A transição energética em Moçambique é um tema de relevância crescente, não apenas para a criação de desenvolvimento sustentável do país, mas também como componente estratégica na geopolítica regional e global.
A transição energética em Moçambique é um tema de relevância crescente, não apenas para a criação de desenvolvimento sustentável do país, mas também como componente estratégica na geopolítica regional e global.
A descoberta de vastas reservas de gás natural em Cabo Delgado colocou Moçambique no mapa como um dos principais players no mercado global de gás encontrando-se assim o país, numa fase de transição entre a exploração dos recursos fósseis e a identificação e o desenvolvimento do potencial das energias renováveis.
No que se refere às energias renováveis, Moçambique apresenta também um enorme potencial destacando-se na África Subsaariana, devido à sua posição geográfica. A energia solar é particularmente promissora, dado que Moçambique recebe uma média anual de cerca de 2.500 horas de sol. A energia eólica também tem um grande potencial, especialmente ao longo da extensa linha costeira do país. E, não menos importante é a energia hidroeléctrica, a qual já desempenha um papel significativo, nomeadamente com a barragem de Cahora Bassa, uma das maiores de África, que em 2023, produziu mais de 16.000 GW/h.
Esta transição energética é influenciada por diversos factores, sendo um deles o ambiente social e demográfico. No caso de Moçambique, uma população jovem e em crescimento pode impulsionar a procura por energia e, ao mesmo tempo, fornecer uma força de trabalho dinâmica para a indústria de energias renováveis. Desta forma, a aposta nas infraestruturas e no melhoramento da educação alinhado à expansão dos projetos de gás e de energias renováveis, poderá trazer um crescimento sustentável que aumentará os níveis de riqueza.
Outro factor relevante é a obtenção de capital para a implementação dessa mesma transição energética. Para atrair investimento estrangeiro, Moçambique deve continuar a garantir um ambiente político e regulatório estável e que continue a transmitir confiança, que inclua a gestão dos recursos de gás de forma transparente e responsável, alinhadas com a política global de transição energética, desenvolvendo políticas que incentivem as energias renováveis. Esta diversificação da matriz energética pode tornar o país mais atraente para investidores preocupados com a sustentabilidade e a resiliência energética.
Para além do investimento estrangeiro, existem financiamentos aprovados a nível global. Em 2022, o G7 comprometeu-se publicamente em investir 600 Mil milhões de USD até 2030 em infra-estruturas. Com o compromisso de: i) aumentar as infra-estruturas e permitir o acesso ao financiamento; ii) dar suporte na gestão eficaz de minerais críticos para a transição energética; iii) expandir o acesso à energia e apoiar a utilização produtiva da energia; iv) reforçar os quadros e capacidades institucionais e; v) Ajudar a acelerar e reforçar o desenvolvimento sustentável e resiliente em África. Também o Banco Africano de Investimento e o Banco Mundial, disponibilizam diversas linhas de crédito para projectos de investimento no sector. É importante referir que esses compromissos assumidos a nível Global com a transição energética, bem como as necessidades das instituições financeiras internacionais de cumprirem rácios significativos em investimentos sustentáveis, tornam os investimentos em energias renováveis em África, bastante atractivos, tanto pela reduzida pegada carbónica (quando comparada com investimentos em energia de fontes fósseis) como pelo impacto positivo nas populações.
Todos estes factores representam oportunidades para os agentes económicos em Moçambique, seja no Sector Público como no Sector Privado que beneficiarão da criação de um Ambiente Económico propício ao investimento externo através de estratégias de mitigação de riscos, como por exemplo: i) desenvolvimento de um quadro legislativo e regulamentar duradouro favorável aos investidores; ii) desenvolvimento de parcerias público-privadas; e iii) celebração acordos de implementação entre as empresas de projecto e o Governo
Em suma, podemos verificar que Moçambique se encontra numa posição de elevado destaque no que se refere à transição energética, decorrente da sua posição geográfica e recursos naturais disponíveis que, se utilizados de forma sustentável, poderão tornar o país num dos maiores produtores de energias renováveis a nível mundial. Para alcançar esta meta, é necessário equilibrar todos os diferentes factores, acima mencionados, para tornar Moçambique num país atractivo para a captação de investimento estrangeiro enquadrado numa estratégia de longo prazo para a implementação dos diversos projetos que fazem parte da transição energética, colocando assim o país como uma componente estratégica a nível global, nesta transição, e contribuindo de forma determinante para o crescimento sustentável do país.
artigo escrito por Mafalda Baião, EY Assurance Manager e Andre Afonso, EY Assurance Partner Energy Sector