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A consolidação empresarial é essencial para enfrentar o problema da baixa produtividade

As micro e pequenas empresas têm um papel fundamental nas economias, mas é com a aposta no aumento da importância de médias, grandes e muito grandes empresas que o país conseguirá resolver o problema da baixa produtividade na economia.

As micro e pequenas empresas, até 50 trabalhadores, têm um papel fundamental em qualquer economia, pela diversidade e flexibilidade que aportam na resposta às procuras espalhadas pelos territórios e pela proximidade na relação com os clientes, sobretudo locais. A esmagadora maioria das empresas ativas em qualquer país é de micro e pequena dimensão, mas o peso do valor acrescentado bruto (VAB) que geram varia consideravelmente de país para país.

Em 2018, cerca de 95% das empresas em Portugal tinham menos de 10 trabalhadores e outros 4% tinham entre 10 e 49 trabalhadores, valores próximos da UE27 (93% e 6%, respetivamente). No entanto, o VAB gerado pelas médias e grandes empresas em Portugal não vai além de 52% do total, enquanto na UE27 supera os 64%. Esta característica do tecido empresarial português torna-se preocupante do ponto de vista da produtividade das empresas, na medida em que a produtividade aumenta com o crescimento orgânico da empresa.

Em Portugal, em 2018, a produtividade aparente do trabalho nas microempresas foi de 15 mil euros, nas pequenas de 27 mil euros, nas médias de 34 mil euros e nas grandes de 36 mil euros. Isto significa que o potencial de crescimento económico e produtividade subjacente ao crescimento e consolidação empresarial em Portugal é significativo. Estudos disponíveis apontam impactos muito relevantes do aumento da dimensão empresarial na aceleração do crescimento do PIB.

O aumento da produtividade com o crescimento das empresas é explicado por diversos fatores intrínsecos à sua capacidade para inovar e competir com os recursos adicionais que geram. À medida que as empresas crescem: aumenta a sua capacidade para atrair talento mais qualificado; a estrutura de governance torna-se mais clara, permitindo reduzir os níveis de risco de fraude ou de má gestão; aumenta a capacidade para gerir inovação e, principalmente, de criar e valorizar direitos de propriedade intelectual gerados pelas atividades de inovação; aumenta a obtenção de economia de escala e de gama, que permitem otimizar custos operacionais e responder nos mercados internacionais com preços competitivos; aumenta a orientação exportadora; aumenta a longevidade da empresa; aumentam os efeitos de arrastamento na economia nacional, especialmente nos casos de empresas com vocação internacional e sustentadas numa cadeia de fornecimentos em que o grau de incorporação nacional é significativo. Os efeitos elencados permitem dar resposta a vários outros desafios estruturais do tecido empresarial português.

Em primeiro lugar, após ter trilhado uma trajetória virtuosa que permitiu promover um investimento crescente das atividades de I&D empresarial, Portugal precisa de aumentar significativamente a capacidade de valorização das atividades de inovação. Para além disso, mesmo no caso das grandes empresas, Portugal tem o desafio de aumentar a intensidade das despesas em I&D de 2,7% para valores mais próximos de países líder em inovação, como a Finlândia (6,9%), a Alemanha (6,8%) ou a Suécia (7,4%).

Em segundo lugar, Portugal tem que ganhar quota nos mercados internacionais, sobretudo em setores mais intensivos em tecnologia e conhecimento. Só com o aumento do peso das médias e grandes empresas isso será possível. Com efeito, apenas 13% das pequenas empresas têm uma orientação exportadora superior a 25%, mas mais de 30% das médias e grandes empresas superam esse patamar.

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Em terceiro lugar, Portugal precisa de conseguir reter e atrair talento qualificado através da oferta de condições de trabalho atrativas (incluindo salários). Os custos com pessoal por pessoa nas médias empresas em Portugal são 20% superiores face aos das pequenas empresas, sendo ligeiramente superiores nas grandes empresas.

Em quarto lugar, as empresas portuguesas têm que aumentar a sua robustez financeira através de uma maior capacidade de diversificação das fontes de financiamento e de uma maior capitalização. Apesar do progresso desde 2014, cerca de 28% das microempresas têm capitais próprios negativos, 9,4% no caso das pequenas empresas, 6,8% no caso das médias empresas e 5% no caso das grandes empresas. Estes resultados encontram eco na dificuldade das empresas em obter financiamento bancário. Segundo o "Survey on the access to finance of enterprises", no trimestre pré-pandemia, as restrições severas na obtenção de financiamento bancário são decrescentes ao longo dos escalões de dimensão das empresas desde 27% das microempresas até 7% nas grandes empresas.

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Olhando de forma mais profunda para cada um dos escalões de dimensão de empresa, sobressai uma outra conclusão relevante: as médias e grandes empresas nacionais são mais pequenas do que a média da UE27 e essa discrepância sente-se principalmente no segmento das grandes empresas, pois, em média, uma grande empresa portuguesa tem 835 trabalhadores, enquanto a empresa média da UE27 possui 1.134. A dimensão do mercado doméstico e/ou o grau de abertura com o exterior são dois fatores que explicam esta diferença, já que os países onde a dimensão média das grandes empresas é superior incluem a França, Alemanha, Espanha, Polónia ou Bélgica.

Não existe uma resposta milagrosa para estes desafios, mas sabemos que algumas receitas têm maior probabilidade de sucesso.

Do lado das empresas, é essencial criar espaço para a realização de exercícios de foresight estratégico que lhes permita responder de forma mais efetiva às tendências de futuro, estar nos mercados onde o potencial de crescimento e de valor são superiores e otimizar a sua estrutura de financiamento, através, por exemplo, da captação de incentivos financeiros à inovação e qualificação.

Do lado da eficiência coletiva, é essencial fortalecer as iniciativas setoriais, territoriais e/ou temáticas, como a definição e execução de Agendas para a Reindustrialização (apoiadas no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência) ou iniciativas de cooperação empresarial que atuem de forma efetiva sobre os desafios do crescimento económico, através da conjugação de esforços e propostas de ideias para a criação de um ambiente de negócios que facilite o crescimento empresarial.

Do lado da política pública, é fulcral manter uma política de competitividade e inovação robusta e não discriminatória para com as grandes empresas, através de instrumentos que promovam a interação entre empresas e as entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN) (e.g. SI I&DT em co-promoção) e entre as grandes empresas e as PME (e.g. Clube de Fornecedores),da disponibilização de linhas de financiamento de dívida e de capitalização (e.g. recente Fundo de Capitalização e Resiliência) e da competitividade fiscal.

Artigo escrito por Rui Ferreira, Manager, EY-Parthenon

Faça o download do estudo completo em "Portugal: Desafios para 2022 – 3ª edição - Parte II".

Resumo

É imperativo criar condições para o crescimento das pequenas e médias empresas, para que elas possam ganhar competitividade internacional, mas também promover o crescimento das grandes empresas, seja por vias não orgânicas, designadamente através de fusões e aquisições, ou pela via orgânica, através da entrada em novos mercados internacionais ou da criação de novas áreas de negócio.

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