a nível nacional ou sectorial, é um importante inibidor deste tipo de infraestruturas que tem levado as empresas a continuarem a apostar nas suas infraestruturas próprias locais.
A segurança dos dados e a largura de banda da infraestrutura de rede são outros dois inibidores importantes.
A questão de segurança de dados é em muito mitigada pela utilização de standards de última geração pelos principais fornecedores tendo, obviamente, que ser mantidos os procedimentos necessários pelas empresas para minimizar ataques e reduzir vulnerabilidades.
Quanto à largura de banda das infraestruturas, é de salientar que esta duplicou em poucos anos no continente Africano, pelo que as empresas e governos podem cada vez mais confiar em tecnologias na nuvem e tomar partido dos seus vários benefícios.
De facto, tem-se visto uma vaga de investimentos em centros de dados e infraestruturas TIC, originalmente centradas na Africa do Sul, mas agora com alguns casos de estudo espalhados pelo continente onde players domésticos competem com os gigantes internacionais como a Amazon e o Microsoft Azure.
Alguns destes fornecedores de serviços em nuvem têm surgido do sector das comunicações, como a Sonatel na Africa Ocidental, a TelOne no Zimbabwe e a Angola Cables em Angola, que para alem de gerir cabos de comunicação submarina, opera um centro de dados Tier I em Luanda.
A situação de Moçambique é paralela à de muitos outros países, sendo necessário criar um framework regulamentar sólido em linha com as melhores práticas internacionais para permitir o acesso a serviços cloud empresarias de forma consistente. De salientar que entidades Multilaterais, como por exemplo o Banco Mundial através do “Digital Governance and Economy Project“, lançaram iniciativas estruturantes que visam melhoram as capacidades de cyberseguranca, de infraestrutura e conectividade digital em Moçambique, e que servirão certamente para catalisar esta agenda no País.
É importante as empresas, quer as grandes empresas como as PME, olharem para os serviços cloud com uma oportunidade e pensarem em como os embeber na sua estratégia, repensando os seus modelos operacionais, aplicacionais e de recursos humanos.
Em súmula, a computação na nuvem permite a entrega de capacidades sofisticadas de tecnologias de informação sobre a internet e terá um papel crucial nas agendas de inovação e eficiência.
O que é especialmente interessante acerca deste fenómeno é que as empresas não necessitam de deter a sua infraestrutura ou centros de dados. Em vez disso, podem alugar o acesso a capacidade de armazenamento ou a aplicações e reduzir os custos operacionais e de investimento actualmente necessários para contruir e manter as suas infraestruturas próprias.
A adopção destas tecnologias pode ser equacionada em vagas progressivas, acompanhando a evolução da regulação e a mitigação do risco associado. Mas é bom que estejamos todos conscientes que é um fenómeno irrevogável e que quanto mais cedo o estudarmos melhor.
Se os Países Africanos, e em particular Moçambique, conseguirem endereçar bem os desafios aqui enumerados, que passam pela implementação de uma regulação bem estruturada e pela existência de infraestrutura TIC de suporte, a computação na nuvem pode tornar-se um aliado poderoso para atingir um desenvolvimento sustentável e, quem sabe, tornar Moçambique um Hub Digital da Região.